quarta-feira, 20 de julho de 2011

Entrevista: Dom Wilson Luís




 


Entrevistamos Dom Wilson Luís Angotti Filho, o primeiro taquaritinguense ordenado BISPO DA IGREJA CATÓLICA. Filho do advogado Wilson Angotti e da professora Iracy, é irmão do Rogério, da Maristela, da Viviane e da Fabiana. Tornou-se padre em 1982. Fez estudos de pós-graduação em Roma. Em maio de 2011, com 53 anos, foi designado pelo papa Bento 16 bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Ultimamente, atuava como assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina e Fé, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, e como membro do Instituto Nacional de Pastoral.



Wilsinho, como é chamado pelos amigos de infância e familiares, faz parte da nova geração de religiosos católicos, dedicado a cultivar a espiritualidade dos fiéis e sensível às questões ecológicas, ao desenvolvimento social, às relações de trabalho, ao combate à miséria etc. Por ocasião de sua vinda à Taquaritinga, para receber a ordenação episcopal, em 1.o de julho, concedeu-nos essa entrevista especial.


Tendência Municipal: O que o levou a seguir a vida religiosa?

Dom Wilson Luís Angotti Filho: Acredito que tal opção seja fortemente influenciada pela educação cristã e a vivência religiosa da família, como também meu engajamento na comunidade paroquial, sobretudo em grupo de jovens.

TM: Como enfrentar o desafio de valorizar a espiritualidade diante da sociedade de consumo, que se mostra cada vez mais materialista?

Dom Wilson Luís: Observando os países mais desenvolvidos – e mais materialistas – constatamos que o vazio existencial, a depressão e o número de suicídios é muito grande, sobretudo entre os jovens. O ser humano é, por natureza, disposto a Deus. Quem a Ele se fecha frustra uma dimensão importante de seu ser ou acaba por preencher esse lugar com outras crenças que não nos podem realizar plenamente. A melhor maneira de enfrentar isso é o testemunho daqueles que vivem a fé.

TM: Como o senhor vê o avanço das seitas neopentecostais (evangélicas), principalmente no Brasil?

Dom Wilson Luís: Creio que outras expressões religiosas vão ocupando espaço que a Igreja não atendeu suficientemente. Tal avanço, hoje já menos intenso, questiona profundamente nosso trabalho de evangelização, sobretudo nas periferias das grandes cidades.

TM: A Igreja Católica, no Brasil, manteve, por anos, estreitos vínculos com os movimentos sociais. Em sua opinião, a Igreja deveria se aproximar ou se afastar da política? Que diretrizes são apontadas pelo papa Bento 16 em relação ao assunto?

Dom Wilson Luís: A Igreja atua junto aos seres humanos, este é o seu ambiente. Tudo o que se relaciona à pessoa humana é área de atuação da Igreja. Fundamento disso é a própria encarnação do Filho de Deus, que assumiu a humanidade com tudo o que lhe é próprio. Eximir-se de atuar em uma ou outra área é relegá-la a não conhecer e não considerar os valores propostos pelo evangelho. O papa Bento XVI lembra que cabe aos cristãos, a exemplo do fermento, transformar as realidades sociais. Nesse sentido, a política é um meio privilegiado de ação. Aos ministros ordenados (diáconos, padres e bispos), porém, não cabe a política partidária.

TM: A crise gerada pelas acusações de pedofilia contra padres e religiosos católicos está superada?

Dom Wilson Luís: Esse não é um mal próprio da Igreja, como, talvez, setores da imprensa tenham pretendido configurar. É um mal da sociedade que, exaltando o prazer e o sexo, acaba vitimada pelo próprio mal que promove. A Igreja, como parte desse corpo social, também se ressente com tal problema, que causa estupefação por vir de onde não se espera. Entretanto, é bom lembrar que a pedofilia tem sua incidência predominante em ambiente familiar.

TM: Qual será sua função como bispo auxiliar de Belo Horizonte?

Dom Wilson Luís: Minha função é estar a serviço daquela igreja, dividindo as responsabilidades com o Arcebispo e os outros dois bispos auxiliares, que ali ora atuam. Nas grandes metrópoles é necessário que as atividades concernentes a um arcebispo sejam divididas com outros bispos auxiliares para implemento e dinamismo dos trabalhos pastorais. A Arquidiocese de Belo Horizonte conta com aproximadamente cinco milhões de habitantes; são mais de seiscentos padres e 265 paróquias; além de uma universidade católica com aproximadamente 64 mil alunos. Isso exige que o trabalho seja compartilhado.

TM: Há um particular no lema adotado para seu ministério episcopal. Explique-nos essa escolha.

Dom Wilson Luís: Eu assumi como lema de meu episcopado a expressão latina “Cor Unum”, utilizada pelo Cônego Lourenço Cavallini (padre que me batizou) para compor o brasão e o hino de Taquaritinga. Esta expressão bíblica significa “um só coração”. Ela é tomada dos Atos dos Apóstolos (4,32) e pretende ser uma afetuosa homenagem ao Cônego e à minha cidade natal.


BRASÃO DE ARMAS DO BISPO DOM WILSON LUÍS

Todo bispo tem um brasão episcopal próprio.
O chapéu simboliza Jesus Cristo, cabeça da Igreja; as doze borlas pendentes, em cor verde, simbolizam os doze apóstolos.
A cruz pastoral dourada, abaixo do chapéu, recorda que o ministério do bispo está em continuidade com o de Cristo.
O fundo do Escudo, na cor azul, invoca o infinito e o próprio Deus.
A flor de liz, no campo superior esquerdo, é referência à Nossa Senhora (N.S.a do Carmo é padroeira da Diocese de Jaboticabal, da qual Dom Wilson é oriundo; N.S.a da Boa Viagem é padroeira da Igreja Metropolitana de Belo Horizonte, onde inicia sua missão).
O lírio logo abaixo recorda São José, guardião da Sagrada Família e patrono de toda a Igreja.
O coração é referência ao Sagrado Coração de Jesus (em cuja celebração litúrgica deu-se sua ordenação) e também à caridade pastoral.
A cruz dourada, que perpassa todo o brasão, simboliza o trono glorioso de Cristo e sua redenção, e, ao apontar aos quatro pontos cardeais, recorda a universalidade da missão da Igreja.
As doze chamas dispostas de alto a baixo recordam-nos que a força vem do alto e remete aos doze apóstolos, dos quais os bispos são sucessores.
O listel prateado traz a inscrição “Cor Unum”, lema adotado em afetuosa homenagem à Taquaritinga.
O conjunto todo expressa a ideia de Igreja em comunhão.

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