segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Entrevista: Marcão Professor

  Falamos com Marco Antônio dos Santos, o Professor Marcão. Casado com a Denila Basso, pai da Luíza, nasceu em Jaboticabal, cresceu em Guariba e é taquaritinguense por opção e por direito (ostenta, com orgulho, o Título de Cidadão que lhe foi conferido pelo então vereador Alexandre Nunes). Especialista em América Latina pela UNESP, é um HISTORIADOR apaixonado: usa sua prodigiosa memória para gravar datas, nomes, fatos, e analisá-los seguindo a linha do tempo. Seus alunos agradecem! Lecionou História em Taquaritinga, Ribeirão, Orlândia, Jaboticabal, Matão; convidado pelo principal Cursinho de São Paulo, esteve entre os grandes professores do País. Decidiu voltar, descontente com o estressante cotidiano da Metrópole.
Sua história de sucesso não difere muito da História que tão bem ensina. Marcão, muito cedo, decidiu ser protagonista de sua vida, escreveu, de próprio punho, a própria biografia! Foi à luta, estudou, venceu pessoal e profissionalmente. Filiado ao PT, era o “apresentador” dos comícios do partido na região nos anos 1980, quando conheceu o então candidato Lula. Diretor-Proprietário do Colégio Anglo de Matão, Jaboticabal e Taquaritinga, não se afastou da sala de aula, para sorte de seus aprendizes: está no auge da sabedoria e da didática. Do garoto hippie ao empresário bem sucedido, uma história de vida construída no convívio com a História!


Tendência Municipal: Desde que “decretaram” o “fim da História”, a China passou a ameaçar os EUA como maior potência mundial; surgiram os BRICS; a Europa entrou em crise; o Oriente Médio se vê em plena revolução... Como você imagina o mundo daqui a 10 anos? A História não tem fim?

Professor Marco Antônio dos Santos: Acredito que a unipolaridade surgida com o fim da Guerra Fria chegou ao fim, pois outras potências emergentes, como China e Brasil, dividirão, entre si, a liderança e as responsabilidades econômicas e sociais de um mundo completamente diferente do existente hoje. Quanto à História... O homem é quem a faz, portanto, enquanto estivermos aqui...

TM: A política externa brasileira sempre se pautou por certa independência. Nos anos Lula houve uma aproximação com países periféricos, o que gerou críticas dos conservadores e elogios dos progressistas. Como você analisa a diplomacia do governo Lula? Há uma inflexão na política externa no governo Dilma a reaproximar o Brasil dos países centrais?

Marcão Professor: Com a chegada do Lula à presidência em 2002, a turma dos “barbudinhos” (capitaneada pelo Celso Amorim) assumiu o Itamaraty, exigindo do mundo maior respeito pelo Brasil. Acredito ser essa política irreversível; entretanto, com ela aumentam também nossas responsabilidades e, ainda, temos que aprender a aceitá-las e enfrentá-las.

TM: A eleição de Humala Olanta à presidência do Peru derrubou um dos pilares da “direita” no continente. Já no Chile, ocorreu o inverso: a “esquerdista” Michelle Bachellet foi sucedida pelo “conservador” Sebastian Piñeda. Afinal, para onde caminha a América Latina?

Marcão Professor: O passado populista e, mais tarde, esquerdista, da América Latina, sempre esteve vivo; talvez nos “porões” durante os anos 1970/80/90, devido às ditaduras. O caso do Chile é emblemático (mas, acredito, passageiro) por ter sido um dos pilares do socialismo latino-americano. Acredito que a postura de Lula tenha influenciado positivamente a esquerda no subcontinente, e é aqui que vejo para breve o surgimento de um modelo de governo que una economia de mercado ao atendimento das necessidades sociais pregadas pelo socialismo.

TM: O Brasil é o país do futuro?

Marcão Professor: O futuro é agora! Temos o privilégio de vivermos no momento em que o Brasil assume seu verdadeiro papel no mundo!

TM: Para finalizar: Marcão, qual a moral da História?

Marcão Professor: Povo que não conhece nem cultua sua História, não é um povo de verdade!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Entrevista: Manoel J. Pires

  Nosso entrevistado desta edição é Manoel José Pires Neto. Nasceu em Jurupema, é Advogado e escritor, autor de 22 livros. Residiu em São Paulo e no Rio de Janeiro, trabalhou como jornalista free lancer para diversos veículos de comunicação. Publica, nos jornais de nossa cidade, suas sofisticadas crônicas, a transitar sobre as nuances do cotidiano de Taquaritinga, São Paulo e Rio, entremeando relações amorosas com observações políticas e sociais. Manoel participou da Feira do Livro de Ribeirão Preto – e está sempre a criar. É, também, um leitor voraz, aficionado por Literatura, que, para ele, é a mais nobre das capacidades humanas. A seguir, os pensamentos deste profícuo escritor taquaritinguense.


Tendência Municipal: O escritor tem que ser, antes de tudo, um leitor?

Manoel J. Pires: Costumo dizer que ler e escrever são uma arte só. Quando uma pessoa se habitua à leitura ela se torna íntima da palavra, descobre a multiplicidade da palavra, os seus mistérios. Essa viagem do homem pelos caminhos da palavra é a experiência mais fascinante da vida. Só quem leu bastante tem consciência da força da palavra.

TM: Quais seus autores preferidos e como eles o influenciam?

Manoel: Dos autores brasileiros, gosto do romance regionalista. A formação cultural da minha geração foi “em cima” da literatura latino-americana. Para mim, o melhor escritor brasileiro é o Graciliano Ramos. Das “meninas”, é a Clarice Lispector. O melhor do mundo é o Gabriel Garcia Marquez. Gosto muito, também, de poesia: Drummond, Bandeira, entre outras figuras monumentais.

TM: Tendo em vista os grandes escritores “nativos”, como José Paulo Paes, Ivete Tannus, Dado Mendonça, Horácio Ramalho etc., é possível dizer que existe uma “literatura taquaritinguense”?

Manoel: Existe – e da melhor qualidade! Deveríamos organizar uma antologia desses escritores aqui da “casa”. E ainda: uma antologia para cada geração, pois temos literatura em quantidade e qualidade. Nenhuma cidade da região tem essa produção cultural.

TM: Como é seu processo criativo e quais suas fontes de inspiração?

Manoel: Não costumo falar em “processo criativo”. Escritores escrevem da mesma maneira que respiram. A palavra nasce, a frase nasce, como dizia Clarice Lispector. Fonte de inspiração é o elemento humano em relação com a vida, sempre. Eu escolho meus temas a partir daquilo que passa despercebido das pessoas. Gestos, palavras, gritos presos nos “recônditos da alma”. Uma mulher bonita, quando me entra pelos poros, merece sempre uma crônica...

TM: Fale-nos de sua mais recente obra, “Adeus Amor”. E está elaborando algum novo livro?

Manoel: No livro “Adeus, Amor”, chamei a atenção para a falta de sentimentos. Não foi uma despedida. Incrível como este livro repercutiu, não esperava tanto! Quanto à próxima publicação, “Sedução”, é um depoimento, não é ficção. Inicio nos anos 1970 e faço um traçado até hoje. Quem leu os originais disse que é um livro “forte”, que pode gerar polêmica. Acho ótimo! A cidade está precisando levar um choque de cidadania.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entrevista: Malu Monteiro

  Conversamos com a RADIALISTA Maria Lúcia da Silva, a Malu Monteiro. Alagoana de Arapiraca, taquaritinguense de fato e de direito (recebeu o Título de Cidadã em 2007), formada em Comunicação Social com habitação em Jornalismo. Corintiana roxa, é dona da mais marcante voz feminina da radiodifusão de Taquaritinga, repórter e apresentadora da CANAL UM FM. Sua aparência física – baixinha, esbelta, pele branquinha, ruiva – não “combina” com o vozeirão poderoso, que remete, por exemplo, às típicas cantoras de soul do sul dos Estados Unidos, geralmente negras e corpulentas!
De uma beleza singular, fica ainda mais bela pela simpatia, elegância e, principalmente, por transbordar uma alegria contagiante. Acostumada a perguntar, excelente entrevistadora que é, se mostrou à vontade ao se ver “obrigada” a responder, como entrevistada do TENDÊNCIA MUNICIPAL. Foi num clima de cordialidade que transcorreu esse descontraído bate-papo.


Tendência Municipal: Como começou sua história no rádio?

Malu Monteiro: : A minha história no rádio começou com o Cacá Monteiro, meu esposo, falecido há oito anos. Eu conheci o Cacá quando já era formada em Comunicação Social, na minha cidade, Arapiraca. Ele, a exemplo de outras pessoas da faculdade, elogiou minha voz, a achou muito bonita, e perguntou por que eu não trabalhava em rádio. Acontece que eu sempre “detonava” o rádio, achava o meio de comunicação mais “inferior”: numa escala de 0 a 10, eu dava zero pro rádio! E a todas as pessoas que elogiavam minha voz e me sugeriam trabalhar com radiodifusão, eu dizia que valorizava mais jornal, assessoria, televisão... Eu menosprezava o rádio! O Cacá insistiu bastante e eu levei em consideração a experiência que ele tinha no ramo. Bom, eu sou virginiana... E virginiana é muita desconfiada, “pé-atrás”, para confiar demora um pouco... Depois disso, acabei admitindo que tinha muito a ver com o rádio!

TM: Qual o maior desafio que a mulher enfrenta no mercado de trabalho em geral e na área da telecomunicação em particular?

Malu: Em minha opinião, é a tripla jornada de trabalho. É cansativo demais, ainda mais se você não tem um companheiro que ajuda nas tarefas de casa. Já avançamos muito nesse processo, mas, ainda, a maior parte dos trabalhos de casa fica para nós, mulheres. E não é diferente na minha área, a comunicação: como em todas as profissões, a tripla jornada é o maior problema, sobretudo para as mulheres que têm filhos, o que não é o meu caso, pois sou muito “medrosa” para ser mãe... (risos)

TM: Seu trabalho na Canal Um FM é reconhecido como o mais importante já alcançado por uma mulher na história de Taquaritinga. Como descreve sua relação com os tele-ouvintes?

Malu: Eu gosto muito do “ser humano”, sou apaixonada pelo ser humano, somos muitos “ricos”, mesmo aquele assassino em série, o estuprador, aquela pessoa que está nas cadeias e penitenciárias da vida, um Ahmadinejad da vida (risos), é um “serzinho” único, cada um de nós é uma “riqueza”. Então, tenho uma relação muito boa não só com meus ouvintes como também com os entrevistados... Prezo muito meus ouvintes, os amo como seres humanos, assim como amo os que não são meus ouvintes!

TM: A imprensa é considerada o “quarto poder”, tamanha a capacidade de influenciar nos destinos da sociedade. Qual deve ser o papel dos meios de comunicação no desenvolvimento social?

Malu: A imprensa tem um papel fundamental! Quanto mais o ser humano tiver acesso à escola, aos meios de comunicação, às maneiras diferenciadas de aprender, de “enriquecer”, melhor! Eu, pelo menos, que sou jornalista, profissional da comunicação e membro do “quarto poder”, levo isso muito a sério. Quanto mais informação, quanto mais conhecimento se levar à sociedade e ao público de um modo geral, mais válido é o meu trabalho e mais abençoado pelo Deus que eu tanto acredito!

TM: O profissional da imprensa, por estar em contato com a população, pode adquirir considerável potencial político – e muitos tiveram sucesso na vida pública. Você tem planos de, algum dia, se candidatar a algum cargo eletivo?

Malu: Olha, desde que eu e o Cacá, meu esposo, viemos trabalhar em Taquaritinga, primeiro na Rádio Mensagem FM, tínhamos uma audiência de quase 100% no Jornal da Mensagem, com Jair Motuca, Clóvis Hipólito. E continuamos com muito sucesso na Canal Um. É verdade que nosso trabalho é um trabalho público, que dá projeção ao profissional. Meu marido, desde aquela época, me dizia que eu teria grande chance de me eleger em Taquaritinga, o que muitos concordavam, falavam que eu tinha um grande potencial, que tinha (e tenho) muita aproximação com as mulheres, enfim. Eu reconheço que posso ter esse potencial, pelo que vejo e escuto. Bom, respondendo, objetivamente, à pergunta se tenho planos de me candidatar a um cargo público: Não! Mas agradeço imensamente a confiança que o público deposita no meu trabalho, na minha forma de ser, só que nunca pensei em ser vereadora, prefeita ou vice-prefeita de nenhuma cidade. São cargos de muita responsabilidade, que admiro muito, mas nunca pensei não! Obrigada pela entrevista!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Entrevista: Alexandre Nunes

  A entrevista do TENDÊNCIA MUNICIPAL é com o advogado Alexandre Marin Nunes da Silva. Casado com a Maiara Prandi, filho do Dr. Flávio e da Dona Diva, pai do Samuel, neto dos saudosos Adail Nunes da Silva, o Negão, considerado o maior político da história de Taquaritinga, e do Maestro Marin. Foi VEREADOR por dois mandatos e mantém ativa participação no PMDB – é amigo pessoal do deputado estadual Baleia Rossi e sobrinho do ex-prefeito Tato Nunes, presidente do diretório local. Crítico do prefeito Paulo Delgado, com quem travou uma tensa relação ao liderar a oposição na Câmara Municipal, Alexandre terá importante papel nas eleições de 2012.


Tendência Municipal: Faça-nos uma análise de seus dois mandatos de vereador. Quais as conquistas e as decepções?

Alexandre Nunes: Analiso meus dois mandatos como entrega absoluta ao meu cargo. Passei quase uma década na Câmara Municipal e, sem falsa modéstia, fui um parlamentar bastante ativo. Fiz parte da situação e também da oposição. Orgulho-me de afirmar que nunca ocupei nenhum dos dois lados de maneira sistemática. Milton Nadir pode confirmar o quanto de trabalho dei a ele! Quanto a Paulo Delgado, nunca menti, nunca me omiti, e sempre fiz minhas denúncias e manifestações municiado de provas e fatos. Minha consciência é absolutamente tranquila. Em relação às conquistas, caso dependesse, na maioria dos casos, apenas do Legislativo, teria alcançado um número voluptuosamente maior de sucessos. O grande problema é a dependência brutal em relação ao Poder Executivo. Para os leitores terem uma idéia, a Câmara não pode versar (fazer projetos de qualquer natureza) sobre verbas públicas. Agora, para não ficar apenas nos lamentos, tenho muito orgulho de realizações que foram pontuais na minha passagem. Posso citar, em primeiro lugar, minha eleição com apenas 29 anos, um “juvenil” em termos de Taquaritinga. Acredito que, depois do meu ingresso, vários outros jovens se motivaram a tentar a vida pública. Entre centenas de requerimentos, indicações e projetos, destaco a Câmara Itinerante, que vem revolucionando as sessões parlamentares no município desde sua aprovação (e que deveria se espalhar pelo País, em minha opinião), levando os vereadores diretamente ao meio do povão. Outra “menina dos meus olhos” é a creche Emília Menon Nunes da Silva, no Lopes Moreno. Foram dois anos de luta ferrenha com a CDHU para poder transformar um centro comunitário, utilizado como banheiro e ponto de drogados, em um espaço para 70 crianças. Quando se consumam realizações desse nível, não dá para descrever a sensação. Quanto às decepções, não dá para enumerar. Traições, conchavos, compra e venda de votos, companheiros pulando de palanque como ratos pulam de navio afundando, as respostas negativas constantes e sem fundamentos dos outros dois poderes perante o Legislativo, etc. A maior de todas, porém, é se entregar de corpo e alma a uma cidade e pagar caro por isso. Taquaritinga, ao menos nas últimas eleições, penalizou quem falou a verdade. Mas tenho certeza de que o tempo será minha principal testemunha. Aliás, já está sendo!

TM: Desde 2008, a oposição ficou restrita a apenas um dos dez vereadores. Essa composição ajudou ou prejudicou o município?

Alexandre: Prejudica sempre, em todos os sentidos e em todos os níveis de governo! Sem voz de contestação que chegue aos ouvidos dos que estão com a caneta, como é que o povo pode se manifestar? No meu modo de pensar, uma cidade, um Estado ou um país que têm governos absolutos, sem opiniões contrárias, vive na obscuridade. Beira à ditadura. O caso da atual Câmara de Taquaritinga é emblemático. O prefeito não fez do Legislativo apenas o quintal da prefeitura, tomou-o por inteiro! Tanto que pegou o prédio do Parlamento para abrigar seu gabinete e o resto da prefeitura. Não existe governo sem oposição. É maléfico até para quem governa.

TM: Como vereador, você se mostrou crítico do prefeito Delgado e do então presidente Lula. Diante do novo contexto, com seu partido sendo o maior aliado da presidenta Dilma, qual sua opinião sobre a aliança nacional PMDB/PT?

Alexandre: Minhas opiniões sobre Lula e Delgado continuam as mesmas. São governos muitíssimo parecidos, baseados em invencionices e falácias. Divulgam o que não fizeram, tomam para si o que outros executaram e batem diariamente nos governos passados e nas tais “heranças malditas”, que são absolutamente mentirosas. Lula “herdou” de FHC o Plano Real. Deixou para Dilma um ministério de cafajestes e 98% das obras do PAC que não realizou (mas que registrou em cartório como concluídas). Delgado “herdou” de Nadir o distrito industrial. Não sabemos o que vai deixar. “Marquetismo” político na sua essência. Em relação às alianças, sigla já não vale grande coisa. Todos os partidos estão empesteados de patifes. O que tem de acontecer, até para o crescimento moral dos próprios partidos, é a população começar a extirpar, pelo voto, as doenças (políticos) que estão fustigando o Brasil. Somente assim acabaremos com o lamaçal que nos assola. As alianças partidárias podem e devem ser feitas, porém, com gente que presta.

TM: Seu nome é sempre citado dentre os possíveis candidatos a prefeito. Pretende disputar a indicação do PMDB ao cargo ou tentará retornar à Câmara?

Alexandre: Ainda não discuti o assunto com o partido e com minha família (principalmente com meu pai e meus tios, que são meus mentores). Contudo, posso adiantar que voltar à Câmara não é dos meus principais objetivos.

TM: Para encerrar: a política taquaritinguense, desde os tempos do Negão e do Waldemar, é um “emaranhado” de correlações de forças: PMDB, PT, PSDB, PV, PPS, PDT, PTB, PP já foram, conforme o momento, aliados e adversários entre si. O que esperar para 2012?

Alexandre: Até o momento, não tenho a mínima idéia!