Apresentamos a entrevista com Luiz Carlos Pires Gabriel, dos mais notórios médicos de nossa cidade. Formado pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, se dedica à “arte da cura” há quase meio século. Filho do ex-presidente da Câmara Municipal Anur Gabriel, foi candidato a vice-prefeito pelo Partido dos Trabalhadores em 1988, na chapa encabeçada por Adauto Scardoelli (quando o PT obteve a melhor votação até hoje). Na eleição seguinte, foi eleito o vereador mais votado. Quatro anos depois, ajudou a viabilizar a coligação PMDB/PT, sendo candidato a vice de Milton Nadir. | ||
Nas eleições de 2004, desaprovou a decisão do PT de aliar-se ao PSDB e deixou o partido. Admirador de Lula, se empenhou na campanha de Dilma Rousseff – desde então, voltou a “flertar” com o PT, mas sem se refiliar. Hoje, divide a paixão pela Medicina com o amor ao cultivo das mais excêntricas árvores frutíferas. Tornou-se especialista no assunto, reconhecido em todo País, suas propriedades rurais em Jurupema são consideradas modelos devido à diversidade e à tecnologia empregada. Aos 73 anos, mostra uma vivacidade juvenil quando o assunto é política, saúde pública e, principalmente, agricultura moderna. |
Tendência Municipal: Qual sua visão da política atual, nos níveis federal, estadual e municipal?
Luiz Carlos Gabriel: Primeiro, quero dizer que essas são minhas reflexões pessoais. Não quero ser, de modo algum, o “dono da verdade”. A política, no nível federal, vai bem para o governo e ruim para a oposição, que está distante do povo. Comparativamente, o governo do PT, em nível federal, é o melhor que o Brasil já teve – e o povo afirma isso, o mundo afirma isso, sente-se no dia-a-dia, está mais que claro, tanto que só 4% da população não concordam. No nível estadual, a política continua como sempre foi, isto é, administra-se o Estado para os “amigos”, os verdadeiros “donos” do dinheiro público – é informar-se sobre a educação, a saúde, a segurança pública etc. e constatar uma estagnação ou mesmo um retrocesso. No nível local, digo que a atual administração pode ser comparada a um “rojão”: subiu muito – e rápido – enquanto governou de modo diferente dos antecessores; hoje, cai vertiginosamente porque os atuais gestores do município estão assemelhados aos do passado.
TM: O senhor foi um dos mais proeminentes políticos do PT de Taquaritinga. Por que deixou o partido? Pretende retornar?
Luiz Carlos: Minha visão é que é possível fazer concessões, como as que Deus fez com os pecadores, como a história do filho pródigo e a história dos talentos... Mas não se vê trato de Deus com o diabo! Não sou Deus, óbvio, e nunca chegarei nem perto, mas não concordo que se faça trato com quem considero o “diabo” da política brasileira, paulista e taquaritinguense, por isso saí do partido. A filosofia petista, do nascedouro, e meu coração, batem em sintonia!
TM: Qual sua avaliação da atual administração municipal, especialmente em relação à saúde pública?
Luiz Carlos: Faço a seguinte analogia: você imaginou o Palmeiras sem o Felipão? O “elenco” médico de Taquaritinga é bom, já a “comissão técnica”... E o departamento financeiro, então? Parece o meu “Verdão”, sem lenço e sem documento! Há quem diz que “saúde pública é coisa séria, saúde privada é coisa síria” [em referência ao hospital privado Sírio-Libanês, de São Paulo]. Assim não dá certo!
TM: Como a agricultura moderna pode contribuir para a melhoria de vida da população de Taquaritinga?
Luiz Carlos: Já ouvimos “Taquaritinga, capital do tomate”, “Taquaritinga, capital da laranja”, “Taquaritinga, capital da cana”. Espero não constatar a afirmação “Taquaritinga, capital da miséria”. Dizia o grande cronista: toda unanimidade é burra. Assim é a monocultura. Por quê? Porque afunila a pirâmide social, à custa da base, que se expande. Ganham os poucos ricos, que nada investem na cidade; e perdem os muitos pobres e remediados, que não usufruem das riquezas do solo municipal. Nunca partiu do governo do município, do passado e do presente, nenhum estímulo à agricultura moderna, racional e inteligente, que poderia trazer benefício para a mesa do trabalhador, segurança para a vida futura e paz ao coração. Infelizmente, vemos valer a máxima: “ao povo, a maçã de Adão; aos amigos (políticos), os néctares dos deuses...”.
TM: A política faz parte de seus planos para o futuro?
Luiz Carlos: Só retornarei à política local se encontrar o Taquarão cheio de homens honestos e com o pensamento na coletividade.