quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Entrevista: João Perroni




 


Nesta edição, conversamos com João Luiz Perroni, proprietário da CHOPPERIFERIA BAR, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1984. Taquaritinguense, ou melhor, jurupemense, morou por décadas em São Paulo, onde geriu, com sucesso, os emblemáticos BEBERICANTO e SERENÔ, bares/espaços culturais frequentados por políticos, jornalistas, artistas e estudantes, trabalhadores, casais... João é um artista multifacetado, poeta, escritor, compositor, desenhista, músico. Em 1982, juntou-se aos amigos Mineiro, Mário Carvalho e Nico Rezende para gravar o LP “Conviver”, considerado pela crítica um trabalho de altíssima qualidade.



De personalidade forte, é militante político de “esquerda” e ecologista convicto. Fundador do diretório municipal do PT, abandonou o radicalismo e age com independência. Apaixonado pela arte, sua Chopperiferia está sempre aberta para artistas da cidade e região expor livros, músicas, fotografias, pinturas, vídeos etc. A seguir, um pouco de João Perroni, de seu estilo único, suas opiniões incisivas, sua capacidade de transcender à linguagem comum – e seus neologismos...


Tendência Municipal: Você é poeta, músico, compositor, desenhista. De onde vem essa versatilidade? Quais são suas fontes de inspiração?

João Perroni: “Poeta, compositor” é uma conjugada expressão na falta de parceiros disponíveis... “Músico”: No comparativo, tô longe! Sou um mero tocador de violão para precisar minhas composições e tocar algumas pérolas da MPB. “Desenhista”, não! Sou um traçante de idéias que precisam ser avivadas. “Fontes”: ver e ouvir. Sou um “voyeur” atento ao belo gratuitamente cedido pelo nosso planeta e ao triste visceral da humanidade. “Inspiração”: redundando – é como o ar que respiramos. Se faltar, acabou...

TM: Conte-nos um pouco sobre o Serenô.

João: “Serenô”: batizei e foi crismado e criado por atores, artistas plásticos, jornalistas, intelectuais, músicos e toda espécie restante da “fauna” atuante no mercado. Dali, o meu primeiro texto musical-teatral: “O catador de papéis”, apresentado em curta temporada no Tuquinha [teatro da PUC/SP]. E a minha prazerosa amizade e parceria com músicos, compositores, teatrólogos.

TM: E o Bebericanto?

João: “Bebericanto”: apenas mudou de endereço, de espaço físico. Quase toda a “prole” veio do Serenô com o novo mobiliário; outros fantásticos somaram convivência. Até que, em 1982, atrevemos o LP “Conviver”, gravado graciosamente no estúdio do Rogério Duprat – “maestroso” [Duprat foi dos principais maestros e arranjadores do Tropicalismo]. O LP, bem absorvido pela crítica, teve músicas tocadas em rádios como a USP FM, Eldorado, Cultura etc. Neste clima, escrevi o texto-musical-teatral “Independente ou morte”, apresentado no auditório “Cidade de São Paulo”, anterior “Márcia de Windsor”, por duas semanas de casa lotada. De lá pra cá, nestes 28 anos da “Chopp”, tô eu – sob a mesma direção – rodeado de personagens vivos e saudosos. Mas aí já são outras histórias...

TM: Taquaritinga possui tradição artística, gerou talentos das mais variadas vertentes. O que fazer para que essa característica seja aproveitada para fomentar a economia local?

João: Agrupar! A criação solitária precisa desabrochar, ser vista, ouvida, criticada. Nenhuma gaveta merece o peso do esquecimento. Com um agrupamento relevante e sério, apoiado por uma gestão municipal séria, as cabeças pensantes terão prazer em fluir idéias que poderão gestar economia cultural ao município.

TM: Diante da omissão do poder público na elaboração de um projeto cultural institucional para Taquaritinga, você, pessoalmente, há algumas décadas, criou um espaço próprio na “Chopperiferia”, onde foram desenvolvidas experiências extremamente valiosas, como mostras musicais, exposições etc. Fale-nos um pouco sobre isso.

João: Falar sobre o essencial artístico, literário, vívido na “Chopp”, requereria um “textão” e o meu “tesão”, no momento, declina... Receio deixar de citar personalidades sensíveis neste presente. A “Chopp” está viva, levemente ativa, mas viva! Dessa forma, não passei a limpo ainda... E como já disse aí atrás, à “Chopp” já seriam muitas outras histórias. Ah, quanto ao poder (é) público e (é) notório o meu pensar – e pesar – por ele. Portanto... Beijos e obrigado pela entrevista.

Chico Rodrigues

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Entrevista: Chico Rodrigues


EDIÇÃO COMEMORATIVA – n.o 25 – “Jubileu de Prata”.

Encerra-se, assim, um ciclo. Depois de um curto recesso, o TENDÊNCIA voltará às telas com mais entrevistas e nova diagramação – com a característica de sempre: isento, plural, gratuito, apartidário, sem vínculo com nenhum órgão público e sem interesse comercial.


Chico Rodrigues

 


Batemos um papo com o taquaritinguense Francisco Rodrigues Santos, o Chico. Formado em Publicidade e Propaganda pela UNAERP, está há 10 anos em São Paulo. Sócio do conterrâneo José Luís Mirabelli, desenvolve aplicações na internet em projetos de consultoria para os mais variados segmentos do mercado. Talentoso desenhista, com traços simples e marcantes, suas CHARGES, publicadas em jornais da cidade e na internet, transitam com sutileza e ironia por entre o cotidiano e o mundo da política; suas caricaturas e desenhos estampam muitas das camisetas do tradicional bloco carnavalesco BATATA DOCE – que, ao lado do Corinthians e do CAT, é uma de suas grandes paixões.

Foi “braço direito” do inclassificável Luiz Mirabelli nos últimos anos do jornal-sátira INCITATUS. Mais que empresário bem sucedido, animado folião e artista nato, Chico é uma ótima companhia. Faz parte do raro tipo de pessoa que espalha alegria por onde passa.


Tendência Municipal: Qual é o seu ramo de atuação?

Francisco Rodrigues: Após terminar a graduação em Publicidade e Propaganda, atuei dois anos como "web designer" autônomo e em agências de Ribeirão Preto. Tive contato com programadores, conheci os conceitos básicos de linguagens de programação e, aos poucos, fui assimilando essa técnica no desenvolvimento do design digital. Em 2001, mudei-me para São Paulo, convidado pelo Zé Luis Mirabelli, meu amigo e conterrâneo, para desenvolvermos, juntos, alguns projetos. Desde então, criamos sistemas on-line para grandes consultorias e empresas de diferentes segmentos. Hoje, trabalhamos em projetos colaborativos para controle de previsão, venda e estoque, intermediando a cadeia de produção e distribuição entre fabricantes e varejistas. A internet é fundamental para a comunicação e eficiência dessas operações.

TM: Quando descobriu seu talento para o desenho? Quais artistas o influenciaram?

Chico: Quando criança, dos três aos oito anos, morei no sítio do meu avô, em Taquaritinga, a um quilômetro e meio da cidade. Passava muitas tardes sozinho, entre as árvores e os animais do lugar, criando personagens e histórias. Isso contribuiu para o desenvolvimento de minha imaginação – e ainda influencia meu processo criativo. Fui adquirindo habilidade para o desenho nas aulas de Educação Artística e Geografia, desenhando mapas para os colegas que não tinham aptidão com o lápis de cor. Com o tempo, passei a desenhar em todas as aulas e não prestava mais a atenção necessária nas outras disciplinas. Minha rotina mudou quando descobri as tiras e charges de Angeli, Laerte e Glauco, na Folha de S.Paulo. Ao voltar da escola, lia, diariamente, o jornal, e tratava esse momento como uma necessidade vital. Inspirado, comecei a esboçar algumas charges e pesquisar diferentes desenhistas e estilos. Assim, conheci o trabalho do Henfil, que me influenciou muito com a simplicidade das formas e expressões do seu traço. Hoje, considero meu desenho uma mescla dessa experiência.

TM: Você é entusiasta e um dos organizadores do Batata Doce. Que análise faz do bloco taquaritinguense na atualidade?

Chico: Entusiasmo, eu tenho bastante, mas ser chamado de “organizador” dessa bagunça é um desacato! (risos) Não organizo nada, apenas ilustro a Batata Doce e tento usar uma linguagem bem humorada – às vezes sarcástica – para divulgá-la. Assim a Batata foi criada e assim espero que continue, sempre. Nos últimos anos, o bloco cresceu e mudou bastante, mas ainda conserva sua essência irônica e despojada. Tenho, no Batata Doce, amigos que carregarei durante toda vida. Reunir essas pessoas e trazer alegria para Taquaritinga é tudo que espero dessa manifestação lúdica que é o carnaval.

TM: Como você define uma “boa charge”?

Chico: Simples, com pouco ou nenhum texto... Aquela que lhe faz rir sozinho no banheiro.

TM: Você trabalhou com o polêmico Luiz Mirabelli, sobretudo nos últimos anos da vida dele, como diagramador e chargista do Incitatus. Fale-nos um pouco dessa convivência.

Chico: Segundo a Wikipedia, “Incitatus era o nome do cavalo do Imperador Romano Calígula. De acordo com o escritor Suetónio, Incitatus tinha cerca de 18 criados pessoais, era enfeitado com um colar de pedras preciosas e dormia no meio de mantas de cor púrpura”. Consta que Calígula incluiu o Inictatus no rol dos senadores e ponderou nomeá-lo cônsul! Não havia nome mais apropriado para o jornal! Com o Incitatus, Luiz satirizou a “mediocridade” da política local, incomodou uns, divertiu outros, e seguiu firme até o final da sua jornada. Em 1998, eu já havia publicado minhas charges em jornais da cidade, quando decidi bater em sua porta. Ele me recebeu muito bem, disse que meus desenhos eram uma “bosta”, mas para Taquaritinga eram suficientes. Falou que tinha algumas ideias para eu colocar no papel, me ofereceu uma lata de cerveja e assim começou minha empreitada. Como ele precisava de um diagramador, e eu estudava em Ribeirão, passei os dois anos seguintes trabalhando nos finais de semana em sua casa, escutando histórias sobre a cidade, conhecendo pessoas interessantes que frequentavam a “redação” e aprendendo muito sobre a política taquaritinguense. Tive o imenso prazer de participar dos últimos anos do Incitatus e da vida do Luiz Mirabelli.

TM: É possível conceituar o "estilo" do Luiz Mirabelli

Chico: Apesar de parecer um velho rabugento, Luiz era uma pessoa engraçadíssima, generosa, que oferecia uma geladeira cheia de cerveja aos visitantes que apareciam diariamente para contar as novidades. Eu, particularmente, adorava aquela geladeira... Por isso, era chamado de “bêbado” a cada erro de digitação nas inúmeras correções que fazíamos antes de finalizar a edição. Nesse tempo todo em que estive por perto, sua vida boêmia já cobrava seu preço. Os amigos estavam sempre ao lado para ajudá-lo, enquanto a enfisema pulmonar lhe castigava e tirava seu sono. Contudo, mesmo nas piores crises da doença, tratava a morte com humor e desdém. Hoje, relembro, com frequência, todas as histórias que testemunhei como seu diagramador e amigo; fico imaginando o que ele escreveria sobre alguns fatos ridículos que continuam rodeando nossa cidade. É comum escutar alguém dizer: que falta faz o Mirabelli!

TM: A política taquaritinguense é peculiar. Quase todos os partidos, vez ou outra, já foram aliados e adversários entre si. Essa situação é um “prato cheio” para o chargista? Você prefere criar charge política ou sobre outros temas?

Chico: Gosto da charge política. Sem dúvida, Taquaritinga tem matéria-prima abundante para tal. Porém, o chargista deve estar bem provido de informações e em sintonia com a situação representada. No meu caso, como estou fora da cidade há muito tempo, não tenho informação suficiente para criar uma boa charge sobre a política municipal. O que leio pela internet não reflete o dia-a-dia, o cotidiano, as entrelinhas dos acontecimentos. Para fazer uma boa charge em Taquaritinga é preciso estar sempre presente nos balcões dos bares... Ali sim pipocam as ideias!

Chico Rodrigues

Da esquerda pra direita: Tadao, Cido Guarda-Chuva e Luiz Mirabelli.