quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entrevista: Marcão Palhares




 

Entrevistamos Marcos Palhares, o Marcão. Taquaritinguense, formado em Jornalismo pela PUC de Campinas, trabalhou em dezenas de redações – jornais, revistas, portais de internet, programa de rádio – e diversas assessorias de imprensa. Entre 2009 e 2010, atuou como assessor no escritório paulista do então senador Aloizio Mercadante (PT). Hoje, está na ENTRELINHAS AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO, na Capital, e escreve no portal FUTEPOCA – Futebol, Política e Cachaça (www.futepoca.com.br), eleito o melhor blog de esportes do País em 2007 pelo concurso Best Blogs Brazil. Sãopaulino e “butequeiro” devoto, define-se, politicamente, como “de esquerda”, mas nunca foi filiado.

Costuma dizer que a política é simples: há patrões e trabalhadores, com interesses opostos. Como não é “patrão”, luta pela categoria em que está inserido: “a classe trabalhadora”. Depois de quase vinte anos entrevistando, Marcão aceitou passar para o “outro lado do balcão”, como entrevistado. Para ele, não interessa ser “dono da verdade” e sim ter opiniões e lutar por justiça. Foi uma conversa agradável, uma verdadeira aula sobre o funcionamento da imprensa brasileira. Vale a leitura!

Tendência Municipal: O jornalista pode ter posição política sem prejudicar a imparcialidade?

Marcos Palhares: A imparcialidade é um mito, não existe. Os meios de comunicação devem tentar um equilíbrio, abrir espaço para as partes em conflito. Poucos fazem isso, enganam a população ao se dizerem isentos, “sem rabo preso”. Mentira! O ideal seria que deixassem claro, para o consumidor, seus interesses. Nos EUA, você compra um jornal e está escrito, no cabeçalho: “um jornal democrata” ou “somos republicanos”. É mais honesto. Aqui, fingem que não têm posição ou interesses, quando é óbvio que têm! As pessoas devem ter em mente que jornal, revista, rádio ou televisão são empresas – e empresas só têm uma finalidade: obter o maior lucro possível. Informar de forma imparcial é o último dos objetivos.

TM: Podemos confiar no jornalismo brasileiro?

Marcão: Dono de jornal não é jornalista, é empresário, que defende seus interesses, econômicos e políticos. Cada veículo tem seus amigos, que elogia e defende, e inimigos, que geralmente massacra. É o tal ditado: “aos amigos, tudo; aos inimigos, a Lei”. Ao menos, deveriam agir como os jornais estadunidenses ou como a Carta Capital, que explicitou seu apoio à Dilma Rousseff. É uma forma, honesta, de dizer: temos partido e defendemos fulano de tal. A “grande” imprensa (grande só no nome) vende gato por lebre, engana a população, que ainda é crédula.

TM: Como você analisa o futuro dos veículos de informação tradicionais (jornais, revistas, rádio e TV) frente à expansão da internet?

Marcão: Mesmo com a internet, os jornais, revistas, rádio e TV não vão acabar. São linguagens diferentes que podem conviver. O problema é que são poucos os grandes grupos de comunicação, existe um monopólio, o mesmo grupo tem jornal, rádio, TV, portal de internet etc. por onde veicula sua opinião de forma homogênea e pasteurizada. É preciso mudar a regulação da mídia e o sistema de distribuição de concessões. O governo tem papel decisivo, a maioria dos grandes grupos vive, principalmente, do dinheiro público, via propaganda oficial. Uma tentativa de redistribuir essas verbas já está sendo feita. No primeiro ano do governo Lula, por exemplo, o dinheiro da publicidade era repartido apenas entre 400 empresas; hoje, a verba é dividida por quase 6 mil. Estão diminuindo a fatia dos grandes e distribuindo a milhares de médios e pequenos. Isso é democratização da informatização – e é por isso que o governo federal apanha tanto na “grande” imprensa, que passou a “mamar” menos (risos).

TM: Qual o papel dos meios de comunicação no desenvolvimento social?

Marcão: Se levarmos em conta que os meios de comunicação são empresas e só visam o lucro, então, com o social, eles pouco se importam. Seria mais apropriado inverter a pergunta: qual o papel dos movimentos populares e da sociedade civil organizada na quebra do monopólio da informação? Uma proposta é somar esforços. Por exemplo: existem milhares de sindicatos, associações (de bairros, de categorias), ONGs, instituições filantrópicas etc. e cada uma tem seu jornalzinho, blog ou revista que, em geral, são amadores, mal feitos, panfletários, pouco atraentes, com tiragem minúscula. Fora do público interessado, ninguém nem sabe que existem: um monte de informação e de gasto para nada. Agora, imagine se 2 mil dessas instituições (ou 5 mil) separassem, cada uma, determinado valor, por mês, para, juntas, criar um único jornal, de 100 páginas, diário, de circulação nacional, ou alugasse espaço numa grande emissora de TV, como fazem os evangélicos. Aí, sim, os mais fracos teriam voz diante de um Estadão, Folha, Globo, Veja... Os blogs na internet também ajudam.

TM: Há liberdade de imprensa no Brasil?

Marcão: Liberdade de imprensa existe, está assegurada e é exercida. A censura, hoje, não é política nem imposta pelo governo. A censura é econômica. Só consegue dizer o que quer quem tem dinheiro para ter um meio de comunicação. Para dizer o que estou dizendo aqui não teria espaço em quase nenhum jornal, revista ou portal de internet porque contraria o interesse da maioria deles. O que sustenta um veículo de comunicação é a publicidade, pública e privada. Se eu escrevo sobre determinado assunto, por mais interessante e útil que seja, pode chegar um anúncio das Casas Bahia, por exemplo, na última hora, tomar esse espaço e meu texto vai pro lixo. Como disse: o que interessa é o lucro. Quando o governo está dando bastante dinheiro, é poupado de críticas; quando diminui a verba, sofre ataques violentos. Essa é a “moral” dos meios de comunicação. Hoje, quem fala mal do governo federal são os que perderam o lugar no Palácio do Planalto – e que querem voltar. Quanto à publicidade privada, poucos percebem que os jornais raramente falam mal dos grandes grupos empresariais. Mas, quando não dão dinheiro, surge algum “escândalo” envolvendo essas empresas. É o que chamamos de “faca no pescoço”: se pagar anúncios, param de falar mal. Percam a ingenuidade: é assim que funciona.

TM: Qual sua opinião sobre os governos federal, estadual e municipal?

Marcão: Não sou panfletário nem maniqueísta, evito eleger mocinhos e bandidos. Mas tenho posição definida e ela privilegia projetos que, de alguma forma, melhorem a vida do povo. O projeto em curso no governo federal desde 2003 tirou milhões da miséria, elevou milhões à classe média, gerou 15 milhões de empregos formais, levou luz elétrica onde não havia, construiu milhares de conjuntos habitacionais, financiou outros milhares de imóveis, construiu dezenas de universidades públicas e levou 800 mil filhos de pobres à faculdade. Isso eu elogio e apoio. Não vi outra Administração fazer nada parecido antes. É óbvio que tem coisa errada, mal contada, alianças políticas ruins, enfim, muita coisa pra consertar. Para mim, vale a pena manter o projeto e criticar, lutar, para que o que está ruim melhore. Sobre o governo estadual, vejo o contrário: o social está em último plano. Não há política de emprego, nem de distribuição de renda, nem habitacional, nem educacional, nada! Às vezes, me dá a impressão de que nem existe governo estadual. Em termos municipais, por estar fora há muito tempo, é complicado opinar. Mas acho que há campo para mudanças, temos que nos organizar. Há taquaritinguenses brilhantes, de todas as áreas, que, por falta de oportunidade de estudo e emprego, foram obrigados a sair da cidade. Chegou a hora de aproveitar o conhecimento dessas pessoas para mudar a política local, industrializar Taquaritinga, priorizar os mais pobres, que estão abandonados há décadas.

TM: Conte-nos um pouco de sua experiência como assessor de imprensa do ex-senador Aloizio Mercadante.

Marcão: Foi uma experiência marcante, me possibilitou o contato com outra esfera da política. Em muitos eventos, estive com o presidente Lula, a então candidata Dilma e com lideranças de todos os partidos, como Geraldo Alckmin, Paulo Skaf, Ciro Gomes. Nos bastidores, se percebe o lado humano das relações e o quanto a imagem pública desses políticos é distorcida. Também é uma aula para perceber o intrincado “jogo de xadrez” por detrás de cada decisão, declaração, conflito entre o posicionamento pessoal, a diretriz do partido, a opinião pública e o crivo da imprensa. Fica claro que não existem “mocinhos” ou “bandidos”, mas uma luta feroz por esse ou aquele interesse, causa ou projeto. Ninguém é “bom” nem “ruim”, todos são humanos, simplesmente. Fica clara a bandeira que cada um empunha e como são complexas as relações, as negociações, os avanços e recuos, as decisões estratégicas. Fica nítido que, infelizmente, a maioria da população não tem como compreender, de fato, como as coisas funcionam. O noticiário é um “conto de fadas”.

TM: Você tem planos para a política? Pretende, algum dia, se candidatar a algum cargo eletivo?

Marcão: De jeito nenhum. Não tenho vocação para dar ordens e isso contraria a função do político ou do gestor. Posso colaborar com algum mandato, administração ou projeto político que priorize o social. Acho que toda pessoa deveria ter compromisso com o lugar onde nasceu ou onde vivem seus familiares e amigos. E compromisso não é arrumar uma “boquinha” na Prefeitura ou um empreguinho por quatro ou oito anos. Chega disso! Eu gostaria de colaborar, com meu conhecimento, para algum mandato ou gestão pública na cidade em que nasci, sem vínculo formal. Não quero remuneração, até porque não pretendo voltar a residir na cidade. Posso assessorar um projeto, ajudar na comunicação e na elaboração de propostas, fazer ligação com lideranças de outras esferas, lutar para que o município seja incluído em todos os projetos sociais possíveis, buscar verbas estaduais, federais ou de organismos internacionais. Tem que ir atrás, planejar, botar no papel, fazer ações para os mais pobres, conscientizá-los, organizá-los e torná-los prioridade em toda e qualquer ação pública. Isso eu topo fazer. De graça. E já!

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