quarta-feira, 13 de julho de 2011

Entrevista: Augusto Sabbatini




 


Nossa entrevista é com Augusto Sabbatini. Taquaritinguense, 47 anos, pai da jovem Nathalia, é um dos mais renomados profissionais do voleibol do Brasil. Nos anos 1990, foi assistente técnico das equipes do CAT-Voleibol, Sollo-Tietê e Recreativa de Ribeirão Preto. Construiu uma prodigiosa CARREIRA INTERNACIONAL, primeiro como treinador da equipe do Al Arabi Club do Qatar (2004/2005), depois como comandante das seleções masculinas da Índia (2006), Trinidad e Tobago (2007/2008) e Paquistão (2009/2010) – antes deste compromisso, retornou à Taquaritinga (início de 2009), sendo nomeado DIRETOR MUNICIPAL DE ESPORTES, cargo que ocupou por poucos meses.



Em 2011, prestou consultoria técnica para a seleção masculina do Vietnã, a serviço da Federação Internacional de Voleibol (FIVB), e acaba de assinar contrato com o Al Arabi Club do Kuwait, o mais importante do país, com a responsabilidade de dirigir a equipe principal e organizar o departamento de voleibol. Augusto conviveu com mestres do vôlei, como os consagrados técnicos Bebeto de Freitas, Brunoro, José Roberto Guimarães e Bernardinho. Sonha, um dia, voltar à terra natal para revelar talentos e, sobretudo, ajudar a formar cidadãos e cidadãs de bem. Exemplo de força de vontade, profissionalismo e amor ao esporte. De férias em Taquaritinga, concedeu-nos esta entrevista.


Tendência Municipal: Faça um resumo de sua vitoriosa trajetória no voleibol.

Augusto Sabbatini: Eu tive um professor de Educação Física, Francisco Gomes da Silva, o Seo Chico (quanta saudade!), que amava sua profissão e trouxe o vôlei para minha vida. No início, tive muita dificuldade com a coordenação motora; depois de muitos treinos, me adaptei e logo me apaixonei pelo voleibol. Graças ao professor Chico, comecei a jogar na escola, fui para equipes de base de Taquaritinga e passei a sonhar em ser atleta profissional. Joguei em algumas equipes em São Paulo, mas percebi que meu futuro seria como treinador. Queria ser um treinador do mundo! Em 1991, aos 26 anos, iniciei minha carreira de técnico. Simplesmente, eu adoro o vôlei, o esporte está dentro da minha mente, de minha alma!

TM: O Brasil, “país do futebol”, se tornou potência no vôlei, masculino e feminino, na quadra e na areia. A que você atribui essa espetacular evolução?

Augusto: A ascensão do voleibol brasileiro teve a contribuição de dois personagens: Carlos Arthur Nuzman, como dirigente e precursor do processo de profissionalização do vôlei no Brasil; e Bebeto de Freitas, como treinador. Sob o comando do Bebeto, a seleção brasileira jamais deixou de fazer parte da elite do voleibol mundial. Era um tremendo estrategista, não só nas questões táticas, de armar o time dentro da quadra, como em um item fundamental: o planejamento, que não era muito valorizado até então. Bebeto foi o homem certo para participar desse processo modernizador, tinha talento, conhecimento e sensibilidade para, mais do que viver o grande momento, ajudar a construí-lo. Armou uma seleção competitiva e, ao mesmo tempo, bonita de se ver jogar. Com a televisão transmitindo os jogos, ao vivo, para todo País, o público foi se chegando, familiarizando-se, torcendo, passando a acreditar no sucesso do Brasil diante das grandes potências mundiais do vôlei.

TM: Você conseguiu um feito notável do ponto de vista das relações internacionais: comandou as seleções da Índia e do Paquistão, países rivais, que travaram três guerras nas últimas décadas e que ainda mantêm uma relação muito tensa. Como lidou com essa peculiar situação?

Augusto: Foi uma experiência não muito agradável quando estive no lado indiano. Nos Jogos Sul Asiáticos, disputados no Sri Lanka em 2006, a cobrança era muito grande por parte da imprensa, coisa do tipo: “poderíamos perder para qualquer país, menos para o Paquistão!” Na época, sob muita pressão, enfrentamos a seleção do Paquistão na semifinal e vencemos por 3 sets a 0, tirando-a das finais, o que custou o cargo do treinador do time paquistanês. E fomos campeões, numa final contra o Sri Lanka. Já no Paquistão, em 2009/2010, não se via tanto essa rivalidade, acredito que pelo fato dos dirigentes locais terem uma idéia mais clara, distinguir que o esporte não pode se submeter à política. Sendo assim, no Paquistão, foi bem tranquilo.

TM: Você residiu em países de culturas, religiões e hábitos muito diferentes. Passou por nações muçulmanas, hindu, budista; transitou pelo Oriente Médio, Ásia e Caribe. Que lição tirou desse convívio heterogêneo?

Augusto: Não foi bem uma lição, e sim a confirmação, a certeza, de tudo que meus pais me ensinaram: somos todos iguais nesse mundo, independente da cor, raça, cultura, religião, nacionalidade, hábitos. Onde houver respeito, não haverá diferença!

TM: A vinda dos maiores eventos esportivos, a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), colocou o Brasil em evidência. Em Taquaritinga, o assunto também ganhou relevância com os Jogos Regionais. Como aproveitar esse bom momento para impulsionar o esporte no País e na cidade?

Augusto: Eu gostaria muito de estar errado, mas, infelizmente, o esporte no Brasil, hoje, não sobrevive mais pelos órgãos públicos. Se não houver ajuda financeira de empresas privadas (patrocínios) é praticamente impossível manter equipes de alto nível. Tivemos experiências recentes, como o Pan do Rio de Janeiro, em 2007, que, depois de tudo construído, muito se perdeu por falta de manutenção das praças, não mais usadas depois dos jogos. Estou muito feliz por Taquaritinga sediar os Jogos Regionais de 2011. Infelizmente (de novo!), não acho que o evento venha impulsionar o esporte em nossa cidade. A não ser que se mude toda a política para o setor, que o esporte seja priorizado, com a valorização dos profissionais de Educação Física e o aumento de funcionários para a manutenção diária das praças construídas. Se for assim, o esporte, em Taquaritinga e no Brasil, terá condições de revelar novos atletas, em várias modalidades. Fica a dica.

TM: Você reside no exterior há muitos anos. Como analisa a opinião que os estrangeiros têm do Brasil atual?

Augusto: O Brasil, lá fora, era um antes de Lula e outro depois de Lula. Antes, só se falava do Brasil no que diz respeito à “mulher brasileira, ao carnaval e ao futebol”; depois, com Lula, o Brasil ficou muito mais bem visto – e respeitado – pelo seu crescimento econômico, social e de outros seguimentos. Nosso País estreitou relações que até então eram distantes. Percebo que, hoje, o Brasil é respeitado de modo geral.

TM: Por fim, uma última pergunta: Taquaritinga tem jeito?

Augusto: Tenho paixão pelo que faço e acredito que é possível fazer acontecer. Sou fiel ao que sempre achei do voleibol, do esporte em geral, da vida: a vitória não é mais importante do que a certeza de termos feito todo o esforço para conquistá-la. Penso que não só Taquaritinga, mas o Brasil, têm jeito, sim! Para bom entendedor, poucas palavras bastam... No meu entender, há outro fator, muito importante, que fez do voleibol brasileiro o melhor do mundo, e deve servir de exemplo: quando o Nuzman deixou a presidência da CBV [Confederação Brasileira de Voleibol] para assumir o COB [Comitê Olímpico Brasileiro], Ary Graça assumiu a CBV e não mudou a política nem a forma de se administrar, pois não tem porque mudar o que está dando certo. Fica mais uma dica...

Um comentário:

  1. Obrigado Luis Bassoli, meu querido amigo e a todos pelo carinho e respeito. Beijo grande em vossos coracoes. Que Deus nos abencoe.

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