quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrevista: Du Zuppani




 


O Tendência Municipal conversou com José Luiz Zuppani, o Du Zuppani, o MAIS PREMIADO FOTÓGRAFO de Taquaritinga, além de conceituado urbanista. Filho dos saudosos Dr. Paulo Zuppani e Eunice Salerno Zuppani (ele, o maior médico da história da cidade; ela professora emérita), casado com Desire, pai do Zé e do Palê – ambos profissionais da fotografia, a provar que, nesse caso, talento é hereditário. Amante da natureza, se especializou em clicar paisagens, animais e plantas. Percorreu, com suas lentes, mais de 50 países; suas obras são elogiadas pela crítica especializada e pelo público.



Radicado em Bertioga, litoral norte de São Paulo, ocupou o cargo de SECRETÁRIO MUNICIPAL DA CULTURA nos anos 1990 – é dele o projeto urbanístico do sofisticado balneário Riviera de São Lourenço (distrito de Bertioga), considerado dos mais bonitos do País. Em 2010, foi homenageado pelo Colégio Objetivo de Taquaritinga, sendo tema do “Sarau Elétrico”, evento anual promovido pelos alunos. Du tem muitas histórias pra contar!


Tendência Municipal: Como começou sua relação com a fotografia? Quais foram suas influências?

Du Zuppani: Desde que nasci, tinha contato com as imagens por causa da minha mãe, que era apaixonada pelas saudosas máquinas fotográficas e de filmar. Meu pai apoiava e discutia conceitos, acompanhava de perto os resultados obtidos tecnicamente e o conteúdo do olhar... Posso dizer que nasci com essas ferramentas e assunto. Ainda na infância, vieram mais informações do mundo dos estúdios de Taquaritinga, como os do Reinaldo e Silvio Morano e do Palomino. Outras pessoas fizeram parte da minha vida em Taquaritinga que, como minha mãe, amavam imagens, como os dentistas Mauro Zuppani e Zé Fucci. Depois, amigos ligados à arte e às imagens sempre as compartilhavam comigo. Aos conterrâneos que fizeram parte da minha formação, dedico a eles cada click, pois foram a base de tudo, o “DNA” da minha percepção do olhar.

TM: Como você define uma "boa foto"?

Du: É aquela em que você perde o olhar, se emociona, o deixa intrigado, o informa, o leva junto para momentos e ou lugares... O conjunto de ações que fazem uma “boa foto” começa com o olhar, a emoção, a técnica, a sensibilidade e chega ao click. Com isto, a foto deve trazer informação com qualidade e arte. A ética também tem papel importante nesta questão: não explorar as desgraças de outras pessoas, respeitar privacidades e estimular o olhar para o que de belo e bom existe para ser potencializado. As minhas fotos valorizam, sobretudo, o belo, para que possamos conhecer, manter, salvar, incentivar o lado positivo.

TM: Que análise faz de sua experiência como gestor público à frente da secretaria municipal da Cultura de Bertioga?

Du: Na época, Bertioga tinha sido recém emancipada de Santos. Assumimos uma pasta de uma cidade nova, sem estrutura, e isso foi um grande desafio. Trabalhei com o resgate da história, pois Bertioga foi importante palco de acontecimentos, possui uma das primeiras fortalezas brasileiras, foi passagem de importantes personagens da história do pós-descobrimento. Esses movimentos culturais me levou a criar uma orquestra didática para todas as idades, que acabou levando 1.500 pessoas a estudar música por todo município e a escola de luteria, com ensinamentos para construção de instrumentos acústicos. Foi a célula do Projeto Guri, do governo do Estado, sendo que meus filhos e amigos foram os primeiros professores na então Febem. Trabalhei com patrocínio cultural e consegui resgatar questões indígenas, CAIÇARAS, gastronômicas etc.... É uma grande felicidade mostrar que, mesmo sem dinheiro público, mas com vontade e criatividade, se consegue grandes realizações.

TM: Você percorreu o Brasil e o mundo com sua câmera fotográfica. Que lições tirou dessas viagens?

Du: Realmente foram muitas as lições... Pois, sempre, outras culturas e as diferenças da natureza, mostraram-me que tenho que ter a “cabeça aberta” para entender e respeitar diferentes valores e conceitos e ter a liberdade para possibilitar mudanças dentro de mim. Valores que conheci com o olhar de fotógrafo complementaram alguns conceitos, mudaram outros, encontrei muitos povos e pessoas felizes por seus modos de vida, cujos valores não são submetidos à questão financeira, que andam menos na contramão da natureza. E vi uma natureza dando exemplos da sua riqueza, mostrando sua fragilidade real no momento do planeta. Uma das coisas marcantes foi ver que não estamos aqui para ser o “óbvio”, nascer, crescer, se formar, casar, ter filhos e deixar bens para os herdeiros. E sim para fazer a diferença para o planeta, no campo social e espiritual – ter sua própria personalidade, ter atitude!

TM: Fale-nos de seus trabalhos atuais e futuros.

Du: Minha formação de arquiteto paisagista continua atuante, sempre em projetos ligados ao ecopaisagismo, ecologia da paisagem. Trabalho com plantas nativas, chamando de volta alguns dos antigos “moradores”, como pássaros, insetos, focando a ecologia da paisagem. Muitos projetos são voltados para o lado social das comunidades. Um lado que liga as duas profissões, fotógrafo/arquiteto, é a tematização de ambientes, como aconteceu com empreendimentos residências, shoppings e humanização de lugares de serviços públicos. A fotografia mesclou-se com o paisagismo também em publicações, pesquisas, apresentações, cursos conjuntos de fotografia e paisagismo. Enfim, elas se completam em várias frentes. A fotografia faz parte da alma, acontece no dia a dia como grande prazer. Parte deste trabalho vai para bancos de imagens do mercado editorial, estão em andamentos projetos de livros temáticos, exposições em fine-art, cursos e projetos sociais. Esse leque de opções é muito grande: vai de uma exposição com tecnologia que imprime foto em papel 100% bambu, até aulas e treinamento para inclusão da fotografia para portadores de deficiências. Um lado que me satisfaz muito é a contribuição para a educação como uma ferramenta em sala de aula. Poder passar algo a mais para a percepção do olhar para diferentes perfis e deixar uma semente na alma de algumas pessoas, é gratificante. Entre projetos que estão começando a sair do papel, o de acessibilidade de “para-fotógrafos” e algo de viagens e publicações para a Copa do Mundo.

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