quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Entrevista: Carlos Eduardo Sobral




 


Entrevistamos Carlos Eduardo Miguel Sobral, para os amigos, o Cacá. Nascido em Taquaritinga, filho do saudoso Dr. José Carlos Sobral e da professora Vera Marta, mudou-se ainda jovem para Ribeirão Preto, quando seu pai, juiz de Direito, assumiu a Vara da Infância e Juventude. Formado em Direito pela UNAERP, trabalhou como advogado até se tornar DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL em 2003, aos 26 anos. Iniciou sua carreira em Porto Velho, Rondônia, e está estabelecido em Brasília. Coordenou o combate à pedofilia e, hoje, tem a missão de coordenar o combate aos crimes eletrônicos, temas de grande importância na atualidade. Sempre que pode, vem à Taquaritinga para visitar familiares e amigos. Uma entrevista imperdível, recheada de aventura, informação e opinião.


Tendência Municipal: É notório que a Polícia Federal vem reconquistando a credibilidade junto à sociedade brasileira. Como descreve a PF de hoje?

Carlos Eduardo Sobral: A Polícia Federal é uma das instituições brasileiras de maior credibilidade junto à sociedade. Esse reconhecimento é fruto de muito trabalho e esforço de milhares de pessoas em todo País. Há alguns anos, a PF entendeu que possui importante – e fundamental – papel na construção da democracia e da cidadania. Ficou claro que somente viveremos em uma sociedade justa, fraterna e igualitária se conseguirmos enfrentar a criminalidade que corrompe o Estado, encarece obras e serviços públicos e ofende direitos e garantias individuais e coletivas. Assim, vejo a PF como uma instituição moderna, de vanguarda, que se reinventou para cumprir a difícil missão atribuída pela Constituição, com trabalho, honestidade, técnica e inteligência. Resumindo: a PF é composta por pessoas que se dedicam para fazer um mundo melhor. E que sabem o quanto foi difícil conquistar a credibilidade e o quanto é fácil perdê-la. Portanto, a PF não permite nenhum deslize ético ou moral de seus membros, por menor que seja.

TM: Como está o combate à pedofilia e aos crimes eletrônicos?

Cacá: Avançamos muito nos últimos anos. Em 2007 e 2008, quando fizemos as operações CARROSSEL I e II, demonstramos que a legislação brasileira não era boa para combater a pornografia infantil: enquanto prendemos mais de 500 pessoas no mundo todo, no Brasil somente cinco pessoas foram presas! Isso porque nossa lei estava atrasada. Após a CPI da Pedofilia do Senado, que tive a oportunidade de assessorar por dois anos, conseguimos aprovar a Lei 10.829/2009, que mudou radicalmente nossa realidade. Hoje, temos instrumentos legais para combater essa violência contra nossas crianças. Quanto aos crimes cibernéticos, temos excelentes resultados no combate às fraudes eletrônicas – furto de dinheiro por clonagem de cartões e serviços de internet banking. Após o “Projeto Tentáculos”, reduzimos as fraudes em mais de 65%, em apenas 10 meses! Evitamos que mais de R$ 170 milhões fossem desviados do Governo Federal. Agora, o que vem nos preocupando são os chamados “crimes de alta tecnologia”, os ataques contra sistemas de informação governamentais promovidos por hackers, com a intenção de destruir os sistemas ou divulgar dados sigilosos. Em junho, sofremos alguns ataques, sem grandes consequências. Estamos trabalhando para que não voltem a acontecer, com a atualização da legislação e, principalmente, com a criação de Delegacias especializadas em crimes cibernéticos em todos os Estados. Vamos criar a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética e Combate ao Crime para articular ações de prevenção e repressão entre centenas de órgãos da União, Estados e Municípios, que contará com a participação da sociedade civil. Trabalhamos, ainda, na construção da Convenção Internacional da ONU para combate aos crimes cibernéticos. O grupo de especialistas acabou de ser constituído, teremos dois anos para apresentar o texto e, graças aos excelentes resultados que a PF vem obtendo, fomos indicados para representar a América Latina. Será uma experiência ímpar para mim e para a PF poder contribuir no combate ao crime não só no Brasil, mas também em âmbito internacional.

TM: Uma de suas primeiras ações como delegado federal envolveu o caso dos assassinatos de garimpeiros por índios, no Estado do Mato Grosso. Conte-nos um pouco dessa experiência.

Cacá: Foi incrível. Havia acabado de tomar posse como Delegado, estava em meu gabinete de trabalho em Porto Velho quando, no final da tarde de uma quinta-feira, recebo ordem de meus superiores para embarcar, imediatamente, em um aviação rumo a Espigão do Oeste, pequeno município do interior de Mato Grosso, a 700 km dali. Fui ao aeroporto portando somente meu armamento pessoal. A informação dava conta de que algo grave acontecera na “Terra Indígena Roosevelt”. Minha missão era identificar o ocorrido e relatar a extensão dos danos. Na ida, os sinais de que a missão seria inesquecível... Como saímos no final da tarde, chegamos sem muita luz natural, o piloto não conseguiu encontrar a pista de pouso, na verdade, um descampado numa fazenda próxima, e ficamos voando em círculos por mais de 20 minutos. Lembro-me, com perfeição, da sensação de sobrevoar várias vezes e ouvir o piloto declarar: “não consigo achar a pista. Acho que teremos que voltar”. Como assim “não encontro” a pista?! Como assim “acho” que teremos que voltar?! Para mim, não havia muita dúvida: ou encontra a pista e desce ou volta, ficar sobrevoando até acabar o combustível não me parecia uma boa solução. O piloto desistiu e voltou a Ji-Paraná. Retornamos no dia seguinte, fui à Delegacia da Polícia Civil, encontrei dezenas de mulheres, desesperadas, anunciando que seus maridos, garimpeiros, haviam sido mortos pelos índios “cinta-larga”. Feito o relatório, a segunda surpresa: recebo ordem para permanecer e coordenar a busca pelos garimpeiros, no meio da floresta. Assim foi feito. Aguardei dois dias a chegada do helicóptero, pois o local era inacessível por terra. Fiquei quase quinze dias na missão, que era para ser um levantamento de algumas horas. Encontramos 30 corpos em estado de decomposição. Os garimpeiros mortos estavam retirando, ilegalmente, diamantes da reserva. Até hoje, passados oito anos, mantemos policiais federais para impedir a entrada de outros garimpeiros e o confronto com os índios. Trata-se de uma das maiores jazidas mundiais de diamantes.

TM: Qual sua avaliação sobre o sistema judiciário brasileiro?

Cacá: Melhoramos bastante, sobretudo com a criação do CNJ [Conselho Nacional de Justiça] e a fixação de metas de qualidade, mas há muito a evoluir. No Governo Federal, temos diversos mecanismos de controle, promovidos pelo Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União, além da nossa Corregedoria. A Justiça é indispensável para o Estado Democrático de Direito e, como qualquer serviço público, deve primar pelo princípio da eficiência. A Justiça deve se aprimorar, se reinventar para prestar um serviço de qualidade, rápido e efetivo, que garanta uma boa resposta aos problemas postos em disputa; buscar o equilíbrio para que o sagrado direito de defesa não se transforme no abominável abuso de direito. O juiz deve conduzir os processos de modo a apresentar uma rápida solução, visar a paz social. O magistrado não pode – não deve – pensar: “faço minha parte, se o processo não anda, o problema não é meu, mas do sistema”. Ele deve ficar atento ao princípio da oficialidade, aplicar penalidades aos litigantes de má-fé que abusam dos recursos para fazer chicanas. A Justiça deve ser mais enérgica neste sentido, sob pena de cair em descrédito. Concordo com a iniciativa do atual presidente do Supremo Tribunal Federal em restringir em somente duas as instâncias judiciais. Aliás, isso está implícito na Constituição. E as leis penais devem ser mais rígidas para crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. É falsa a ideia de que cadeia não é lugar para criminoso do “colarinho branco”; a cadeia é o melhor local para que esse tipo de criminoso encontre “coragem” para devolver os milhões de reais que desviou da sociedade. Parafraseando marquês de Beccaria, uma justa punição deve estar aliada à certeza de sua rápida aplicação, o que ocasiona a chamada “prevenção geral do crime”, ou seja, a possibilidade da contenção do ilícito pelo exemplo dado.

TM: Muitos de seus familiares têm ligações com a política. Seu pai foi vereador (em Taquaritinga e Ribeirão) e candidato a deputado estadual por duas vezes; seu tio, Dr. Bassoli, foi presidente da Câmara de Taquaritinga por três mandatos; seu irmão, Ricardo, assessorou o ex-presidente da Câmara Federal, Arlindo Chinaglia. Já pensou em se candidatar a algum cargo eletivo no futuro?

Cacá: Hoje, exerço o cargo público que escolhi para contribuir com a sociedade da melhor forma possível, com meu conhecimento, energia, trabalho e dedicação. Sem querer desprestigiar ou menosprezar os demais poderes, vejo o Poder Executivo como principal agente do desenvolvimento. É no Executivo que planos e ações governamentais são cumpridos; e os agentes do Estado são peças essenciais para que isso ocorra. O cargo que ora exerço me permite contribuir com a comunidade; deixo a arte da política, do exercício do mandado eletivo, do debate das idéias e da busca do consenso, para os que possuem a sensibilidade de compreender os anseios do povo e transformá-los em leis – para que nós, agentes públicos, possamos cumpri-las da melhor forma. No mais, o legado político deixado por meu pai já possui herdeiro: meu irmão Ricardo, vice-presidente do PT de Ribeirão Preto, além do meu primo Luisinho, dirigente do PT de Taquaritinga e filho do tio Bassoli. A família está muito bem representada por esses dois excelentes quadros políticos

TM: Que conselho daria aos taquaritinguenses que pretendem ingressar na Polícia Federal? O que esperar da profissão?

Cacá: Ingressar na Polícia Federal exige muito estudo, muito conhecimento, muita vontade de trabalhar e, principalmente, desprendimento e esforço para suportar dias, semanas, meses longe da família e dos amigos. Tem que estar disposto a exercer funções nos locais mais distantes do Brasil e no exterior. Ser policial é passar frio e fome no interior das florestas mais longínquas e também representar o País em fóruns e eventos internacionais, é estar, em certo momento, num local inóspito e perigoso e, em outro, nas mais bonitas e deslumbrantes cidades do mundo. Integrar a “família” da PF requer dedicação, lisura, honestidade, não compactuamos nem aceitamos deslizes ou arbitrariedades. Garanto que somos extremamente rígidos com nossos policiais para permitir que nos cobrem a mesma lisura. Ser policial federal é ter prazer em proteger as pessoas, a sociedade e o Estado, em detrimento da própria vida, se necessário. É sentir orgulho do que faz, ter vontade de fazer mais e melhor. Obrigado pela entrevista.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Entrevista: Eduardo Moutinho

Queremos parabenizar o nosso entrevistado da semana passada, DU ZUPPANI, por ter recebido o título de Honra ao Mérito, concedido pela Câmara Municipal de Taquaritinga, por ocasião das festividades do aniversário da cidade. Uma justa homenagem.



 


A entrevista desta edição é com Eduardo Henrique Moutinho. Notório advogado, PRESIDENTE DA SUBSEÇÃO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) de Taquaritinga, presidente do diretório municipal do PSDB e graduado membro da tradicionalíssima Loja Maçônica Líbero Badaró (“Grau 32”), foi nomeado pelo prefeito Paulo Delgado chefe do Comitê Organizador dos Jogos Regionais. Mantém boas relações com o governador Geraldo Alckmin e com deputados tucanos. Corintiano e, mais ainda, cateano roxo, se saiu bem como comentarista esportivo em transmissões dos jogos do Leão pelas três emissoras de Rádio da Cidade (Imperial, Canal 1 e Mensagem) e também pela Rede Vida de Televisão.



Aos 36 anos, nunca foi candidato a nenhum cargo público; apesar – ou por causa – disso, desponta como promissora opção para as eleições do ano que vem. Falamos de OAB, Fundação Edmilson, Jogos Regionais, futebol e política.


Tendência Municipal: Você está em seu segundo mandato à frente da Subseção da OAB de Taquaritinga. Que análise faz dessas gestões?

Eduardo Moutinho: Nos 30 anos de nossa Subseção, tivemos valorosos colegas à frente da classe. Nos últimos 10 anos, o número de Advogados aumentou muito, somos mais de 250 em Taquaritinga. Nossa preocupação tem sido o atendimento e auxílio a esses profissionais. Administrar a OAB é como gerir uma pequena empresa, contamos com mais de uma dezena de funcionários, em quatro locais: Casas da rua Duque de Caxias e do bairro Talavasso, Salas do Fórum central e do Trabalhista. Damos ênfase à questão cultural com a conquista da ESA (Escola Superior da Advocacia), brilhantemente coordenada por nosso Secretário-Geral, Dr. Gustavo Schneider Nunes, que oferece cursos de atualização e aperfeiçoamento a Advogados da cidade e região. A ESA propiciou a climatização do auditório da Casa do Talavasso, antiga reivindicação, e foi fundamental para revitalizar aquele espaço, onde colegas se confraternizam semanalmente com o Futebol Society – em breve, colocaremos em funcionamento a sauna. A disponibilização de internet em todos esses espaços também foi uma grande conquista, imprescindível para o exercício da Advocacia. Reconheço que existem deficiências, mas quase que na totalidade atribuíveis ao Judiciário, em especial a lentidão da prestação jurisdicional. Recentemente, tivemos avanços para minimizar a situação com a criação do Anexo Fiscal, que retirou dos cartórios cíveis aproximadamente 10 mil processos. A solução virá com a 3.a Vara, uma luta incessante da nossa Diretoria.

TM: Uma das preocupações dos advogados é evitar a “politização” da OAB. Como manter a Ordem inume às influências político-partidárias?

Eduardo: Acredito que afastar a “política” da OAB é impossível, por estarem umbilicalmente ligadas, afinal foi a OAB que, depois de longos e negros anos de ditadura, empunhou e sustentou bravamente a bandeira da redemocratização. Todavia, é possível evitar a “partidarização” da Ordem e isso fica bem claro na atual Diretoria: eu sou presidente do diretório municipal do PSDB; o vice-presidente, Dr. Luisinho Bassoli, era, quando da nossa primeira eleição, presidente do diretório do PT; nosso Diretor-Tesoureiro, Dr. Roberto Ogasawara, é atuante no PPS; e o Secretário-Adjunto, Dr. Gustavo Gabriel, é de família tradicional nas lides do PMDB. Além do pluripartidarismo, temos evitado a utilização da mídia; como presidente da OAB, poderia buscar espaço na imprensa para ganhar visibilidade, contudo, temos um compromisso maior com os que nos confiaram a importante missão de conduzir a classe – fomos reeleitos com 79% dos votos.

TM: Você se empenhou em fazer da Fundação Edmilson “entidade de interesse público federal”. Como foi essa “batalha” e o que essa conquista significa?

Eduardo: Muitas pessoas contribuíram para que a Fundação fosse reconhecida de Utilidade Pública Federal. Como Conselheiro da Fundação, acompanho diariamente o trabalho realizado e seu alcance social. Infelizmente, alguns conterrâneos ainda imaginam que a Fundação Edmilson ensina a criançada a jogar futebol. Desse modo, sentia a necessidade de fazer algo mais pela entidade, algo que fosse tangível e duradouro. Trazer o ex-ministro da Justiça, Dr. Márcio Thomaz Bastos, para uma palestra na comemoração dos 30 anos da OAB, no auditório da Fundação, e colher dele, publicamente, o compromisso de apadrinhar nosso projeto, foi providencial para a conquista, que propicia isenção de tributos federais e o abatimento de doações no Imposto de Renda. Isso gera economia e estimula a prospecção de novas receitas. Convido as pessoas para visitar a Fundação, e que o façam de surpresa. Ficarão encantadas com o que irão encontrar.

TM: Fale-nos sobre a organização dos Jogos Regionais.

Eduardo: Há aproximadamente um ano recebi do prefeito Paulo Delgado e do secretário de Esportes Marcelo Volpi o convite para ser presidente do Comitê Organizador dos Jogos Regionais. Em princípio, hesitei em aceitar, em razão das inúmeras atribuições profissionais, familiares e sociais. Mas, como sempre, veio aquele pensamento: “bom, daqui a pouco a vida passou e eu, o que fiz?”. Por isso, topei a empreitada e sei que fui a peça menos importante para que tudo saísse tão bem como saiu. O comprometimento das pessoas envolvidas foi fundamental, a cada período tínhamos preocupações distintas: alojar 8.000 pessoas, reformar as praças esportivas, a cerimônia de abertura... Fiquei angustiado com a cobrança desleal que recebíamos, não conseguia entender os excessos, a necessidade de alguns de querer ditar o ritmo das coisas. Queriam que “comprássemos o bolo” hoje e ainda faltavam 100, 90 dias para a festa! Com o sucesso absoluto dos Jogos, os elogios (até constrangedores) dos visitantes, e principalmente a sensação de missão cumprida, comprovamos o velho – e atual – ditado de que “a união faz a força”. Tenho o dever de externar meus agradecimentos, na pessoa do atual secretário de Esportes José Mário Frezza, a todos os funcionários municipais, e, na pessoa do Major Almeida, a todos os amigos do Comitê Organizador, que trabalharam incansável e voluntariamente.

TM: Em sua opinião, qual deve ser a relação da Administração municipal com o Estado e a União?

Eduardo: A relação deve ser como tem sido, de simbiose, de auxílio recíproco. É preciso que os interesses coletivos se sobreponham às vaidades e às questões políticas menores. Infelizmente, há quem não se dá conta de que as eleições duram apenas 90 dias. A atual Administração tem dado mostra de que é possível, e eficaz, buscar melhorias para a cidade, independentemente do partido do gestor público. O maior exemplo é a conquista da UPA. Não é porque a presidente da República é do PT e o prefeito é do DEM que o Governo Federal vai fechar as portas para Taquaritinga. Aliás, os próprios dirigentes do PT local foram fundamentais para essa e outras conquistas, como a construção de uma creche, SAMU, etc. No âmbito estadual, o relacionamento com os governadores do PDSB, antes Serra e agora Alckmin, tem rendido frutos, como os apartamentos da CDHU que vão ser construídos na Vila São Sebastião e o AME, que será referencia regional na área da Saúde.

TM: Você pretende disputar a indicação para ser o candidato da base política do prefeito para sucedê-lo?

Eduardo: Essa é uma pergunta que muitos me tem feito desde que assumi a presidência do diretório municipal do PSDB. Antes, devo esclarecer que sou filiado ao partido há quase 10 anos e que assumi a presidência para evitar que houvesse disputa pela direção nas convenções de março. Como o meu nome representava o consenso e a unidade, aceitei a missão. O PSDB tem o vice-prefeito Dr. José Maria e os vereadores Marcelo Volpi e Pastor Daniel; a relação PSDB/DEM, a exemplo dos níveis federal e estadual, é a mais amistosa possível e, em não havendo sobressaltos, deve prevalecer. Quanto a ser candidato, confesso que fico feliz que meu nome tem transitado, com aceitação, mas não é uma decisão fácil. Tenho convicção de que posso ser útil à minha cidade, só que não tenho obsessão pelo cargo. Falando em “obsessão”, estamos na fase de mudanças de partidos e filiações, devemos observar o que alguns são capazes de fazer para “chegar lá”, pois é um prenúncio do que farão se chegarem lá. Tudo tem seu tempo – o futuro a Deus pertence.

TM: Caso se confirme sua candidatura, quais seus principais projetos?

Eduardo: Não é preciso ser candidato para ter projetos, basta uma análise das nossas necessidades e virtudes para identificar algumas frentes a serem atacadas. A Saúde, sempre falada, à partir da UPA e do AME, terá um salto de qualidade. Na Educação, a valorização dos professores deve ser constante, devemos investir na qualificação dos educadores. Quanto ao Desenvolvimento, é inegável que temos duas vocações: agroindústria e serviços. Nos serviços da Educação, difícil encontrar uma cidade do nosso porte, de cerca de 60 mil habitantes, que possua, como nós, mais de 20 cursos de nível superior. A primeira semente lançada foi a ETE, há vinte anos. Hoje, temos FATEC, ITES, Uniesp, ETAM; devemos lutar por unidades do SESC, SESI, SENAI, a qualificação da mão-de-obra é imprescindível para atrair empresas. Recebemos centenas de alunos de fora todos os dias, além dos que moram aqui, que geram receitas no comércio. Na agroindústria, temos vivido um bom momento: a aquisição da Via Néctare pelo grupo mexicano Proeza e seu fortalecimento garante a absorção da safra de manga e goiaba, devendo surgir, em breve, incentivo ao plantio de maracujá e abacaxi, culturas ainda tímidas na região. A retomada das atividades da antiga Royal Citrus, hoje Branco Perez e arrendada à Cutrale, “fecha o ciclo” da citricultura (laranja e limão). Lamento não termos nenhuma usina de açúcar e álcool, mas acredito que a união de nossos produtores seja capaz de superar isso, daí a importância do Sindicato Rural. Ainda na agroindústria, considero importantes nossas indústrias de carne, que criam empregos e receitas, como São Luiz, Ema, Marba, e Boi Bom, que está construindo uma fábrica no Parque Industrial. Nesse setor, todavia, não estamos “fechando o ciclo”, pois perdemos o Frigorífico e a Lemaq. Alguém dirá que nossas terras são caras para a pecuária, mas sempre foram. O importante é que as indústrias estão aqui e por isso ganhamos em logística. É preciso batalhar para a retomada dessas atividades (frigorífico/abatedouro/laticínio) e fazer a roda girar.

Uma última pergunta: o CAT tem jeito?

Eduardo: Pra encerrar, o CAT tem que ser visto sob a ótica do Esporte e Lazer. Nosso Taquarão precisa ser remodelado; com criatividade e poucos recursos, que podem vir dos governos federal e estadual, é possível transformá-lo numa bela Arena. É necessário aumentar a capacidade do Ginásio de Esportes Manoel dos Santos; durante os Regionais, muito não conseguiram entrar, estava sempre lotado, principalmente nas partidas de vôlei e futsal. Assim, teríamos o Complexo Dr. Adail Nunes da Silva, com novo e grande ginásio multiuso e uma moderna Arena para futebol. Queremos ver e vibrar com nosso CAT, de perto, como fazíamos no Antonio Storti.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrevista: Du Zuppani




 


O Tendência Municipal conversou com José Luiz Zuppani, o Du Zuppani, o MAIS PREMIADO FOTÓGRAFO de Taquaritinga, além de conceituado urbanista. Filho dos saudosos Dr. Paulo Zuppani e Eunice Salerno Zuppani (ele, o maior médico da história da cidade; ela professora emérita), casado com Desire, pai do Zé e do Palê – ambos profissionais da fotografia, a provar que, nesse caso, talento é hereditário. Amante da natureza, se especializou em clicar paisagens, animais e plantas. Percorreu, com suas lentes, mais de 50 países; suas obras são elogiadas pela crítica especializada e pelo público.



Radicado em Bertioga, litoral norte de São Paulo, ocupou o cargo de SECRETÁRIO MUNICIPAL DA CULTURA nos anos 1990 – é dele o projeto urbanístico do sofisticado balneário Riviera de São Lourenço (distrito de Bertioga), considerado dos mais bonitos do País. Em 2010, foi homenageado pelo Colégio Objetivo de Taquaritinga, sendo tema do “Sarau Elétrico”, evento anual promovido pelos alunos. Du tem muitas histórias pra contar!


Tendência Municipal: Como começou sua relação com a fotografia? Quais foram suas influências?

Du Zuppani: Desde que nasci, tinha contato com as imagens por causa da minha mãe, que era apaixonada pelas saudosas máquinas fotográficas e de filmar. Meu pai apoiava e discutia conceitos, acompanhava de perto os resultados obtidos tecnicamente e o conteúdo do olhar... Posso dizer que nasci com essas ferramentas e assunto. Ainda na infância, vieram mais informações do mundo dos estúdios de Taquaritinga, como os do Reinaldo e Silvio Morano e do Palomino. Outras pessoas fizeram parte da minha vida em Taquaritinga que, como minha mãe, amavam imagens, como os dentistas Mauro Zuppani e Zé Fucci. Depois, amigos ligados à arte e às imagens sempre as compartilhavam comigo. Aos conterrâneos que fizeram parte da minha formação, dedico a eles cada click, pois foram a base de tudo, o “DNA” da minha percepção do olhar.

TM: Como você define uma "boa foto"?

Du: É aquela em que você perde o olhar, se emociona, o deixa intrigado, o informa, o leva junto para momentos e ou lugares... O conjunto de ações que fazem uma “boa foto” começa com o olhar, a emoção, a técnica, a sensibilidade e chega ao click. Com isto, a foto deve trazer informação com qualidade e arte. A ética também tem papel importante nesta questão: não explorar as desgraças de outras pessoas, respeitar privacidades e estimular o olhar para o que de belo e bom existe para ser potencializado. As minhas fotos valorizam, sobretudo, o belo, para que possamos conhecer, manter, salvar, incentivar o lado positivo.

TM: Que análise faz de sua experiência como gestor público à frente da secretaria municipal da Cultura de Bertioga?

Du: Na época, Bertioga tinha sido recém emancipada de Santos. Assumimos uma pasta de uma cidade nova, sem estrutura, e isso foi um grande desafio. Trabalhei com o resgate da história, pois Bertioga foi importante palco de acontecimentos, possui uma das primeiras fortalezas brasileiras, foi passagem de importantes personagens da história do pós-descobrimento. Esses movimentos culturais me levou a criar uma orquestra didática para todas as idades, que acabou levando 1.500 pessoas a estudar música por todo município e a escola de luteria, com ensinamentos para construção de instrumentos acústicos. Foi a célula do Projeto Guri, do governo do Estado, sendo que meus filhos e amigos foram os primeiros professores na então Febem. Trabalhei com patrocínio cultural e consegui resgatar questões indígenas, CAIÇARAS, gastronômicas etc.... É uma grande felicidade mostrar que, mesmo sem dinheiro público, mas com vontade e criatividade, se consegue grandes realizações.

TM: Você percorreu o Brasil e o mundo com sua câmera fotográfica. Que lições tirou dessas viagens?

Du: Realmente foram muitas as lições... Pois, sempre, outras culturas e as diferenças da natureza, mostraram-me que tenho que ter a “cabeça aberta” para entender e respeitar diferentes valores e conceitos e ter a liberdade para possibilitar mudanças dentro de mim. Valores que conheci com o olhar de fotógrafo complementaram alguns conceitos, mudaram outros, encontrei muitos povos e pessoas felizes por seus modos de vida, cujos valores não são submetidos à questão financeira, que andam menos na contramão da natureza. E vi uma natureza dando exemplos da sua riqueza, mostrando sua fragilidade real no momento do planeta. Uma das coisas marcantes foi ver que não estamos aqui para ser o “óbvio”, nascer, crescer, se formar, casar, ter filhos e deixar bens para os herdeiros. E sim para fazer a diferença para o planeta, no campo social e espiritual – ter sua própria personalidade, ter atitude!

TM: Fale-nos de seus trabalhos atuais e futuros.

Du: Minha formação de arquiteto paisagista continua atuante, sempre em projetos ligados ao ecopaisagismo, ecologia da paisagem. Trabalho com plantas nativas, chamando de volta alguns dos antigos “moradores”, como pássaros, insetos, focando a ecologia da paisagem. Muitos projetos são voltados para o lado social das comunidades. Um lado que liga as duas profissões, fotógrafo/arquiteto, é a tematização de ambientes, como aconteceu com empreendimentos residências, shoppings e humanização de lugares de serviços públicos. A fotografia mesclou-se com o paisagismo também em publicações, pesquisas, apresentações, cursos conjuntos de fotografia e paisagismo. Enfim, elas se completam em várias frentes. A fotografia faz parte da alma, acontece no dia a dia como grande prazer. Parte deste trabalho vai para bancos de imagens do mercado editorial, estão em andamentos projetos de livros temáticos, exposições em fine-art, cursos e projetos sociais. Esse leque de opções é muito grande: vai de uma exposição com tecnologia que imprime foto em papel 100% bambu, até aulas e treinamento para inclusão da fotografia para portadores de deficiências. Um lado que me satisfaz muito é a contribuição para a educação como uma ferramenta em sala de aula. Poder passar algo a mais para a percepção do olhar para diferentes perfis e deixar uma semente na alma de algumas pessoas, é gratificante. Entre projetos que estão começando a sair do papel, o de acessibilidade de “para-fotógrafos” e algo de viagens e publicações para a Copa do Mundo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entrevista: Ed Gagliardi

O TENDÊNCIA MUNICIPAL parabeniza o nosso segundo entrevistado, ALEXANDRE SILVA, eleito presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE/SP). Em breve, Alexandre voltará à tela do TENDÊNCIA para nos contar sobre esse novo desafio. Por ora, ficam nossos votos de boa sorte! Mais um taquaritinguense a honrar nossa cidade!



 


A entrevista desta edição é com o taquaritinguense Elias Edson Gagliardi, o Ed Gagliardi. Violonista de primeira linha, compositor, considerado um mestre do CHORINHO, estilo musical que une o ritmo do samba com a delicadeza dos clássicos. Possuidor de uma técnica apuradíssima, gravou vários CDs, invariavelmente acompanhado de grandes talentos, como o saudoso maestro José Gramani. Residiu em São Paulo, Capital, até se aposentar como servidor da Companhia Energética de São Paulo (CESP), quando passou a se dedicar exclusivamente à música.



Radicado em Londres, onde deixa os ingleses extasiados com seu refinado dedilhar, retorna sempre à Taquaritinga, principalmente para visitar a mãe, Dona Pierina – às vezes, expõe sua arte para seletos e sortudos ouvintes. Ed Gagliardi é mais um exemplo da espetacular capacidade taquaritinguense de gerar artistas do mais alto gabarito. Falamos de Brasil, Inglaterra, Taquaritinga e, como não podia deixar de ser, de sua paixão, a música.


Tendência Municipal: Como começou sua relação com a música?

Ed Gagliardi: Comecei a me interessar ouvindo músicas pelo rádio. Iniciei tocando cavaco, aos oito anos. Aos 12, percebendo que tinha facilidade com o instrumento, passei ao violão. E aos 13 anos já estava compondo.

TM: O que é o chorinho?

Ed: O choro é a forma de execução da música. Decora-se a harmonia e a melodia; o restante, como interpretação, contracanto e ornamentos, são feitos descontraidamente, como uma brincadeira!

TM: Você concorda que a música brasileira é especial ou essa afirmação não passa de ufanismo?

Ed: A música brasileira especial é a “tradicional”, não essa que emporcalha a mídia atualmente... É especial pela riqueza harmônica e melódica, que somente com muito estudo é possível executá-la na íntegra.

TM: Como a música brasileira é recebida pelo público inglês?

Ed: A música brasileira é muito bem recebida não só na Inglaterra como em todos os países do chamado “primeiro mundo”. Trata-se de uma população musicalmente bem informada e o fato de nossa música ser de difícil execução torna-se, para eles, apreciadores da boa arte, um desafio.

TM: Taquaritinga é reconhecida por gerar artistas de qualidade. Que conselho daria aos jovens taquaritinguenses que querem se tornar músicos profissionais?

Ed: É uma questão de escolher o caminho certo: não se envolver com essa música “pobre”, no sentido artístico, e comercial, que o mercado fonográfico impõe no dia-a-dia. O jovem deve pesquisar, estudar, ouvir muito o som dos anos 1930 a 1980, e tentar entender essa linguagem “séria”, de qualidade, que a arte musical exige. Depois, procurar um bom mestre, principalmente em São Paulo, e boa sorte!

TM: Além de chorinho, que estilo musical você ouve no dia-a-dia?

Ed: Pelos anos de dedicação à música, hoje eu posso ouvir uma orquestra com 80 músicos e separar cada um dos instrumentos. Por isso, ouço música clássica, com qualquer instrumental, jazz dos anos 40, música popular e clássica italiana, francesa, espanhola etc. Procuro ouvir música de boa qualidade!