sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Entrevista: Rogério Baptistini

  Rogério Baptistini Mendes não é taquaritinguense. Não recebeu título de cidadão, nunca morou nem trabalhou aqui, não tem parentes na cidade. Nasceu em Araraquara, logo, sempre soube como é Taquaritinga. Sociólogo, mestre pela UNICAMP e doutor pela UNESP, professor e coordenador do curso de Pós-Graduação em Globalização e Cultura da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP/SP). Sãopaulino. Casado, sem filhos. Escreve em jornais, faz mediação de debates, mantém o blog http://rogerbam.wordpress.com. Na sala de aula, é onde revela seu brilhantismo. Culto, didático, expõe sua opinião de forma direta, incisiva.
Um pensador. Na intimidade, democrático, humanista, se envolve com os alunos e suas vidas. Um amigo. Autêntico, como se deve ser – e há tão poucos hoje em dia! Sincero, bem humorado, inteligente, meio amalucado... Um sujeito que poderia, sem dúvida, ter nascido em Taquaritinga!


Tendência Municipal: Existe uma “cultura caipira” a unir taquaritinguenses, araraquarenses, matonenses, jaboticabalenses, ribeirão-pretanos etc.?

Rogério Baptistini: Eu creio que existe, mas não sei bem se é uma cultura que possa ser definida como caipira, apesar de gostar da qualificação. Caipira, como sabemos, é o habitante da roça, geralmente possuidor de pouca instrução formal e modos que, aos olhos dos citadinos, são considerados rudes. E não creio que os moradores do interior do nosso Estado sejam assim. Numa origem remota, que remete às correntes de povoamento do território, isso, talvez, tenha sido válido. Hoje, não mais. A região compreendida pelas cidades de Taquaritinga, Araraquara, Matão, Jaboticabal, entre outras, é pólo dinâmico de desenvolvimento econômico, social e cultural. Possui centros universitários e de ensino técnico de ponta em relação ao restante do País, além de empresas modernas. É óbvio que o ritmo da vida é diferente do da capital, imprimindo nos comportamentos certos traços que lembram os tempos idos, do contato pessoal afetivo e prolongado, da vizinhança e do jeito de viver de antigamente, mas isso está mudando. Não creio, entretanto, que a tendência aponte para a individuação e o isolamento típico das metrópoles. É preciso aguardar. De qualquer forma, o jeito de viver e de falar do povo da região é atraente e nos faz pensar nas possibilidades de uma vida mais plena e feliz em relação aos nossos companheiros humanos, ainda que o sotaque possa causar alguma estranheza, sobretudo em função da herança do dialeto do caipira, formada no contexto da imigração do início do século XX.

TM: Como somos, os brasileiros?

Baptistini: Ao contrário de certo pensamento conservador, cuja origem remonta ao século XIX, somos um povo vitorioso. Fizemos, num curto espaço de tempo, em cerca de 40 anos, um país novo, moderno, urbano e industrial. As diferenças regionais e sociais, contudo, saltam aos olhos, mas não podem ser creditadas ao caráter do povo, a uma possível indolência devida à composição étnica, ou o que quer que seja. Concordo com as análises de Raymundo Faoro, autor do clássico “Os donos do poder”. O nosso problema é o “andar de cima”, o estamento político, desprovido de compromisso com o destino dos seus concidadãos. Infelizmente, ainda hoje, creio que os brasileiros, homens formados numa longa trajetória de trabalho intenso para dominar um território estranho e hostil e fazer dele uma sociedade civilizada, padecem os maus governos. Não fosse isso, estaríamos em melhor situação.

TM: A Cultura será globalizada?

Baptistini: A cultura está globalizada, mas isso não significa que ela seja a mesma em toda a parte, alcançando todos os homens da mesma forma. Os avanços nas técnicas, sobretudo no nível das comunicações, com os satélites, a internet, a TV a cabo, os celulares, aproximou as pessoas e gerou novas formas de interação, padronizando certos comportamentos e costumes. A globalização dos mercados em termos de produção e consumo também concorre para isso. Acontece, porém, que as bases sobre as quais esses processos se assentam é diversa, vária, e implica em formas particulares de assimilação do que é global, gerando padrões híbridos. Um jeito próprio de viver o contemporâneo em cada parte. Em certo sentido, a riqueza das culturas produzidas pelo homem permanece. Transformada, é óbvio, mas gerando frutos típicos e mostrando que não somos autômatos, mas homens, com experiências e costumes particulares, capazes de inovação, mas sem deixar morrer as raízes tradicionais. Um exemplo disso, talvez seja a moda de viola, que sobrevive animando o bate-papo entre amigos já não mais caipiras, mas empresários modernos, conectados ao mundo.

TM: Que papel a História guarda para o Brasil?

Baptistini: O Brasil é uma jovem nação, formada graças à contribuição de povos diversos. Estes foram capazes de se constituir como uma única gente, como brasileiros. O seu trabalho constante e os seus sonhos nos animam e mostram ao mundo que é possível construir um destino comum, em que pese as diferenças de cor da pele, lugar, religião. Se conseguirmos mudar o cenário político e fazer do Brasil uma verdadeira República, acredito que a utopia de Darcy Ribeiro se concretize e nos tornemos, de fato, uma grande nação de um povo rico e feliz.

TM: Aconselharia um jovem estudante a cursar Sociologia?

Baptistini: Esta é uma pergunta difícil. Eu sou sociólogo e hoje, aos 45 anos, estou feliz com a minha escolha de juventude. Para o jovem eu diria, sem medo de cair no lugar comum, que escolha o seu caminho. Ele não é definitivo quando se tem 17, 18 anos, mas pode vir a ser. Aos 40, ele ainda não é definitivo. É sempre possível mudar, fazer outros planos. Basta viver.

sábado, 19 de novembro de 2011

Entrevista: Ico Pagliuso

  Entrevistamos Pascoal José Giglio Pagliuso, o Ico Pagliuso. Filho do engenheiro Alfredo Pagliuso e da bióloga e professora Dona Zezé, casado com a analista de sistema Priscila Basso e pai da Luah, é um dos mais importantes físicos do Brasil. Graduado em Física pela Unicamp, é mestre, doutor e professor livre docente da instituição. Concluiu pós-doutorado no Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA, centro de excelência que passou para a história por ter desenvolvido o Projeto Manhantan, codinome para a construção das primeiras bombas atômicas, lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki para por fim à Segunda Guerra.
Desde criança, se destaca nos estudos, mostrando uma inteligência incomum. Destacou-se, também, na música, como virtuoso baixista da banda de rock Decreto-Lei, que fez sucesso nos anos 1990. Intelectual da mais alta estirpe, profere palestras e conferências nas melhores universidades do mundo, sempre a viajar por EUA, Canadá, Europa. Encontra-se no momento nos Estados Unidos, dando sequência às suas pesquisas na Universidade da Califórnia (campus de Irvine). O mais importante, contudo, é que mantém uma humildade exemplar. Encontramos um espaço em sua atribulada agenda para apresentar aos nossos leitores-internautas este agradável bate-papo.


Tendência Municipal: Você construiu uma carreira acadêmica sem precedente na história de Taquaritinga. Aos 37 anos, se tornou um dos mais jovens Livre Docentes da Unicamp, uma das melhores universidades do País. Nos fale dessa trajetória.

Ico Pagliuso: Na verdade, é uma trajetória comum a muitos dos meus colegas da Unicamp, da USP e de outras universidades de renome internacional. Foi baseada em muita dedicação, noites em claro no laboratório e amparada pela excelência do corpo docente e da infraestrutura de pesquisa da Unicamp.

TM: Como foi sua estada nos EUA, no "mítico" Laboratório Nacional de Los Alamos?

Ico: Foi extremamente gratificante tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Os conhecimentos adquiridos naquele período no desenvolvimento de novos materiais permitiram que o meu grupo na Unicamp se tornasse complemetamente independente, adquirindo liderança autônoma de prestígio internacional nessa área. Pessoalmente, é suficiente dizer que minha única filha nasceu lá.

TM: A pergunta inevitável: qual sua opinião sobre as bombas atômicas lançadas na Segunda Guerra e sobre as armas nucleares em geral?

Ico: Não creio que alguém possa ser deliberadamente favorável ao uso de armas nucleares. Como cientistas, é nosso dever analisar criticamente as possíveis consequências de nossas pesquisas. O próprio Oppenheimer, líder do Projeto Manhantan, viveu amargurado após testemunhar as consequências hediondas de sua pesquisa. Historicamente, é preciso lembrar, sem intenção de justificar, que os cientistas do Projeto Manhantan trabalhavam sob a impressão de que os nazistas estavam perto de controlar a energia nuclear e de produzir bomba atômica a qualquer momento.

TM: O Brasil alcançou papel de destaque na geopolítica internacional, mas, paradoxalmente, nenhuma de nossas universidades consta entre as melhores do mundo. Por quê?

Ico: Na minha opinião, pela própria dimensão territorial e populacional do Brasil, a sua maior inserção geopolítica internacional é uma consequência natural, na medida em que o País vai alcançando um desenvolvimento sustentável. Já o destaque científico-acadêmico é consequência direta do mérito. Assim, para se melhorar nessa direção é preciso muito investimento na excelência da formação acadêmica e na produção de ciência e tecnologia. Isso começa com a melhoria da educação fundamental e se concretiza na excelência acadêmica das universisades com pesquisa de ponta. Isoladamente, o Brasil conseguiu atingir esse patamar em algumas áreas. O próprio reconhecimento internacional do nosso grupo de pesquisa na Unicamp é um singelo exemplo disso.

TM: Quais seus projetos atuais, agora que retornou aos EUA?

Ico: Estou como pesquisador convidado na Universidade da Califórnia, na cidade de Irvine, em colaboração com o grupo do Professor Zachary Fisk, buscando a amplicação da nossa colaboração na produção de novos materias supercondutores.

TM: Física e música combinam? Que tipo de música escuta no dia-a-dia, continua roqueiro?

Ico: A Música é uma consequência direta das leis da Física. A Harmonia acontece quando comprimentos de ondas específicos são combinados adequadamente. Sempre uso exemplos sobre música nas minhas aulas. Também mostro fotos do Decreto-Lei em aulas e palestras. As pessoas acham graça quando associam o "baixista cabeludo" com o "palestrante quase careca"... Honestamente, continuo ouvindo as mesmas bandas de sempre: Iron Maiden, Led Zeppelin, Metallica, Deep Purple, Ozzy Osborne... Em relação ao último, dias atrás eu fui à livraria Barnes&Noble, em Huntington Beach, Califórnia, para pegar o autógrafo dele no meu exemplar do seu último livro "Trust me: I am Dr. Ozzy". Leitura que eu recomendo. É hilário!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Entrevista: Neide Salvagni

  A entrevistada desta edição é a DIRIGENTE REGIONAL DE ENSINO Neide Ramos Salvagni. Viúva de Estevam Salvagni, mãe da Ana Maria, do Savério e da Cacá, avó da Laura, do Augusto, da Ariadne e da Luíza. A política sempre a acompanhou: foi vereadora, cargo antes ocupado por seu marido Estevam; o sogro, Ernesto Salvagni, foi prefeito e deputado; o cunhado Sérgio, vereador e prefeito. Vice-presidente do PSDB local, destaca-se como importante liderança feminina, pré-candidata a prefeita em 2012. Ao lado da Educação e da política, tem paixão pela arte, em especial a música.
Cantora amadora, afinadíssima, já se apresentou, com a filha Ana Salvagni, no renomado programa Sr. Brasil, da TV Cultura, quando recebeu elogios do apresentador Rolando Boldrin. Organiza concorridos “saraus” em sua casa, com a presença de talentosos artistas-amigos e de seletos amigos-ouvintes. Com a cordialidade de sempre, concedeu-nos essa agradável entrevista.


Tendência Municipal: Qual a função e a abrangência da Diretoria Regional de Ensino sob seu comando?

Neide Salvagni: Há dezesseis anos ocupo o cargo de Dirigente Regional de Ensino, o que muito me honra por merecer a confiança do governo do Estado. Nossa Diretoria tem se destacado por conseguir excelentes resultados, o que atribuo ao trabalho competente e ao comprometimento de minha equipe. Nossa jurisdição abrange 11 municípios e a principal função da Diretoria é a de implementar a política educacional da Secretaria de Estado da Educação, garantindo o acesso e permanência dos nossos alunos e uma educação de qualidade a todos.

TM: Que avaliação faz das Administrações federal, estadual e municipal especificamente sobre Educação e Cultura?

Neide: Não votei na Dilma, mas hoje reconheço sua determinação e firmeza nas decisões, mesmo em face às pressões advindas de compromissos assumidos em campanha. Considere-se o último episódio envolvendo o ministro Orlando Silva. Quanto à administração estadual, sou suspeita para opinar sobre o governador, visto que participo de seu governo pela segunda vez e o admiro pela seriedade e honestidade com que trata os assuntos públicos. A administração municipal vem se pautando pela política de priorização na solução dos problemas mais emergenciais, uma vez que o orçamento não possibilita o atendimento a todas as demandas, e o prefeito, que é meu amigo de longa data, tem honrado os compromissos da administração.

TM: Qual sua relação com a música? E como foi cantar num importante programa de TV, mesmo não sendo uma “profissional” no assunto?

Neide: Tenho a impressão de que nasci cantando. Ao invés de choro, meu primeiro som emitido deve ter sido um lindo sol maior! Na verdade, sempre vivi em meio musical. Meu pai, Eutimo Ramos, foi seresteiro, tocava violão e interpretava as canções de uma forma muito própria. Estevam, meu marido, tocava de ouvido piano e acordeon, e minha sogra Dona Zilda foi exímia pianista. Hoje, minha filha Ana Salvagni eterniza essa herança musical fazendo um trabalho delicado e muito bem cuidado, uma importante contribuição para a música brasileira. Cantar no “Sr. Brasil” foi uma bela experiência. Primeiro pela alegria de cantar com a minha filha uma música que aprendi com meu pai, de geração a geração, e depois porque fomos acompanhadas pelo melhor violeiro brasileiro, meu genro Paulo Freire. Já conhecia o [Rolando] Boldrin e só fiz constatar o talento e a performance deste artista incrível.

TM: De modo geral, isto é, independente do partido, a eleição da presidenta Dilma Rousseff incentivou a participação da mulher na política municipal?

Neide: Sim, sem dúvida alguma. A ascensão de uma mulher à presidência da República foi estimulante e é a nossa grande chance de provarmos que podemos ser excelentes gestoras e, em alguns aspectos, até mais perspicazes que os homens. Torço pelo sucesso da Dilma.

TM: Caso se confirme sua candidatura à prefeita, quais seus principais projetos para a cidade? Pretende firmar coligações e com quais partidos?

Neide: Impossível aqui, em poucas linhas, expressar todos os meus anseios e expectativas para Taquaritinga. Estou convicta de que a elaboração de um plano de ações para a minha cidade deve visar, antes de tudo, ao bem estar das pessoas. Quanto mais e melhor proporcionar qualidade de vida, mais assertivo será meu planejamento. Partindo dessa premissa, minha prioridade será sempre a Educação. Garantir que nossas crianças tenham direito a boas creches e escolas, boa merenda e, sobretudo, à boa formação em seu sentido mais amplo será o maior legado que deixarei aos meus conterrâneos. Paralelamente a isso – e não menos importante – será o bom atendimento à saúde. Todos os cidadãos merecem receber atendimento, mas principalmente aos mais carentes será assegurado medicamento e pronto atendimento. E que esse atendimento seja eficaz e humano. Humanizar as relações em todo e qualquer atendimento público, será a minha lei. Ampliar a oferta de trabalho, através de incentivo ao nosso comércio e nossas empresas, e buscar novos empreendimentos; assegurar que nossa população esteja tranquila quanto à segurança pública; investir recursos para oferecer opções culturais à nossa juventude; prover a população de um mínimo de entretenimento, tendo um centro cultual com teatro e cinema, são algumas das minhas principais metas. Caso se confirme minha candidatura, espero, é claro, contar com apoios. Todos os apoios serão importantes e bem-vindos se o intuito for o mesmo: levar Taquaritinga a uma culminância nunca antes alcançada.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entrevista: Guto Santaella

  Nosso entrevistado é José Augusto Santaella, o Guto. Nasceu em Taquaritinga em 1969, casado com a Cristiane Pilon, pai da Nicole, da Núbia e do Enrico. Aficionado pelo mundo da eletroeletrônica desde criança, dos pioneiros a se enveredar pelos incipientes caminhos da informática – nos anos 1980, já dominava a tecnologia da época. Mudou-se para Ribeirão Preto e, com 15 anos, começou a trabalhar no ramo, “consertando” todo tipo de equipamento: aparelho de som, vídeo-cassete, televisores etc. Apaixonado por música, toca violão, guitarra e bateria. Na adolescência, foi baterista de uma sofisticada banda de rock ribeirão-pretana, a “Orchidea”, que se apresentou, com sucesso, em vários festivais.
Formou-se, primeiro, Técnico em Eletrônica pelo colégio técnico da UNAERP e, depois, graduou-se em Engenharia Mecatrônica pela Unianhanguera de Matão, onde reside e mantém a empresa Brasil-Drones, especializada em alta tecnologia. É mais um exemplo aos jovens de Taquaritinga por sua força de vontade, lisura, competência e cordialidade. Nesse bate-papo, expôs seus projetos, relembrou suas histórias, falou sobre tecnologia, música, Ribeirão, Matão e Taquaritinga.


Tendência Municipal: Fale-nos do mais recente projeto desenvolvido por sua empresa, o VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado.

José Augusto Santaella: Sempre estive envolvido no meio tecnológico. Há um ano, já com alguma credibilidade no meio acadêmico e de máquinas, fui procurado pelo engenheiro agrônomo gaúcho – e doutorando – Ademir Wendling, que me fez uma consulta sobre uma aeronave que tinha visto em teste na Argentina. Sem conhecer a aeronave, descrevi todo seu funcionamento, daí ele me perguntou: “Você faz uma dessas pra mim?”. E eu, para não perder a “fama”, disse: “Sim, sem problemas...”. Aprofundei-me no estudo e aplicações dos Veículos Aéreos Não Tripulados e, no mesmo momento, vislumbrei meu futuro nessa tecnologia. Finalmente, com a ajuda de outros engenheiros que também “não dizem não” a um bom desafio, conseguimos uma plataforma básica para desenvolvimento de VANTs por entusiastas ou acadêmicos. A tecnologia que empregamos é fiel a todos os conceitos desses aparelhos. O que tento fazer é fomentar esse mercado, buscar novos talentos para somarmos os conhecimentos adquiridos. Essa tecnologia é de extrema importância ao Brasil, dada nossas vastas fronteiras. Nossa presidenta Dilma tem o tema na ponta da língua! O assunto é praticamente desconhecido do público em geral, que só se lembra dos VANTs norte-americanos “bombardeando o Iraque e o Afeganistão” e pode pensar que se trata só de uma arma. Pelo contrário! Sou um pacifista, em minha mente, os vejo sendo usados na agricultura (fotos aéreas e outros sensores), monitoramento de florestas e rodovias, combate ao tráfico de drogas (são praticamente invisíveis em vôo), TV, cinema, geração de energia (sim, VANTs podem ter essa finalidade!). Esses “robôs voadores” têm muito a oferecer à sociedade.

TM: Você mantém relação com a eletroeletrônica desde criança. Como descreve o desenvolvimento tecnológico brasileiro dos anos 1980 até os dias atuais?

Guto: Não posso deixa de citar: venho de uma geração que estava fadada a uma política equivocada, que foi muito maléfica ao desenvolvimento do Brasil e de brasileiros como eu, ávidos por conhecimento. Me refiro à “Reserva de Mercado da Informática”, instituída por volta de 1984, que se findou só em 1991, um verdadeiro flagelo tecnológico. Consegui driblar esse “limitante” com o trabalho, tive meu primeiro computador em 1985, um TRS-80; em 1987 já trabalhava com informática, me concentrava no hardware. Nessa época, aconteceu a única pirataria a que fui favorável: via importação ilegal, tive contato com o que havia de melhor no mercado, o IBM PC. Nos anos 90, com o fim da reserva, é que realmente podemos dizer que o Brasil apareceu para o mundo da informática. Empresas ligadas ao antigo modelo simplesmente sumiram e milhares de brasileiros talentosos apareceram – e brilham – a cada cidade, inclusive em Taquaritinga. Já nos dia atuais, volto a me frustrar um pouco, pois, agora, é o mercado mundial que parece sofrer algum tipo de “reserva”. Quem me conhece sabe que eu dizia que “usar mouse e teclado” estava com os “dias contatos” e que o usuário “falar” com o computador e ele executar, era o mínimo que teria que fazer. Mas isso ainda não ocorreu. Se você vasculhar suas caixas no porão e encontrar aquele “disquete” de 3,5 polegadas, inseri-lo no seu PC novinho em folha, vai entender o que digo ao ver que roda normalmente! É o poder econômico acima da ciência, não tenho outra explicação.

TM: Em sua opinião, de que forma uma administração municipal pode contribuir para o avanço da Ciência e Tecnologia?

Guto: Penso que nesse aspecto, se nossa Taquaritinga deseja ser bem vista, tem que ter como prioridade duas coisas: Educação de qualidade e professores valorizados – e não se tem uma sem a outra! Deve estabelecer uma política que incentive as feiras de ciências em todas as unidades escolares, públicas e privadas. Desde criança, a ciência está presente, de forma latente, no homem, o seu despertar pode vir de várias formas; nas crianças estão engenheiros, arquitetos, pesquisadores, doutores, em estado bruto... É dever do município revelar e SEGURAR esses talentos, pois disso depende a criação de sua “massa crítica tecnológica”. Aí sim, transformar e iluminar a sociedade e, claro, abrir novas empresas – não só desse setor, como também atrairá investimentos diversos. Tecnologia é uma excelente propaganda, um ciclo virtuoso.

TM: Matão tem tradição industrial, notadamente no ramo do agronegócio e siderurgia. Você acredita que a cidade possa evoluir para se tornar um tecnopolo, a exemplo de São Carlos?

Guto: Sim. Hoje, o número de novas empresas na cidade de Matão aumentou muito, todas utilizando máquinas de tecnologia de ponta, adquiridas com recursos do governo federal, através do BNDES. A exemplo de São Carlos, Matão já conta com uma universidade que oferece cursos de alta tecnologia, como Engenharia Mecatrônica, Mecânica e TI [Tecnologia da Informação], além de um forte ensino profissionalizante com a ETEC, que oferece cursos de Eletrônica, entre outros. Temos, também, uma unidade do SENAI, que consolida Matão como fonte de força de trabalho altamente qualificada e especificada no setor industrial.

TM: Na juventude, em Taquaritinga e Ribeirão, você empunhava seu violão e sua guitarra e se mostrou um virtuoso baterista. Conte-nos um pouco dessa experiência. Ainda se envolve com a música? E, por fim, não podia deixar de perguntar: gosta de “música eletrônica”?

Guto: Musica é uma paixão, na juventude não me conformava em ouvir, tinha que tocar! Acho que o Luisinho [Bassoli] se lembra que, em 1986, ficou uma guitarra minha no seu guarda-roupa por uma semana... (risos). Em Ribeirão, no fim do colégio, tive a sorte de conhecer três caras muito talentosos e bacanas: Ricardo, Vladimir e Moacir, que me convidaram para formar a banda “Orchidea”. Nos finais de semana, eu estava sempre em Taquaritinga, era muito requisitado para as serenatas, onde o Cecéu [Marcelo De Paula] geralmente era o vocal. Já em Ribeirão, eu era o baterista; nesse instrumento é que consegui “melhores resultados”, vamos assim dizer... E como a banda era autoral, não tocávamos músicas de “outras” bandas (não fazíamos “cover”), ali tive a mais incrível experiência musical que se pode ter, que é tocar a própria música, ver o público cantar e dançar ao seu som – isso foi muito bom, nunca me esquecerei! Se eu gosto de música eletrônica? Sim, mas a dos anos 1990, “Technotronic”, “Information Society”, “Pet Shop Boys”... (risos). Hoje, ando afastado da bateria, para sorte dos vizinhos e da Cris, minha esposa, mas o violão e as guitarras estão sempre à mão...

Brasil Drones: www.brasildrones.com.br