Nesta edição, conversamos com João Luiz Perroni, proprietário da CHOPPERIFERIA BAR, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1984. Taquaritinguense, ou melhor, jurupemense, morou por décadas em São Paulo, onde geriu, com sucesso, os emblemáticos BEBERICANTO e SERENÔ, bares/espaços culturais frequentados por políticos, jornalistas, artistas e estudantes, trabalhadores, casais... João é um artista multifacetado, poeta, escritor, compositor, desenhista, músico. Em 1982, juntou-se aos amigos Mineiro, Mário Carvalho e Nico Rezende para gravar o LP “Conviver”, considerado pela crítica um trabalho de altíssima qualidade. | |||
De personalidade forte, é militante político de “esquerda” e ecologista convicto. Fundador do diretório municipal do PT, abandonou o radicalismo e age com independência. Apaixonado pela arte, sua Chopperiferia está sempre aberta para artistas da cidade e região expor livros, músicas, fotografias, pinturas, vídeos etc. A seguir, um pouco de João Perroni, de seu estilo único, suas opiniões incisivas, sua capacidade de transcender à linguagem comum – e seus neologismos... |
Tendência Municipal: Você é poeta, músico, compositor, desenhista. De onde vem essa versatilidade? Quais são suas fontes de inspiração?
João Perroni: “Poeta, compositor” é uma conjugada expressão na falta de parceiros disponíveis... “Músico”: No comparativo, tô longe! Sou um mero tocador de violão para precisar minhas composições e tocar algumas pérolas da MPB. “Desenhista”, não! Sou um traçante de idéias que precisam ser avivadas. “Fontes”: ver e ouvir. Sou um “voyeur” atento ao belo gratuitamente cedido pelo nosso planeta e ao triste visceral da humanidade. “Inspiração”: redundando – é como o ar que respiramos. Se faltar, acabou...
TM: Conte-nos um pouco sobre o Serenô.
João: “Serenô”: batizei e foi crismado e criado por atores, artistas plásticos, jornalistas, intelectuais, músicos e toda espécie restante da “fauna” atuante no mercado. Dali, o meu primeiro texto musical-teatral: “O catador de papéis”, apresentado em curta temporada no Tuquinha [teatro da PUC/SP]. E a minha prazerosa amizade e parceria com músicos, compositores, teatrólogos.
TM: E o Bebericanto?
João: “Bebericanto”: apenas mudou de endereço, de espaço físico. Quase toda a “prole” veio do Serenô com o novo mobiliário; outros fantásticos somaram convivência. Até que, em 1982, atrevemos o LP “Conviver”, gravado graciosamente no estúdio do Rogério Duprat – “maestroso” [Duprat foi dos principais maestros e arranjadores do Tropicalismo]. O LP, bem absorvido pela crítica, teve músicas tocadas em rádios como a USP FM, Eldorado, Cultura etc. Neste clima, escrevi o texto-musical-teatral “Independente ou morte”, apresentado no auditório “Cidade de São Paulo”, anterior “Márcia de Windsor”, por duas semanas de casa lotada. De lá pra cá, nestes 28 anos da “Chopp”, tô eu – sob a mesma direção – rodeado de personagens vivos e saudosos. Mas aí já são outras histórias...
TM: Taquaritinga possui tradição artística, gerou talentos das mais variadas vertentes. O que fazer para que essa característica seja aproveitada para fomentar a economia local?
João: Agrupar! A criação solitária precisa desabrochar, ser vista, ouvida, criticada. Nenhuma gaveta merece o peso do esquecimento. Com um agrupamento relevante e sério, apoiado por uma gestão municipal séria, as cabeças pensantes terão prazer em fluir idéias que poderão gestar economia cultural ao município.
TM: Diante da omissão do poder público na elaboração de um projeto cultural institucional para Taquaritinga, você, pessoalmente, há algumas décadas, criou um espaço próprio na “Chopperiferia”, onde foram desenvolvidas experiências extremamente valiosas, como mostras musicais, exposições etc. Fale-nos um pouco sobre isso.
João: Falar sobre o essencial artístico, literário, vívido na “Chopp”, requereria um “textão” e o meu “tesão”, no momento, declina... Receio deixar de citar personalidades sensíveis neste presente. A “Chopp” está viva, levemente ativa, mas viva! Dessa forma, não passei a limpo ainda... E como já disse aí atrás, à “Chopp” já seriam muitas outras histórias. Ah, quanto ao poder (é) público e (é) notório o meu pensar – e pesar – por ele. Portanto... Beijos e obrigado pela entrevista.