quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entrevista: Lígia Morena




 


Nossa entrevista é com a cantora e compositora Ligia Constantini, a Ligia Morena. Taquaritinguense, filha do Benito Constantini e da Eva, sobrinha da professora de música Dona Catarina (a Titina), de quem herdou o talento musical. Lígia começou sua carreira como um ideal de vida nos anos 70. Obstinada, lançou-se no universo da música com paixão, ganhou vários festivais como cantora e compositora. Mudou-se para São Paulo, onde realizou grandes trabalhos, sempre com a personalidade artística que é sua característica.



É uma daquelas vozes que a gente ouve e não esquece mais, vibrante e definida. Em “O Canto Moreno de Clara Nunes”, uma revisitação ao trabalho de Clara Nunes, percorreu São Paulo, interior e outros Estados durante um ano e meio, acumulando maturidade profissional. A cantora e compositora Luli assim a define: “Lígia é um passeio atemporal pelas raízes do cancioneiro popular”. Com vocês, Lígia Morena!
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Tendência Municipal: Como a música entrou na sua vida?

Lígia Morena: A música entrou na minha vida aos 6 anos quando ouvi Nara Leão cantando A Banda, de Chico Buarque. Me apaixonei pela música e ela se fez parte de mim. A partir daí, nunca mais parei. Participei de vários festivais música na minha cidade Taquaritinga, trabalhei como cantora em conjuntos de baile e achei que era pouco, precisava crescer, fui atrás de novas oportunidades. Deixei minha cidade natal e fui para a Capital, onde me profissionalizei. Hoje, estou em meu segundo trabalho solo.

TM: Qual o seu estilo musical. Que tipo de música você compõe e gosta de interpretar?

Lígia: Meu estilo de música é a música popular brasileira, em seus vários estilos, mas sou pop, sou samba, sou raiz, sou MPB!

TM: Você acha viável para Taquaritinga um projeto de inclusão social, que tenha a música como principal agente?

Lígia: Com certeza! Como estou “dentro” da música, como educadora, percebi a importância de se criar oportunidades para talentos que, às vezes, estão ofuscados por uma realidade cruel, mas com muita necessidade de expressão e sede de conhecimento para poder se entregar, o que abrira os olhos para um futuro diferente. A música tem o poder de nos transportar, transformar, harmonizar. Acredito que Taquaritinga tenha muitos talentos escondidos à espera de ser descobertos!

TM: O que significa Taquaritinga para você?

Lígia: Taquaritinga é minha casa, minha família, onde tudo começou na minha vida. Fico feliz de ser recebida de braços abertos por minha cidade, que é maravilhosa, cidade que cresce em todos os aspectos, inclusive na arte e em sua musicalidade.

TM: Fale sobre o seu último trabalho e como podemos ouvi-lo?

Lígia: Me novo trabalho chama-se “A Cara do Brasil”, e nasceu da vontade de cantar as raízes da nossa cultura, em uma época onde a globalização em seu aspecto negativo nos leva a mergulhar no esquecimento da identidade cultural do nosso País. Então, esse trabalho resgata, através da música, parte desta cultura tão rica, de uma forma moderna e atual. É dividido em duas partes: a primeira é a valorização dos grupos indígenas como guardiões da nossa riqueza natural, raízes de nossa cultura nativa, a música cabocla e poética; a segunda parte do CD nos leva ao mundo das raízes africanas, tão presentes no nosso cotidiano. A mistura e fusão dessas duas etnias, africana e indígena, nos mostra realmente qual é a verdadeira Cara do Brasil. O maior objetivo deste trabalho é o resgate do orgulho da nossa identidade cultural, não poderia haver melhor meio para a realização desse objetivo do que usarmos a linguagem universal da Música.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Entrevista: Getúlio Enéas De Paula




 


O nosso entrevistado, Getúlio Enéas De Paula, nasceu em Tremembé/SP, passou a infância em Taubaté, mas é taquaritinguense de coração. Casado com a Iraídes há 50 anos, pai do Marco (Depa), da Patrícia e do Marcelo (Cecéu), avô da Bruna, Thiago, Gabriela, Larissa, Marcelinho e da Lívia. Atua no ramo de seguros há meio século, proprietário da mais tradicional corretora da cidade, Getúlio Seguros. Autodidata, tem uma história de vida única, construída com muito esforço e dedicação, sempre atento à ética e à solidariedade. Nos anos 1980, vivenciou uma experiência insólita ao viajar ao Líbano, em plena guerra civil.



Apaixonado pela vida, um exemplo de que é possível aliar sucesso profissional com dignidade pessoal. Bem humorado, amigo, leal, ótima companhia. Um homem de fé! Vale a pena ouvir (ler) o que ele tem a dizer.


Tendência Municipal: Conte-nos um pouco de sua história, sua infância em Taubaté e como – e por que – veio à Taquaritinga.

Getúlio De Paula: Nasci em Tremembé e não conheci meu pai, era época da Revolução de 1932. Ele sumiu, simplesmente desapareceu sem deixar rastro. Depois de completar o primeiro ciclo escolar, ingressei no curso de admissão, foi quando perdi minha mãe – tinha 12 anos e uma irmã de 18. Tive que trabalhar para continuar, fiz de tudo nessa vida: fui engraxate, carregador de mala na estação de trem, vendedor de coxinha na Central do Brasil, de Taubaté a Cruzeiro (na divisa com o Estado do Rio de Janeiro), cortador de lenha, ensacador de carvão. Com 15 anos, trabalhei em uma empresa têxtil e como ajudante de farmácia. Com 17, fui contratado pelo DER [Departamento de Estradas e Rodagem] – o salário atrasava até nove meses e todo pagamento tinha que passar procuração, sofrendo 20% de desconto. Daí, parti para uma empresa de transporte, rápido de frutas e verduras, fazia a rota SP-Rio – 400km de pista única. Voltei ao DER, o governo Jânio Quadros moralizou o funcionalismo público estadual, pondo o pagamento em dia. No departamento, prestei concurso para a cobrança de pedágio e escolhi Taquaritinga. Foi amor à primeira vista!

TM: Como se desenvolveu o mercado de seguros no Brasil nesses 50 anos?

Getúlio: Comecei no ramo de seguros como uma opção pelo tempo que eu tinha disponível. De 1960 até a presente data, o seguro mudou demais, para melhor. O pouco que eu tenho na vida devo ao seguro: “pouco com Deus muito é; muito sem Deus é nada”. O começo de minha vida profissional era muito diferente, fazia de tudo, segurava, vistoriava, liberava, enfim. A categoria de corretor de seguros não existia, a classe passou a ser regulamentada em 1964 com o regime militar.

TM: Com sua experiência, que análise faz da atual situação socioeconômica brasileira?

Getúlio: Em relação à situação socioeconômica, senti a diferença no Plano Real, graças ao presidente Itamar Franco e seu ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que vem dando certo até os dias de hoje.

TM: O senhor esteve no Líbano, no auge da guerra civil, considerada uma das mais sangrentas do século 20. O que o levou para lá e o que se recorda dessa situação?

Getúlio: Em 1980, fui convidado pelo meu amigo e compadre Nahin Nagib para participar de uma Feira de Embalagens na Alemanha. Lá, meu amigo recebeu um telefonema informando que sua genitora, que morava no Líbano, estava muito mal de saúde, talvez não passasse daquele dia. Entre voltar ao Brasil e acompanhar meu compadre ao Líbano, mesmo estando em guerra, fui para o Líbano com ele. Aterrissamos em Beirute, reduto muçulmano, e fomos para a cidade de Juni, nas montanhas, dominada por cristãos. Apesar do medo, foi uma experiência fora de série, o povo libanês é muito hospitaleiro e amigo. Recordo de um fato extraordinário, uma mina de água doce, potável, que brota do Mar Mediterrâneo, perto do porto da cidade libanesa de Trípoli, que não se mistura com a água salgada, onde os navios se abastecem para uso próprio. Foi uma viagem inesquecível!

TM: O que Taquaritinga tem de especial?

Getúlio: Se existe um paraíso, Taquaritinga, para mim, é o paraíso! Não acredito em reencarnação, mas se ela existir, é para Taquaritinga que espero voltar! Novamente! A população de Taquaritinga é entre 50 e 60 mil habitantes. Na realidade, é muito mais de um milhão!!! Pessoas pelo mundo todo! Quando você está fora do País e encontra um conterrâneo, mesmo que não seja de sua intimidade, seu coração parece que vai explodir de felicidade! Meu vocabulário é muito pobre para falar da grandeza deste pedaço de chão abençoado por Deus!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Entrevista: Neco Pagliuso




 


Conversamos com Alfredo Luís Giglio Pagliuso, o Neco. CINEASTA, poeta, fotógrafo, videomaker. Taquaritinguense, 44 anos, filho de uma bióloga com um engenheiro. Palmeirense – para quem não sabe, foi um habilidoso jogador de futebol de salão: fez parte de um time notável da Escola 9 de Julho nos anos 1980, ao lado do empresário Paulo (Zú) Barbosa no gol, Paulinho Andreghetto (funcionário do Colégio Objetivo), Beto Micheloni (médico e vereador) e do irmão Miguel (Manzo) Pagliuso. Cursou Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo do Campo (FEI) – até o amor ao cinema falar mais alto.



Na década de 1990, matriculou-se no curso de Cinema da Oficina Oswald de Andrade de São Paulo, fundou a produtora Formas do Olhar e trabalhou com diretores renomados, como Luiz Rosemberg, Andrea Tonacci, Rogério Sganzela. Produziu e dirigiu vários curtas, exibidos no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Centro Cultural Itaú e na TV Cultura. É autor do livro Poesias para Celular. Em 2007, foi o homenageado especial da 2.a Mostra de Arte Moderna e Contemporânea, organizada pela artista Marjorie Salvagni, com apoio da secretaria municipal da Cultura, no Colégio Objetivo de Taquaritinga. As visões do Neco sobre cinema contemporâneo, TV, futebol, religião e o futuro da arte.


Tendência Municipal: Há um novo Cinema Novo?

Neco Pagliuso: Como disse o diretor Fernando Meirelles [autor de Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira, entre outros], o que é chamada de “a retomada do cinema brasileiro” é caracterizada mais pelo modo de produzir os filmes do que por uma busca estética, como era o Cinema Novo. Mas, se considerarmos que, assim como no Cinema Novo, há uma valorização da identidade brasileira com a diversidade de filmes atuais, e que também essas diferenças trazem um novo olhar sobre o País, talvez seja uma nova estética.

TM: Você assiste a filmes de Hollywood?

Neco: Poucos, já assisti mais. Praticamente foi assistindo Spielberg que comecei a gostar de cinema.

TM: Existe vida inteligente na TV?

Neco: “A televisão me deixou burro muito burro demais. Agora todas as coisas que eu vejo me parecem iguais”. Essa frase de uma música dos Titãs tem seu valor, só que não posso dizer que tudo na TV é ruim, mesmo porque fui formado em parte por ela. Teóricos dizem que o futuro da televisão é “uma pessoa falando, com uma câmera na frente”. Porém, atualmente, acho que existem programas bons, como o Café Filosófico, da TV Cultura, ou mesmo o Canal Brasil, transmitido pela TV por assinatura, que deveria ser um canal aberto devido a sua importância cultural para o País.

TM: Na adolescência, você se destacava no futebol de salão. Acompanha o futsal moderno?

Neco: Perdi meu interesse para o esporte em geral, mas ainda gosto de ver jogadores habilidosos, tanto no campo quanto no salão.

TM: Um poema seu diz: “No centro de Deus eu”. Como vê a religião?

Neco: A intenção dessa poesia foi mais brincar com a ideia de que no centro da palavra “Deus” existe a palavra “eu”. Já fui católico praticante, “quase coroinha”, frequentava a igreja. Hoje, prefiro acreditar mais na Ciência. Tenho até uma definição para o mistério da existência: “O que contêm, também está contido” e gosto também de uma frase que diz: “Tudo é do homem, tudo vem para o homem”.

TM: Existirá a 8.a Arte?

Neco: Dizem que vivemos em uma época incomum nas artes, na qual tudo já foi feito. Todavia, acredito que, talvez, com as misturas que vêm sendo realizadas entre as diferentes manifestações artísticas – ou até mesmo desse “tal mercado” – ou da tecnologia, possa sair algo que transcende, sendo, assim, considerado uma nova arte.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Entrevista: Denise Locilento




 


Conversamos com a cabeleireira, dançarina e coreógrafa Denise Locilento. Filha do advogado Kiko Locilento e da prof.ª Regina, é irmã da Viviani (arquiteta) e do Ricardo (médico) e mãe da Isadora. Proprietária do sofisticado salão Oficina da Beleza, trabalha também no salão Thomaz Pileggi, em Ribeirão Preto. Formada em Dança pela Universidade de Santos, é coreógrafa e diretora da Cia. de Dança Francisco Duarte, professora de dança da Escola Técnica de Arte Municipal Santa Cecília e responsável técnica do Ponto de Cultura PORTIDANÇANDO APM-ETAM.



Apaixonada pela arte, especialista em balé moderno e dança contemporânea, apresentou-se, com sucesso, em festivais e eventos em Taquaritinga, Ribeirão, São Carlos e Joinville. Um bate-papo sobre a “Arte da Dança”, política cultural, Cine São Pedro, Conservatório Municipal e de suas participações no “Dança Ribeirão”, um dos principais festivais do País.


Tendência Municipal: Quando começou sua paixão pela dança?

Denise Locilento: Dança é uma linguagem, com a qual expressamos sentimentos, emoções, tendo como instrumento o corpo, através do movimento, num universo de energia, tempo e espaço, com fluência e dinâmica. É uma concepção de olhar o “Mundo que Dança”. Penso, então, que a minha paixão se iniciou quando meu pai e minha mãe me proporcionaram a vida, me incentivaram à curiosidade, o aprender constante, com muita humildade. Renata Tannus foi minha mestra taquaritinguense, me orientou que na Arte da Dança a formação não se limita só à prática e sim em estudos teóricos. Batalhei muito até meu ingresso na Faculdade de Dança, onde colclui meu ensino superior. Considero que o aprendizado é constante, estou sempre me reciclando, meu lema é: aprender, observar e pesquisar.

TM: Como você descreve o desenvolvimento da dança em Taquaritinga?

Denise: Há muitas décadas o Conservatório Santa Cecília vem sendo considerado uma escola de alto nível, foi nesta instituição que iniciei meus estudos. Devido ao trabalho dos excelentes diretores, professores e coreógrafos que se destacaram e ainda fazem parte de renomadas escolas e companhias de Dança, que o Conservatório se tornou uma referência na região. Porém, mesmo tendo um bom nível de ensino, se restringia à categoria de “escola de dança”. No ano de 1992, as visionárias educadoras, Darci Ferrari de Camargo Lima e Angélica Malachias, me convidaram para participar da comissão que transformaria a escola de dança em “curso Técnico”: a ETAM Santa Cecília foi então aprovada e reconhecida pelo MEC, uma grande conquista para a cidade e toda a população, já que é a única escola técnica pública de Dança do País! Desde então, vem sendo desenvolvido trabalho de formação de bailarinos e professores, os quais fomentam diversas instituições de ensino público e privado, inclusive em universidades Estaduais e Federais.

TM: Em comparação com outras cidades da região, o incentivo à cultura em Taquaritinga é satisfatório?

Denise: A meu ver, o incentivo à cultura não é apenas responsabilidade da Administração pública (municipal, estadual e federal), também pertence à iniciativa privada e toda comunidade. Procuro dizer que uma cidade como Taquaritinga, que possui artistas e artesões, em diversas áreas, realizando obras maravilhosas, é uma cidade que possui cultura. O que falta para os artistas, não só de Taquaritinga, mas de uma maneira geral, é união, humildade, organização e centralização. Para isso, precisamos de conscientização da sociedade artística e dos gestores da política cultural. Outro aspecto importante é ter um “espaço cultural”, o que não possuímos. Há cinco anos, com o fechamento do Cine Teatro São Pedro, nossa cidade perdeu a única referência de espaço. Tenho fé que quando o projeto de transformá-lo em um centro cultural estiver concretizado, teremos um ‘up grade’ no que se refere à cultura. Alguns municípios vizinhos já estão um passo à frente por terem tanto espaços culturais como conselhos municipais de Cultura. Recentemente, foi lançada em Taquaritinga, no “Centro Etílico Cultural Gastronômico Burro Voador”, a semente para a formação do nosso Conselho, organização que dará um grande impulso introdutório da nossa cidade, na política cultural do nosso País.

TM: Quantas vezes você participou do “Dança Ribeirão”? Sentiu alguma evolução nos grupos taquaritinguenses?

Denise: Participo do “Dança Ribeirão” desde 1997. Na época, o Cine Teatro São Pedro era também nosso espaço de aulas, ensaios e gravações. Mover todas essas ações em um palco como o que tínhamos lá, amadureceu nossos bailarinos na Arte da Dança, os resultados foram extremamente positivos: várias premiações e boas críticas de jurados renomados da dança, tanto de minhas coreografias, como também dos meus parceiros Francisco Carlos Tibério e Helle Nice Raile Riccardi, o que não ocorre atualmente. Hoje, nosso espaço de trabalho se limita a uma sala de aula de dança e uma sala de estudo, com apenas 50 minutos hora/aula-ensaio.

TM: Seria viável organizar um "Dança Taquaritinga", guardadas as devidas proporções em relação ao evento ribeirão-pretano?

Denise: Não. Extremamente inviável, pois não temos sala para espetáculos.

TM: O seu trabalho na Oficina da Beleza (corte de cabelo, maquiagem, estética etc.) também pode ser considerado uma forma de manifestação artística?

Denise: Totalmente! Minha tesoura é como se fosse o “instrumento corpo”, sou coreógrafa dela no “espaço cabeça”, criando variados movimentos e estilos. Gosto de citar uma frase de Nietzsche: “Já que de arte nesta terra não se vive, que a arte ajude a fazer viver”.