quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entrevista: Carlos Alberto Gonçalves




 


Nosso entrevistado de hoje é o Tenente Coronel Aviador da Força Aérea Brasileira (FAB) Carlos Alberto Gonçalves, para os amigos de infância, simplesmente o Gordo. Paulistano de nascimento, veio à Taquaritinga por causa do pai, o Norberto, gerente geral da extinta Fábricas Peixe, por muitos anos a maior indústria da cidade. Filho da Dona Lalá, irmão do Beto (médico formado pela Escola Paulista de Medicina) e do Émerson, o Bú (advogado), tem 45 anos, é casado com a Thaís e pai do Rodrigo. Por aqui fixou raízes – se considera taquaritinguense por opção.



Em meados dos anos 1980, ingressou na Academia da Força Aérea (AFA) de Pirassununga e, formado, serviu em vários locais, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Queria ser astronauta. Chegou perto: fez parte da elite da FAB, do seletíssimo grupo dos melhores dentre os melhores, piloto do caça supersônico MIRAGE III, a arma mais letal e sofisticada que o País dispunha na época. De tempos em tempos, visita Taquaritinga para matar a saudade da terrinha e rever os amigos. Hoje, é responsável pela Base Aérea de Boa Vista, em Roraima, uma das mais importantes do Brasil por defender a Amazônia.


Tendência Municipal: Qual sua relação com Taquaritinga?

Ten. Cel. Carlos Alberto (Gordo): Minha relação com a querida Taquaritinga ainda é intensa, em que pese estar fora há 26 anos. Cheguei com cerca de seis meses de idade (1967) devido ao trabalho do meu pai e, até ingressar na Academia da Força Aérea (1986), vivi meus melhores momentos. Em Taquaritinga estão meus melhores amigos, minhas lembranças mais marcantes, enfim, a fase mais feliz da minha vida. Sempre que posso, procuro estar aqui com minha esposa e filho, para mostrar onde estão e como são as minhas raízes e, lógico, rever os amigos.

TM: O que o levou a ser aviador militar?

Gordo: Pode até parecer loucura, mas minha mãe sempre disse que, desde bem pequeno, eu falava: “quelo cê pioto de caça”. Por volta de 1970 – eu morava na rua Duque de Caxias (próximo do cruzamento com a Tiradentes) –, a Esquadrilha da Fumaça fez uma apresentação pelos céus de Taquá. Creio que isso tenha me influenciado de forma marcante a ponto de, a partir daí, querer pilotar aviões de caça. Em verdade, até ingressar na AFA, jamais havia tido contato com a aviação (exceção feita à pista de pouso que existia no caminho para Jurupema aonde, inicialmente, íamos de bicicleta e, depois, nos carnavais, para os “rachas” de Aero Willys). Aliás, no meu primeiro voo de avião eu não pousei, porque saltei de paraquedas no treinamento militar inicial. Próximo dos 16 anos, minha mãe me levou à Pirassununga – onde está sediada a AFA – e, naquele momento, tive certeza do que viria a ser: piloto de combate! Fiz o concurso duas vezes porque entrei direto na Academia, ao invés de iniciar pelo ensino médio (Escola Preparatória de Cadetes do Ar – EPCAr, em Barbacena/MG), sendo que sobram menos vagas.

TM: Como é o dia-a-dia de um piloto de caça?

Gordo: Isso varia muito em função do posto que se ocupa. Inicialmente, voa-se muito – inclusive à noite, com um mínimo de carga na seção. A atenção fica quase que exclusiva para o preparo da base, que seguirá o piloto pelo resto de sua vida operacional. À medida que se vai ficando mais antigo (mais velho), as lides administrativas exigem maior atenção e os voos ficam mais escassos. Mais à frente, quando se é antigo e instrutor de voo, tudo fica exagerado porque não há tempo disponível, exigindo um esforço maior.

TM: Historicamente, a FAB sempre foi considerada a mais bem equipada aviação militar da América do Sul. Qual a situação atual e quais as perspectivas para o futuro?

Gordo: Hoje não podemos nos orgulhar dos equipamentos que possuímos devido à defasagem de performance do nosso principal vetor, o F-5 (o MIRAGE 2000, que substituiu o MIRAGE III, será desativado o mais tardar em 2014), frente aos equipamentos de alguns dos nossos vizinhos. Destacaria o Chile com F-16 [norte-americano] e a Venezuela com Sukkoi 30 [russo]. Estava em andamento, no final do governo Lula, o programa FX-2, que escolheria um de três aviões que a FAB selecionou (F/A-18 Super Hornet, norte-americano; Gripen NG, sueco; Rafale, francês), porém, foi cancelado pela atual Administração. Não há perspectiva de substituição. O mais importante é ter pilotos doutrinados e com conhecimento atualizado – e isso não nos falta! Temos realizado intercâmbios e somos responsáveis por sediar exercícios multinacionais, com a presença de EUA e França, dentre outros. Assim que pudermos ter à disposição plataformas (aviões) atualizadas, estaremos aptos a extrair o melhor delas.

TM: Nossa cidade gerou um ás da aviação, herói da Segunda Guerra, o Brigadeiro Joel Miranda (natural de Santa Ernestina, que, na época, era distrito de Taquaritinga). Infelizmente, a cidade nunca valorizou esse grande personagem. A que você atribui essa indiferença?

Gordo: Em parte pela sua opção em se calar. O Brigadeiro Joel Miranda efetuou 31 missões de combate e foi abatido em fevereiro de 1945. Durante o período que ficou em território italiano, foi acolhido por pessoas especiais e o amigo mais próximo dele foi morto cruelmente pelos alemães, já no final do conflito. Sua história e seu depoimento são emocionantes! Enviarei para o meu amigo Êitel Bassoli o livro e o DVD que contêm a história do nosso herói para ficar à disposição de quem se interessar. Essa mídia também pode ser adquirida pelo site www.sentandoapua.com.br. Entretanto, outra parte se deve à falta de consideração que tivemos com nosso herói de guerra: eu, por exemplo, só fiquei sabendo desse destacado cidadão quando entrei para a FAB. Importa dizer que no seio da caça ele teve o reconhecimento devido. Até hoje, nos encontramos, no dia 22 de abril, no Rio de Janeiro, para reverenciarmos nossos antecessores. A data é considerada o Dia da Aviação de Caça, pois, nesse dia, em 1945, fez-se o maior número de decolagens.

TM: Você já disse que, quando garoto, sonhava ser astronauta. O que sentiu ao ver seu colega Marcos Pontes ser o primeiro brasileiro a ir ao espaço?

Gordo: O fato de eu ter desejado voar o MIRAGE III atrapalhou os planos de infância, porém estava no caminho certo. Eu andei, sem saber, na mesma trilha do Ten. Cel. Pontes até certo ponto: Pirassununga-Natal-Santa Maria, voando nos mesmos esquadrões de caça (assim como o foi com o Brigadeiro Joel Miranda, o Impetuoso, com relação aos estudos básicos: Taquaritinga-Jaboticabal). O Marcos Pontes, entretanto, foi cursar o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e se qualificou como piloto de testes. Eu quis voar duas vezes mais rápido que o som! Aí é que perdi a chance de concorrer à exigente lista de candidatos à astronauta, mas não me arrependo, até porque também vi a Terra redonda e o céu escuro do espaço quando voava a 70.000 pés de altitude.

TM: Que conselho você dá ao jovem taquaritinguense que quer seguir na carreira militar?

Gordo: Há na carreira militar oportunidades únicas. Uma das coisas a ser colocada, claramente, é que não se trata de profissão que traz riqueza material – é muito mais realização pessoal. Todavia, há muitas coisas que o dinheiro não consegue comprar e que se tem a oportunidade de vivenciar como piloto de caça: já derrubei esquiador no Mont Blanc, voando MIRAGE 2000, em Dijon/França; cruzei a Cordilheira dos Andes em um caça monoplace (de um só lugar) com destino a Santiago do Chile; sobrevoei grande parte da Amazônia, no período noturno, usando NVG (óculos de visão noturna); fui responsável por colocar em segurança, no aeroporto de Brasília, um LearJet que estava em emergência (por incrível coincidência, o piloto vive na mesma cidade que eu, Boa Vista). Tais prazeres me custaram horas de empenho, em detrimento da companhia de amigos e familiares. E faria tudo de novo. Resumindo e dando meu conselho: trata-se de uma profissão que exige disciplina e entrega total, mas que traz enorme realização. Recomendo a qualquer um, sem moderação!



MINHA HISTÓRIA DE VIDA NA AVIAÇÃO DE CAÇA
(Por Carlos Alberto Gonçalves)

Depois de completada a AFA, onde voaram T-25 e T-27 (Tucano), os que se saem bem seguem para a cidade de Natal/RN, para se especializar na aviação de caça, voando Super Tucano (A-29). Esse período dura um ano. Quem se forma, vai para um dos esquadrões abaixo, para também voar o Super Tucano:
  • 1.º/3.º G Av (Boa Vista/RR);
  • 2.º/3.º G Av (Porto Velho/RO);
  • 3.º/3.º G Av (Campo Grande/MS).

Nessas Unidades Aéreas, fica-se em média três anos, quando se segue para um Esquadrão de primeira linha para voar jatos (AMX, subsônico; F-5 ou MIRAGE 2000, supersônicos) por cerca de seis anos, quando se retorna para uma das quatro cidades em que voam o Super Tucano (as quatro acima citadas) para auxiliar na formação dos jovens caçadores. Uns poucos, antes de irem para a primeira linha, retornam à AFA a fim de ministrar instrução e, depois, voltam para seguir na progressão operacional. O Brasil possui dez Unidades Aéreas Operacionais de Caça, sendo que sete efetuam, além do treinamento diário, missões de policiamento do espaço aéreo, que são sempre missões reais.

Após me formar na AFA (1989), segui para Natal e conclui, com aproveitamento, o curso de piloto de caça. À época, não se ia para Boa Vista-Porto Velho-Campo Grande e sim para Fortaleza/CE ou Santa Maria/RS: eu escolhi esta última. Neste período, o curso de caça em Natal era realizado com um jato subsônico ítalo-brasileiro, AT-26 Xavante, bem como em Santa Maria-Fortaleza, portanto, no sul do País, voei o Xavante. Em Santa Maria, permaneci por quatro anos. Em 1995, cheguei a Anápolis/GO para realizar meu grande sonho: voar o caça bissônico (que atinge duas vezes a velocidade do som) MIRAGE III. Fiquei no Planalto Central por oito anos, quando fui convidado a participar do grupo de implantação do novo vetor de combate, o Super Tucano/A-29, que substituiria o Xavante. Cheguei, então, a Porto Velho em 2003 voando, inicialmente, o Tucano (T-27) militarizado, período em que preparamos homens e instalações para a nova ordem. De 2005 até 2010 voei o Super Tucano, sendo que, nos dois últimos anos, na condição de Comandante da Unidade Aérea. Hoje estou em Boa Vista/RR, como Subcomandante da Base Aérea e voando no 1.º/3.º G Av como instrutor.

Apenas para registrar: minha turma se formou com 130 pilotos. Destes, apenas 24 se formaram caçadores; destes 24, apenas três voaram o MIRAGE III e cinco comandaram Unidades de Caça. Eu estive em todas essas relações!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Entrevista: Eliana Velocci

EDIÇÃO ESPECIAL – N.o 10
Nossos agradecimentos ao Ico Curti, Alexandre Silva, João Milton Aiello, Caio Forcel, Niba Carleto, Luiz Carlos Gabriel, Ana Salvagni, Sérgio Sant’Anna, Marcão Palhares e (até hoje) Eliana Velocci, por colaborarem nesta jornada.



 

O TENDÊNCIA MUNICIPAL chega à 10.a edição. Dez taquaritinguenses que têm o que dizer!
Dez pessoas que partilharam seus conhecimentos, expressaram suas opiniões, compartilharam suas experiências, teceram críticas e análises – sempre de alto nível. Também de alto nível foram os comentários dos leitores-internautas; a repercussão mostrou que os bate-papos incentivaram o debate político, social e cultural sobre a cidade. Comemoremos os elogios e as raras críticas – a principal, que aceitamos como pertinente – era que faltava “mulheres”: à exceção de Ana Salvagni, oito homens.


Para simbolizar o início da correção da falha, esta EDIÇÃO ESPECIAL tem o prazer de apresentar a entrevista com nossa conterrânea Eliana Velocci.
Viúva do saudoso Chinão Ramia, mãe do Vítor e do Rui, está debutando no papel de jovem avó, deslumbrada com a netinha Sofia, filha do Rui e da Thaís. Zootecnista formada pela UNESP de Jaboticabal, é Responsável pelo Escritório Regional do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) de Ribeirão Preto, cidade em que está estabelecida há anos. Especialista em Meio Ambiente, Eliana é uma notável militante das causas ecológicas e verdadeira guardiã da natureza de nossa região.


Tendência Municipal: Como está a situação ambiental em nossa região?

Eliana Velocci: Crítica, apenas 10% das propriedades rurais estão com suas APPs [Áreas de Preservação Permanente] e Reservas Legais implantadas, ainda há muita retirada de aves da natureza (um meio fácil de ganhar dinheiro) e falta conscientização por parte da população de cuidarmos do nosso bem maior, que é a natureza.

TM: Qual a função do departamento do IBAMA sob seu comando?

Eliana: O Escritório de Ribeirão Preto tem sob sua jurisdição 84 municípios, conta com duas Aglomerações Urbanas (Franca; e Araraquara/São Carlos) e um Centro Urbano (Ribeirão), perfazendo um total de aproximadamente 3.500.00 pessoas, o que é muita gente, maior que as populações de doze Estados (como Amazonas, Espírito Santo, Roraima, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte) e do Distrito Federal! Considerando o novo foco institucional, apresentamos 45 atividades. Entre as principais estão: fiscalização/vistoria/controle de substâncias químicas; agrotóxico; Protocolo de Montreal; mineração; transgênico e defensivos; usinas de açúcar e cana; pesca predatória; tráfico de animais silvestres; ADA [Ato Declaratório Ambiental]; porto seco; biopirataria; aeroportos; correio; incêndios florestais; licenciamento de gasoduto; dutos; polidutos; linhas de transmissão; empreendimentos ferroviários; PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas]; UHEs [Usinas Hidrelétricas]; e programas de Educação Ambiental (escolas, assentamentos, produtores rurais).
Estamos, agora, no aguardo da decisão de nossos superiores quanto ao fechamento ou não do escritório de Ribeirão Preto.

TM: O que está ocorrendo com o escritório do IBAMA de Ribeirão?

Eliana: O IBAMA passa por processo de reestruturação, busca eficiência no cumprimento de suas funções. Esse processo iniciou-se com o desmembramento da divisão dedicada à gestão das Unidades de Conservação. Agora, o IBAMA reconhece que algumas atividades que desenvolve atualmente não condizem com os novos desafios, nem com sua missão de órgão federal. O IBAMA elege, então, como pontos focais da sua nova atuação, o licenciamento ambiental federal, a fiscalização, a questão dos resíduos sólidos e a problemática das mudanças climáticas. A transferência da gestão de fauna e DOF (madeira) ao órgão estadual e, sobretudo, a busca da eficiência econômica, acabou por gerar isolamento e falta de condições de trabalho nos Escritório Regionais e justificar o fechamento de vários deles, como Araçatuba, Bauru, Barretos e, provavelmente, Ribeirão Preto.

TM: Como você analisa a proposta do Novo Código Ambiental em discussão no Congresso Nacional?

Eliana: Tremendo retrocesso! Todo o trabalho de conscientização que os órgãos ambientais e o poder judiciário tiveram ao longo desses anos será em vão. Como “biodeságradavel” que sou, não aceito anistiar as propriedades rurais degradadoras; o máximo que aceitaria seria incluir as APPs na Reserva Legal.

TM: Recentemente, você se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Ribeirão Preto. Podemos esperar uma atuação política nos próximos anos?

Eliana: Para as próximas eleições já tenho alguns compromissos, mas, diria que já está ocorrendo um flerte...

TM: Você mantém contato com o diretório municipal do PT de Taquaritinga?

Eliana: Não muito. Estive há pouco no encontro do Nipo Clube, onde ocorreram novas filiações, e gostei do que vi, o partido está animado. Tenho grandes e bons amigos no diretório de Taquaritinga e sempre que for convidada estarei presente.

TM: Mesmo radicada em Ribeirão, você nunca se afastou de Taquaritinga. Como avalia a atual Administração municipal quanto à questão ambiental?

Eliana: Na questão ambiental, é muito boa. Há anos temos o Miguel Anselmo como Secretário de Meio Ambiente, que vem fazendo, dentro das possibilidades, um belo trabalho, com excelentes projetos apresentados para FEHIDRO [Fundo Estadual de Recursos Hídricos] no Comitê da Bacia Hidrográfica Tiête-Batalha, do qual Taquaritinga faz parte. Há seis anos, o Miguel é Coordenador da Câmara Técnica de Educação Ambiental. As quatro estações de tratamento de esgoto estão com os passivos licenciados pelas Agências Ambientais em fase de implantação e, da mesma forma, em relação ao tratamento dos resíduos sólidos (domésticos e da construção civil). Destaco, também, o trabalho de reflorestamento em parceria com o IBAMA. Este mês o nosso Escritório Regional fez a doação de um automóvel Gol para o Horto Florestal de Taquaritinga.

TM: Quais são suas expectativas para as eleições municipais de 2012?

Eliana: Ainda acho muito cedo para opinar, não temos nada de concreto, mas torço muito para que o PT de Ribeirão Preto faça o novo prefeito...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entrevista: Marcão Palhares




 

Entrevistamos Marcos Palhares, o Marcão. Taquaritinguense, formado em Jornalismo pela PUC de Campinas, trabalhou em dezenas de redações – jornais, revistas, portais de internet, programa de rádio – e diversas assessorias de imprensa. Entre 2009 e 2010, atuou como assessor no escritório paulista do então senador Aloizio Mercadante (PT). Hoje, está na ENTRELINHAS AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO, na Capital, e escreve no portal FUTEPOCA – Futebol, Política e Cachaça (www.futepoca.com.br), eleito o melhor blog de esportes do País em 2007 pelo concurso Best Blogs Brazil. Sãopaulino e “butequeiro” devoto, define-se, politicamente, como “de esquerda”, mas nunca foi filiado.

Costuma dizer que a política é simples: há patrões e trabalhadores, com interesses opostos. Como não é “patrão”, luta pela categoria em que está inserido: “a classe trabalhadora”. Depois de quase vinte anos entrevistando, Marcão aceitou passar para o “outro lado do balcão”, como entrevistado. Para ele, não interessa ser “dono da verdade” e sim ter opiniões e lutar por justiça. Foi uma conversa agradável, uma verdadeira aula sobre o funcionamento da imprensa brasileira. Vale a leitura!

Tendência Municipal: O jornalista pode ter posição política sem prejudicar a imparcialidade?

Marcos Palhares: A imparcialidade é um mito, não existe. Os meios de comunicação devem tentar um equilíbrio, abrir espaço para as partes em conflito. Poucos fazem isso, enganam a população ao se dizerem isentos, “sem rabo preso”. Mentira! O ideal seria que deixassem claro, para o consumidor, seus interesses. Nos EUA, você compra um jornal e está escrito, no cabeçalho: “um jornal democrata” ou “somos republicanos”. É mais honesto. Aqui, fingem que não têm posição ou interesses, quando é óbvio que têm! As pessoas devem ter em mente que jornal, revista, rádio ou televisão são empresas – e empresas só têm uma finalidade: obter o maior lucro possível. Informar de forma imparcial é o último dos objetivos.

TM: Podemos confiar no jornalismo brasileiro?

Marcão: Dono de jornal não é jornalista, é empresário, que defende seus interesses, econômicos e políticos. Cada veículo tem seus amigos, que elogia e defende, e inimigos, que geralmente massacra. É o tal ditado: “aos amigos, tudo; aos inimigos, a Lei”. Ao menos, deveriam agir como os jornais estadunidenses ou como a Carta Capital, que explicitou seu apoio à Dilma Rousseff. É uma forma, honesta, de dizer: temos partido e defendemos fulano de tal. A “grande” imprensa (grande só no nome) vende gato por lebre, engana a população, que ainda é crédula.

TM: Como você analisa o futuro dos veículos de informação tradicionais (jornais, revistas, rádio e TV) frente à expansão da internet?

Marcão: Mesmo com a internet, os jornais, revistas, rádio e TV não vão acabar. São linguagens diferentes que podem conviver. O problema é que são poucos os grandes grupos de comunicação, existe um monopólio, o mesmo grupo tem jornal, rádio, TV, portal de internet etc. por onde veicula sua opinião de forma homogênea e pasteurizada. É preciso mudar a regulação da mídia e o sistema de distribuição de concessões. O governo tem papel decisivo, a maioria dos grandes grupos vive, principalmente, do dinheiro público, via propaganda oficial. Uma tentativa de redistribuir essas verbas já está sendo feita. No primeiro ano do governo Lula, por exemplo, o dinheiro da publicidade era repartido apenas entre 400 empresas; hoje, a verba é dividida por quase 6 mil. Estão diminuindo a fatia dos grandes e distribuindo a milhares de médios e pequenos. Isso é democratização da informatização – e é por isso que o governo federal apanha tanto na “grande” imprensa, que passou a “mamar” menos (risos).

TM: Qual o papel dos meios de comunicação no desenvolvimento social?

Marcão: Se levarmos em conta que os meios de comunicação são empresas e só visam o lucro, então, com o social, eles pouco se importam. Seria mais apropriado inverter a pergunta: qual o papel dos movimentos populares e da sociedade civil organizada na quebra do monopólio da informação? Uma proposta é somar esforços. Por exemplo: existem milhares de sindicatos, associações (de bairros, de categorias), ONGs, instituições filantrópicas etc. e cada uma tem seu jornalzinho, blog ou revista que, em geral, são amadores, mal feitos, panfletários, pouco atraentes, com tiragem minúscula. Fora do público interessado, ninguém nem sabe que existem: um monte de informação e de gasto para nada. Agora, imagine se 2 mil dessas instituições (ou 5 mil) separassem, cada uma, determinado valor, por mês, para, juntas, criar um único jornal, de 100 páginas, diário, de circulação nacional, ou alugasse espaço numa grande emissora de TV, como fazem os evangélicos. Aí, sim, os mais fracos teriam voz diante de um Estadão, Folha, Globo, Veja... Os blogs na internet também ajudam.

TM: Há liberdade de imprensa no Brasil?

Marcão: Liberdade de imprensa existe, está assegurada e é exercida. A censura, hoje, não é política nem imposta pelo governo. A censura é econômica. Só consegue dizer o que quer quem tem dinheiro para ter um meio de comunicação. Para dizer o que estou dizendo aqui não teria espaço em quase nenhum jornal, revista ou portal de internet porque contraria o interesse da maioria deles. O que sustenta um veículo de comunicação é a publicidade, pública e privada. Se eu escrevo sobre determinado assunto, por mais interessante e útil que seja, pode chegar um anúncio das Casas Bahia, por exemplo, na última hora, tomar esse espaço e meu texto vai pro lixo. Como disse: o que interessa é o lucro. Quando o governo está dando bastante dinheiro, é poupado de críticas; quando diminui a verba, sofre ataques violentos. Essa é a “moral” dos meios de comunicação. Hoje, quem fala mal do governo federal são os que perderam o lugar no Palácio do Planalto – e que querem voltar. Quanto à publicidade privada, poucos percebem que os jornais raramente falam mal dos grandes grupos empresariais. Mas, quando não dão dinheiro, surge algum “escândalo” envolvendo essas empresas. É o que chamamos de “faca no pescoço”: se pagar anúncios, param de falar mal. Percam a ingenuidade: é assim que funciona.

TM: Qual sua opinião sobre os governos federal, estadual e municipal?

Marcão: Não sou panfletário nem maniqueísta, evito eleger mocinhos e bandidos. Mas tenho posição definida e ela privilegia projetos que, de alguma forma, melhorem a vida do povo. O projeto em curso no governo federal desde 2003 tirou milhões da miséria, elevou milhões à classe média, gerou 15 milhões de empregos formais, levou luz elétrica onde não havia, construiu milhares de conjuntos habitacionais, financiou outros milhares de imóveis, construiu dezenas de universidades públicas e levou 800 mil filhos de pobres à faculdade. Isso eu elogio e apoio. Não vi outra Administração fazer nada parecido antes. É óbvio que tem coisa errada, mal contada, alianças políticas ruins, enfim, muita coisa pra consertar. Para mim, vale a pena manter o projeto e criticar, lutar, para que o que está ruim melhore. Sobre o governo estadual, vejo o contrário: o social está em último plano. Não há política de emprego, nem de distribuição de renda, nem habitacional, nem educacional, nada! Às vezes, me dá a impressão de que nem existe governo estadual. Em termos municipais, por estar fora há muito tempo, é complicado opinar. Mas acho que há campo para mudanças, temos que nos organizar. Há taquaritinguenses brilhantes, de todas as áreas, que, por falta de oportunidade de estudo e emprego, foram obrigados a sair da cidade. Chegou a hora de aproveitar o conhecimento dessas pessoas para mudar a política local, industrializar Taquaritinga, priorizar os mais pobres, que estão abandonados há décadas.

TM: Conte-nos um pouco de sua experiência como assessor de imprensa do ex-senador Aloizio Mercadante.

Marcão: Foi uma experiência marcante, me possibilitou o contato com outra esfera da política. Em muitos eventos, estive com o presidente Lula, a então candidata Dilma e com lideranças de todos os partidos, como Geraldo Alckmin, Paulo Skaf, Ciro Gomes. Nos bastidores, se percebe o lado humano das relações e o quanto a imagem pública desses políticos é distorcida. Também é uma aula para perceber o intrincado “jogo de xadrez” por detrás de cada decisão, declaração, conflito entre o posicionamento pessoal, a diretriz do partido, a opinião pública e o crivo da imprensa. Fica claro que não existem “mocinhos” ou “bandidos”, mas uma luta feroz por esse ou aquele interesse, causa ou projeto. Ninguém é “bom” nem “ruim”, todos são humanos, simplesmente. Fica clara a bandeira que cada um empunha e como são complexas as relações, as negociações, os avanços e recuos, as decisões estratégicas. Fica nítido que, infelizmente, a maioria da população não tem como compreender, de fato, como as coisas funcionam. O noticiário é um “conto de fadas”.

TM: Você tem planos para a política? Pretende, algum dia, se candidatar a algum cargo eletivo?

Marcão: De jeito nenhum. Não tenho vocação para dar ordens e isso contraria a função do político ou do gestor. Posso colaborar com algum mandato, administração ou projeto político que priorize o social. Acho que toda pessoa deveria ter compromisso com o lugar onde nasceu ou onde vivem seus familiares e amigos. E compromisso não é arrumar uma “boquinha” na Prefeitura ou um empreguinho por quatro ou oito anos. Chega disso! Eu gostaria de colaborar, com meu conhecimento, para algum mandato ou gestão pública na cidade em que nasci, sem vínculo formal. Não quero remuneração, até porque não pretendo voltar a residir na cidade. Posso assessorar um projeto, ajudar na comunicação e na elaboração de propostas, fazer ligação com lideranças de outras esferas, lutar para que o município seja incluído em todos os projetos sociais possíveis, buscar verbas estaduais, federais ou de organismos internacionais. Tem que ir atrás, planejar, botar no papel, fazer ações para os mais pobres, conscientizá-los, organizá-los e torná-los prioridade em toda e qualquer ação pública. Isso eu topo fazer. De graça. E já!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Entrevista: Sérgio Sant’Anna




 

O TENDÊNCIA MUNICIPAL entrevista o educador Sérgio Augusto Sant’Anna, especialista em Linguística e Literatura pela UNESP de Araraquara, pós-graduado em Gestão Escolar, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação (ministra aulas no Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior – ITES, Colégio Objetivo e na rede pública) e proprietário do Ateliê da Palavra. Sérgio nasceu em Taquaritinga, morou em Porto Alegre/RS por dois anos, onde lecionou no programa ProJovem do ministério da Educação e coordenou a Fundação Fé e Alegria do Brasil, dos padres jesuítas católicos.

Casado com a Priscila, professora de Inglês e Espanhol, pai da pequena Beatriz,
é filho do jornalista Tuca Sant’Anna e neto do Willy Sant’Anna, histórico militante do Partido dos Trabalhadores (PT) de Taquaritinga. Apaixonado por cultura em geral e por literatura em particular, expõe seus pensamentos em agradáveis textos publicados nos jornais Diário Cidade e A Tribuna. O jeito doce, a fala macia e a forma cordial com que se relaciona são suas principais características, que, somadas à sua capacidade de raciocínio, o fazem uma voz a ser ouvida, com atenção, na política municipal.


Tendência Municipal: Qual a importância da educação na sociedade contemporânea?

Sérgio Sant’Anna: : Vital. Essencial ao desenvolvimento intelectual do ser humano. Sem educação um país não se desenvolve, não progride, não questiona. E o mais importante: não aprende a pensar.

TM: Como você analisa a educação em nossa cidade? Quais as deficiências e os acertos?

Sérgio: Caminhamos. Porém, a desvalorização do professor é um problema que merece resolução. É um absurdo uma política salarial do setor público que beneficie diretores, coordenadores e se esqueça do professor. O alicerce não pode ser ignorado. Educação é sinônimo de professor.

TM: Seu avô, o Willy Sant’Anna, ostenta a “carteirinha” número 1 de filiado do diretório municipal do PT de Taquaritinga. Qual sua relação com o partido?

Sérgio: Bem, cresci ouvindo o meu avô dizer, em alto e bom som, feliz, que era o dono da carteirinha número um do Partido dos Trabalhadores (com três anos de idade já me manifestava a favor do Jacó Bittar e minha filha a favor da Marta Suplicy). Filiei-me ao Partido dos Trabalhadores em agosto de 2001, apoiei a candidatura do senhor Luiz Inácio à presidência da República em 2002 e lutei pelo companheiro Adauto Scardoelli rumo a uma cadeira na Assembléia Legislativa no mesmo ano. Mas em 2003 resolvi contactar-me com o PSTU, não me desfiliei do PT, coisas da juventude... Sou Partido dos Trabalhadores!

TM: De tempos para cá, estamos vendo um aumento da violência juvenil, o chamado “bullying”. Como você analisa esse fenômeno e o que se deve fazer para enfrentá-lo?

Sérgio: O “bullying” não pode ser transformado em tudo, muito menos reduzido a nada. O momento é de análise caso a caso. O seu combate só será efetivo com o apoio da tríade: escola, família e sociedade.

TM: O que é o Ateliê da Palavra?

Sérgio: É um espaço destinado aos que almejam mais conhecimento sobre a Língua Portuguesa. Gramática Normativa, Literatura, Redação são disciplinas afins destinadas aos que desejam passar no exame vestibular, concursos etc. Minha intenção é fazer um local para discussão de idéias, realização de projetos, lançamento de livros e, acima de tudo, a preparação de jovens escritores que possuem talento, porém não são incentivados.

TM: Quais são suas expectativas paras as eleições municipais do ano que vem? Pretende se candidatar a vereador?

Sérgio: Sou adepto das mudanças, novos ares. Trocar o arcaico pelo velho não adianta, vimos esta situação sufocando o nosso passado. Mas o Partido dos Trabalhadores de Taquaritinga vem fortalecido, mentes politizadas, preparadas para a vida pública e acredito que Taquaritinga se banhe dessa chuva torrencial de novas e práticas idéias. Quanto a ser candidato a vereador, sempre pensei na vida política, na dedicação ao meu povo. Já faço isso compartilhando conhecimento com os meus discentes, porém posso realizar muito mais, sei que posso. E se houver apoio dos meus pares, vou me lançar a uma das quinze vagas do nosso Legislativo.

sábado, 4 de junho de 2011

Entrevista: Ana Salvagni




 

O TENDÊNCIA MUNICIPAL entrevista Ana Maria Salvagni. Cantora, poeta, musicista, uma grande artista. Formada em piano pelo Conservatório Municipal Santa Cecília e em regência pela Unicamp, é casada com o violeiro, escritor e pesquisador de arte popular Paulo Freire, mãe da Laura e do Augusto. Apaixonada pela música, herdou o talento do pai, o saudoso Estevam Salvagni, pianista autodidata, e da mãe, a diretora de Ensino Neide Ramos Salvagni, prodigiosa cantora. Já se apresentou no programa Sr. Brasil, comandado pelo cantor e compositor Rolando Boldrin, e foi tema do tradicional Ensaio, do mestre Fernando Faro, ambos da TV Cultura.

No final da década de 1990, lançou seu primeiro CD, que leva seu nome, depois o CD Avarandado, de 2005, mas foi no terceiro, o Alma Cabocla, de músicas do compositor Hekel Tavares, que alcançou o merecido reconhecimento: em 2010, recebeu, no Rio, o Prêmio Vale de melhor álbum de música regional, o mais importante do País, patrocinado pela mega-empresa Vale do Rio Doce. Estabelecida em Campinas, Ana mantém uma agenda de shows por todo Brasil, sempre bem recebidos pelo público e pela crítica. Teve uma grata experiência na administração pública à frente do coral e educação musical do Conservatório Municipal de Taquaritinga. Falamos de artes, política, mercado e, claro, música.

Tendência Municipal: Como começou sua paixão pela música?

Ana Salvagni: Gosto de música desde sempre e, ainda bem pequena, gostava de cantar e ouvia, de um lado, meu avô Eutimo e seu irmão, o tio Euclides. Ouvia, de outro, minha avó Zilda e sua irmã, a tia Diva. Ouvia meu pai, minha mãe, as duplas sertanejas e os cantadores que iam à fazenda. Ouvia os discos do meu pai, sempre gostei de tudo isso.

TM: Qual a sensação de ser agraciada com o Prêmio Vale, o mais importante da música brasileira, e se ver ao lado de artistas consagrados, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Zeca Baleiro e Elba Ramalho?

Ana: É uma sensação de algo irreal, como um sonho. Durante a cerimônia, eu olhava para os lados e via meus ídolos, tanta gente que eu admiro e que só existiam pra mim nos discos, imagens... Fiquei mesmo deslumbrada! E receber o prêmio foi uma grande honra, junto com a sensação tão boa do reconhecimento. Este CD me deu muitas alegrias desde o início, a começar por ter recebido patrocínio da Petrobras para fazê-lo, pelos grandes músicos que dele fizeram parte. E também foi fruto de muito trabalho, assumi toda a pesquisa, a produção, a execução, até a parte musical propriamente dita. Então o prêmio foi uma resposta mais do que positiva, um verdadeiro presente.

TM: Seus trabalhos, na música e na poesia, se caracterizam pela linha “popular”, no sentido mais nobre do termo, sem fazer concessões ao mercado ou a “modismos”. Como é seguir esse caminho?

Ana: Nunca pensei em me tornar uma artista super conhecida, sempre quis trabalhar com música da forma que me encanta e me alimenta, seguir minha motivação e ser verdadeira. Esse caminho não é fácil, mas imagino que também não deva ser nada fácil estar, por exemplo, a serviço dos modismos e do que a mídia pede. Como ser artista assim? Tenho muita sorte por ter conhecido pessoas maravilhosas e feito sempre o que quis. O que não quer dizer que não tenha tido as minhas dúvidas e indagações, tive e tenho, claro, mas isso também é saudável, me faz encarar novos projetos e desafios.

TM: É possível fazer da arte instrumento de inclusão social?

Ana: Sim, a arte é um instrumento de inclusão social por natureza, sempre foi e sempre será, a gente só tem que dar uma ajudinha, criar acesso mais fácil ao público. E mais do que o social, podemos pensar no aspecto do desenvolvimento humano, pois a arte é viva e acolhedora, para cada pessoa ela atua de uma maneira diferente e, neste processo de descoberta, conhecimento e expressividade, temos a possibilidade de nos perceber melhor, assim como o outro. É possível aprender muito a partir desta vivência.

TM: Como foi sua experiência como gestora pública à frente do Conservatório?

Ana: Entre 1993 e 94 trabalhei no Conservatório em Taquaritinga, com uma espécie de assessoria aos professores e hoje penso que não tinha experiência e maturidade suficientes, na época, para conduzir aquela atividade. Mais tarde, em 1997 e 98, trabalhei com o coral e, então, me senti fazendo um trabalho mais consistente.

TM: Você descende de uma família de tradição política, seu avô, Ernesto Salvagni, foi prefeito e deputado; seus pais vereadores; seu tio, Sérgio, foi vereador e prefeito. Como se posiciona em relação à política? Pensa, algum dia, se candidatar à vereadora em Taquaritinga?

Ana: Mesmo com este histórico, nunca me aproximei da política e tenho dificuldade em entender e me adaptar às suas particularidades. Me parece que o que está errado e viciado precisa de mudança urgente, mas nenhum processo de mudança é rápido ou fácil, e isso gera uma terrível sensação de impotência. Acredito que uma melhora na qualidade da política, das instituições governamentais e da própria cidadania só acontecerá quando houver uma profunda mudança no âmbito pessoal e humano, mesmo dentro de ações coletivas. Bem, não digo que nunca seguirei este caminho, mas hoje só posso dizer que cantar ou reger é bem mais simples, há metas comuns e os meios são mais claros. Para os políticos e governantes, o grande desafio talvez seja não se esquecer dos seus verdadeiros objetivos.

TM: Taquaritinga é reconhecida por gerar artistas de qualidade, na música, literatura, fotografia, artes plásticas e cênicas. O que você tem a dizer aos jovens taquaritinguenses que anseiam seguir a vida artística?

Ana: Se há o desejo, já é um ótimo indício – há tantos jovens que não conseguem identificar o que querem seguir. Quem escolhe ser artista pode ainda enfrentar o preconceito da família e da sociedade, por incrível que pareça, mas se a vontade e a crença em seu potencial existem, deve ir em frente, é muito importante considerar suas aptidões e procurar desenvolvê-las. Hoje há uma corrida por bons empregos, os cursos de nível superior aumentaram em quantidade, mas diminuíram em qualidade, e, em meio a tudo isso, é uma grande vantagem ser apto e apaixonado pelo que se faz. Não é fácil tornar-se um profissional bem sucedido, independente da área escolhida, por isso penso que perceber, respeitar e investir no seu próprio talento é o melhor caminho.

TM: Não podemos encerrar sem perguntar, por curiosidade: que música você ouve no dia-a-dia? Que CD está ouvindo?

Ana: Isso varia bastante, mas agora estou ouvindo um CD que marcou uma parceria um tanto inusitada: as poesias de Hilda Hilst musicadas por Zeca Baleiro. É um trabalho belíssimo, chamado Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé. Ouço também um lindo trio - formado aqui em Campinas - o Conversa Ribeira.



* Eu queria parabenizar a equipe do Tendência Municipal e também os entrevistados. Tenho lido e gostado muito das entrevistas! É uma alegria estar neste espaço, conversando com vocês.