terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Marjorie Salvagni

  O TENDÊNCIA MUNICIPAL entrevista a ARTISTA PLÁSTICA taquaritinguense Marjorie Salvagni. Técnica em Estilismo e Coordenação de Produção de Moda pelo SENAC de Ribeirão Preto; professora de artes no CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e na Fundação CASA. Como artista, conquistou espaço em exposições em Taquaritinga, Ribeirão, Rio de Janeiro, São Paulo, e também no exterior – teve obras expostas no “Salon D’Outomne, Salon des Artistes Independants” em Paris, França (2008); no “Ward-Nasse Gallery, Brasilian Artmosfere” em Nova York, EUA (2010); e na “Colorida Art Gallery” em Lisboa, Portugal (2010).
Suas criações se caracterizam pelas formas e cores, unidas em um estilo contemporâneo, vanguardista, inovador. Empreendedora, fundou o “Ateliê Pura Arte” em 2003 e organizou diversas edições do “Projeto Música & Arte”, além do “Projeto Despertar para a Arte”, voltado aos alunos das escolas públicas, com apoio da Diretoria Regional de Ensino, da secretaria Municipal da Educação e do Colégio Objetivo. Marjorie é mais um exemplo a honrar a tradição taquaritinguense de gerar grandes talentos. Reside, hoje, em Paris, vai estudar Arteterapia. Direto da Cidade Luz, concedeu-nos esta excelente entrevista. O tema: a arte!


Tendência Municipal: Como você define seu trabalho artístico?

Marjorie Salvagni: Agradeço ao Tendência Municipal pela oportunidade da entrevista e poder falar um pouco do meu trabalho. Defino meu trabalho artístico como “autônomo”, a ação é movida pelo sentimento, é espelho daquilo que ouço, sinto e visualizo, das energias que me envolvem no contato com as pessoas e com o mundo que me rodeia, contendo forte simbolismo.

TM: Fale-nos de suas exposições na Europa e EUA.

Marjorie: Em Paris, participei do “Salon des Artistes Indenpendants”; em Nova York, de uma coletiva na “Gallery Ward-Nasse”. Ambas experiências fantásticas! Estar em contato com outros artistas, outras linguagens, e estar diante do mercado internacional, me acrescentou uma nova visão do “mundo da arte” lá fora. Em Lisboa, realizei uma mostra individual – “Vibrações” – onde tive a oportunidade de mostrar meu trabalho de uma forma concisa, mas abrangente. Arrisquei e usei um suporte diferente (redondo), traços ousados, geométricos, e também traços em movimentos, cores fortes e imprevistas. O resultado foi muito bom, o galerista e curador José Roberto Moreira descreveu como “um trabalho moderno, contemporâneo e inovador”.

TM: Para onde caminha a arte contemporânea?

Marjorie: As manifestações artísticas contemporâneas, apesar de distintas, partilham um espírito comum, que é a tentativa de dirigir a arte às coisas do mundo, como, por exemplo, natureza, realidade urbana, a tecnologia que não para te avançar. Os artistas contemporâneos utilizam técnicas de expressões inovadoras e radicalmente diferentes do que tradicionalmente era feito, assumindo um caráter quase exclusivamente experimental, vivencial. Creio que a arte contemporânea caminha para o crescimento, no cenário nacional e internacional, seja em galerias, leilões ou feiras. O interesse dos colecionadores estrangeiros pela arte brasileira vem aumentando muito, resultado da qualidade dos trabalhos e do esforço de instituições e galerias para divulgar nossos artistas fora do Brasil.

TM: Você ministrou aulas de arte, organizou mostras e projetos voltados para alunos da escola pública e seu trabalho se voltou, naturalmente, para a área social. Quais são seus planos para o futuro?

Marjorie: Lembro como se fosse hoje o dia em que abri meu ateliê, em 2003, e recebi, na inauguração, como primeiro convidado, um dos grandes pintores de nossa cidade: Alexandre Fausto! Quase nem acreditei! Ele me cumprimentou e disse uma frase que nunca esquecerei: “Você é uma giganta apenas pelo fato de ter a coragem de montar um ateliê de artes em uma cidade pequena como Taquaritinga”. Realmente, não foi uma coisa, assim, tão fácil... Enquanto estive em Taquaritinga, procurei me dedicar a abrir espaços, não somente para mim, mas para outros artistas, realizando mostras e projetos sociais e incentivando as crianças das escolas públicas a terem contato interativo com a arte no projeto “Despertar para a Arte”. Tive experiências incontáveis com os alunos do CRAS e com os internos da Fundação CASA, foi uma vivência muito intensa e gratificante – consegui ver e entender do que a ARTE é capaz de fazer como meio de inclusão social! Meu novo projeto é estudar Arteterapia, por dois anos, na “ARTEC – Academie de Recherches e Techniques Corporelles”, aqui em Paris, para onde me transferi desde o começo do ano – e, claro, avançar minha carreira artística expondo na França e em outros países da Europa.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Professora Vera Pompeu

  Nossa entrevistada é a professora Vera Regina Beringhs Rodrigues Pompeu. Esposa do comerciante Geraldo Pompeu, é uma referência para gerações de taquaritinguenses que tiveram o privilégio de ter sido seus alunos. Talentosa ESCRITORA, apaixonada pelas letras – e pela vida! Desde que se aposentou das salas de aula, mantém sua influência ao presentear os leitores de Taquaritinga e região com suas obras literárias e suas crônicas publicadas no jornal Diário Cidade.
Com cordialidade – e uma vivacidade exemplar –, se dispôs a receber o TENDÊNCIA MUNICIPAL para falar, com sabedoria, clareza e bom senso, de Educação, Literatura, Taquaritinga e de seus planos futuros.


Tendência Municipal: Qual sua opinião sobre o sistema educacional dos dias de hoje? O que melhorou e o que ficou pior?

Professora Vera Pompeu: Entre o tempo em que fui aluna e na época em que lecionei até os dias de hoje, naturalmente que ocorreram mudanças. Devemos considerar escolas estaduais, particulares e municipais, sem pretender escaloná-las como melhores ou piores, apenas levando-se em conta o ambiente domiciliar dos alunos, quanto à educação recebida no lar, vamos dizer o ambiente em geral, quanto à educação, moral, respeito para com os colegas e mestres e quanto à religião. Durante meu período de magistério, sempre demonstrei gostar de lecionar e de todos os alunos, incentivando-os a estudar, a fim de que pudessem escolher uma carreira, uma profissão que lhes possibilitassem um futuro seguro, sentia o respeito que os alunos me dedicavam – o que me entusiasmava e muito! Atualmente, infelizmente, dependendo das regiões em que se localizam as escolas, ocorrem violência, o chamado “bulling”, tragédias, irresponsabilidade, culminando, muitas vezes, com mortes! Algo positivo, no entanto, é que, atualmente, os alunos gozam das vantagens de técnicas e conhecimentos modernos, atualizados, inclusive compêndios que trazem para eles conhecimentos avançados através da “internet”. Por tudo isso, penso que a educação, nos tempos atuais, está dispondo de meios vantajosos para a realização de um estudo de melhor qualidade.

TM: Em Taquaritinga brotaram mestres da literatura, com destaque para José Paulo Paes, Ivete Tannus, Narciso Nuevo, Horácio Ramalho, entre tantos. Como analisa esse notável potencial de nossa cidade?

Vera Pompeu: Geralmente, em todas as cidades nota-se nomes famosos, também, no campo da cultura. Aqui, em nossa cidade, dos que são destaque em tal setor cultural, tive a felicidade de conhecê-los a todos os citados, pessoalmente, menos Narciso Nuevo, mas do qual tomei conhecimento de seu imenso valor. Certo é que, além dos indicados, naturalmente, muitos outros estariam nessa relação se fosse possível dar os nomes de todos, bem como de algumas de suas obras. Muitos deles, como eu, por exemplo, tivemos a vantagem de cursar faculdades, pudemos fazer cursos que nos passaram a formação indispensável a fim de se poder pensar e transmitir idéias, princípios poéticos, filosóficos e um amadurecimento espiritual, possibilitando a apresentação, em nossas obras, idéias que saem de nosso interior, de nosso espírito. Sabemos e podemos expressar conceitos pessoais, morais, éticos, apresentando seja em forma de poesias, romances, crônicas, teses, e assim como outras formas culturais. Taquaritinga foi uma cidade pequena, cresceu e hoje, mais do que outrora, há pessoas que se destacam, oferecendo o melhor de si, em palestras, eventos, livros, frutificando a cultura em geral.

TM: Quais suas fontes de inspiração para a criação de seus livros e artigos? E quais seus autores e autoras preferidos?

Vera Pompeu: Desde o colegial, tivemos o estímulo de professores e, assim, procurávamos ler os autores por eles indicados e suas obras. Naquela época, não comprávamos livros, mas a Biblioteca da nossa Escola “Nove de Julho” emprestava-nos obras de vulto. Fomos tomando conhecimento dos nomes de famosos escritores e de suas obras, o que nos despertava a vontade de criar algo. Ainda, quando aluna da Escola do Grupo Escolar, todo sábado, após passar um bom tempo decorando uma poesia, eu a declamava no início das aulas. Tanto que fui escolhida a oradora da turma e, na festa de formatura, sendo o paraninfo o Dr. Horácio Ramalho, li com emoção o que eu havia escrito! Não poderia deixar de citar entre autores preferidos, naquela época, alguns, entre eles: Gilberto Freire (Casa Grande e Senzala); Visconde de Taunay (Inocência); Josué Montello (Um Rosto de Menina); Alexandre Dumas (A Tulipa Negra); Eça de Queirós (O Primo Basílio); Camilo Castelo Branco (Amor de Perdição) e tantos outros autores nacionais e estrangeiros com suas famosas obras. Uma obra da qual não me sai da lembrança é “O Pequeno Príncipe” de Antoine De Saint Exupéry. Quanto às fontes de inspiração, em se tratando de romances, foram fatos que aconteceram no decorrer da minha vida, fatos até familiares, sendo apenas o início da inspiração; em se tratando de poesias, busquei em meu interior e deixei falar minha mente e meu coração, às vezes, algum fato ocorrido em minha vida, também; e quanto às crônicas, busco no cotidiano, na vida do País, da Política, enfim, do meio socioeconômico-cultural e religioso! Gosto muito de escrever, tenho quatro romances, sendo um deles de contos e outro de poesias, contos e crônicas. Participei, também, de 23 coletâneas. Tenho os títulos de Consulesa e Comendadora da Ordem da Confraria dos Poetas-Brasil. Recebi muitos troféus, inclusive um, aqui em Taquaritinga, que me foi entregue pela ACIT (Associação Comercial e Industrial de Taquaritinga), o Troféu da Paz, muito gratificante para minha pessoa, deixando-me muito feliz. Escrevo crônicas semanais para o jornal “Diário Cidade” e tenho um programa semanal na Rádio de Jaboticabal, “Vida Nova”, para o qual escrevi 1.001 artigos sobre a Virgem Maria e quem continua a ler os meus textos já feitos é o Dr. Osvaldo Rezende, que, também, tem um programa semanal naquela rádio.

TM: Que conselho daria ao jovem taquaritinguense que pretende ousar pelos caminhos da literatura?

Vera Pompeu: Em primeiro lugar mostraria a ele a beleza de descobrir caminhos novos na vida. Perguntaria quais os livros que já tenha lido e aconselharia a ir descobrindo a importância de interessar-se pela beleza da natureza, pela arte de se ter amigos verdadeiros, como é gratificante tomar conhecimento dos problemas alheios, de ser amigo, solidário, e pesquisar sobre a situação sócio-política de sua comunidade e do Brasil. O autor não pode recolher-se a si mesmo, apenas em momentos de criação, mas observar com espírito crítico o que vivencia no seu dia-a-dia. Às vezes, uma frase, seja de alegria ou de amargura, dita por alguém, em determinada ocasião, poderá ser motivo de reflexão e daí pode sair um conto ou um romance! O estudo da gramática atual é prioridade, mas a veia poética sabe sentir algo mais superior e daí é seguir a inspiração.

TM: Fale-nos de seus projetos futuros. Está trabalhando em um novo livro?

Vera Pompeu: A vida nos preocupa em vários sentidos, com relação a nós mesmos, pensando em poder ajudar na solução de problemas os quais nos rodeiam e muito mais. Não posso cuidar apenas de dar largas à minha imaginação, tenho afazeres e muitas atenções a dispensar aos amigos, parentes, familiares e outros mais. O importante em nossa vida além do amor ao próximo, também, é a amizade, solidariedade, pois, persistindo o egoísmo, o ser humano, sem dúvida, buscará a auto-suficiência e é esta a geradora de muita violência e destruição, é a negação do amor! Nós sempre temos projetos futuros, qual deles escolher primeiramente? Há muitos anos fazia parte de um grupo de amigas, do qual participava uma de outra religião. Mas isso não tinha importância, pois aquele grupo, da Igreja Católica, havia descoberto algo que fazia falta em Taquaritinga, a Escola da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Tudo começou em 1972. Tenho quase tudo catalogado, os nomes, o início, a organização, os primeiros passos. Vai ser uma tarefa difícil até certo ponto, pois, hoje a cidade inteira se interessa em ajudar e tudo que começa tende a se desenvolver. Porei os nomes de todas as que fizeram parte do primeiro grupo, os nomes dos que assumiram os cargos, alguns já falecidos. O trabalho vai ser longo, mas tenho muita vontade em poder realizá-lo. A par disso, naturalmente virão crônicas, poesias e talvez novos romances. O tempo dirá!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Fábio Girotto

  A entrevista desta edição é com Fábio Roney Girotto. Filho do saudoso Osmar Girotto e da dona Luzia, cresceu por entre as prateleiras repletas de medicamentos da farmácia de seu pai, a Drogalar, de onde surgiu a paixão pela profissão. Formou-se em Farmácia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Marília. Casado com a também farmacêutica e professora de Biologia Rosemary Girotto, pai da Nathalia e do Vítor. Na juventude, Fabinho foi um habilidoso jogador de futebol; sãopaulino, treinou nas categorias de base do Palmeiras, Guarani e Ponte Preta – e jogou no CAT nos anos 1980.
Abandonou o esporte profissional para se dedicar à arte milenar da farmácia. Especialista em saúde pública, está à frente da Assistência Farmacêutica da secretaria Municipal de Saúde desde 1994; é membro do Conselho Municipal de Saúde e participa da diretoria da Santa Casa local. Mestre Maçom da “A.R.L.S. Líbero Badaró”, secretário da diretoria-executiva do Capítulo da Ordem Demolay. Recebeu o prêmio “Destaque Profissional do Ano” (2011), concedido pela Câmara Municipal de Taquaritinga, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à cidade junto à secretaria Municipal de Saúde. Discorremos sobre futebol, política, métodos de cura e saúde pública.


Tendência Municipal: Como foi para um sãopaulino treinar no Palmeiras?

Fábio Girotto: Gostaria mesmo era de ter treinado no SPFC, ainda mais que, na época, o nosso conterrâneo Paulo César Camassuti (o “Capeta”) era destaque no time – e era grande amigo de minha família. Mas surgiu a oportunidade e fui para o Palmeiras, com indicação do Dr. Vitório Pagliuso. Fiquei por um ano sob o comando dos treinadores Vicente Arenari e Minuca, onde também jogavam Veloso, Edu, Caçapa etc.

TM: Quando decidiu se dedicar à prática farmacêutica?

Fábio: Desde criança via meu pai manipulando fórmulas magistrais, em peças de porcelanas. Aquilo me encantava. Também aprendi a ler receitas muito mal escritas, aplicar injeções, soros, curativos, com os ensinamentos do meu pai, considerado por muitos de seus fregueses de Taquaritinga e região, um grande entendido no assunto. Devo tudo o que sei e sou hoje ao meu pai.

TM: Faça-nos uma análise do departamento municipal sob seu comando. Quais os avanços e as dificuldades?

Fábio: A parte da Assistência Farmacêutica cresceu muito desde 1994. Tivemos muitos avanços na qualificação profissional dos farmacêuticos que fazem parte da equipe e também através dos programas de excelência implantados pela secretaria da Saúde/Assistência Farmacêutica, que são: DST/HIV/AIDS, pneumologia sanitária (tuberculose), mal de Hansen (hanseníase), hipertensão/diabetes, dose certa e assistência farmacêutica geral. As dificuldades são muitas, às vezes não conseguimos dar um suporte melhor aos pacientes quando o caso sai da nossa responsabilidade.

TM: Qual sua opinião sobre a chamada “medicina alternativa”? Os remédios naturais e homeopáticos funcionam?

Fábio: Medicamentos naturais: a cura pela natureza jamais deve substituir o tratamento proposto por seu médico. Mas é preciso saber que “natural” não significa “inofensivo”. Medicina alternativa: usada para descrever práticas médicas diversas da alopatia ou da medicina ocidental; faz parte de um arsenal de diagnósticos como acupuntura, florais, fitoterapia etc., que acredito no tratamento somente para algumas doenças. Medicamentos homeopáticos: na homeopatia, tudo é possível, desde tratar a dor que é produzida por alguma substancia e ser curado por esta mesma substância em doses diminutas, segundo as “leis dos semelhantes”.

TM: Já pensou em entrar na política, se candidatar a algum cargo eletivo?

Fábio: Já recebi vários convites de partidos políticos. Agradeço a todos pela lembrança do meu nome, mas só depois que cumprir com o meu dever de Funcionário Público (me aposentar) é que pensarei com muito carinho para, quem sabe um dia, concorrer a vereador de nossa querida “terrinha”. Finalmente: “a polivalência, qualidade intrínseca no perfil do farmacêutico, nunca foi tão requisitada como agora”.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Washington Patrini

  Entrevistamos Washington Luís Patrini, autodenominado “Óxito”. Nasceu, por acaso, em Monte Alto, já que seus pais moravam em Taquaritinga. É taquaritinguense de coração e de direito – recebeu Título de Cidadão em 2009. Formado em História pela PUC/SP, construiu sólida carreira no mercado financeiro. Nos anos 1970, foi professor de cursinho, trabalhou no sistema bancário e na Bolsa de Valores até fundar sua própria empresa, estabelecida em Ribeirão Preto. Estava no campus da PUC quando ocorreu a invasão policial, comandada pelo famigerado secretário de Segurança Pública Erasmo Dias, em 1977.
Desde a juventude, demonstra apreço pela arte, participou dos áureos tempos da ATE (Associação Taquaritinguense dos Estudantes) e escreve com peculiar estilo. Apaixonado por carnaval, compôs, com o parceiro e conterrâneo Edu Velocci, sambas-enredos que chegaram às finais nos concursos da Escola de Samba Unidos do Viradouro, no Rio de Janeiro. É o principal (des)organizador do bloco taquaritinguense Batata Doce. Atualmente, divide sua residência entre Ribeirão e Sion, na Suíça, e vem com frequência à Taquaritinga. Óxito é daqueles com quem podemos conversar por horas e horas, sem que falte assunto! Nosso bate-papo abordou mercado financeiro, economia, ditadura, carnaval, Taquaritinga, São Paulo, Rio e Suíça.


Tendência Municipal: De estudante de História a investidor, faça-nos um resumo de sua trajetória.

Washington Patrini: Bem, eu acho que, naqueles tempos, a trajetória de qualquer jovem que saía do Instituto de Ensino 9 de Julho, filho de ferroviário, era seguir para São Paulo em busca de trabalho. Era a única alternativa para se chegar à sonhada Universidade. Essa mudança me deu a oportunidade de conhecer novos lugares, pessoas interessantes, e, ao mesmo tempo, de experimentar uma outra realidade, bem diferente da que eu havia vivido até então: morei na rua Aurora (na conhecida “boca do lixo”), na avenida São João e no bairro do Bixiga. Assim, entre uma mudança e outra – algumas feitas a pé –, tratei de me adaptar às condições sem olhar para trás. Quanto ao mercado financeiro, ele veio quase que por acaso. Fiz um teste na CREFISUL e, no dia seguinte, já estava trabalhando. Não sei se me apaixonei pelo trabalho ou se foi pela necessidade de trabalhar... Eu tinha 17 anos e já passava da hora de pegar no batente! De lá, fui parar no pregão da Bolsa de Valores. Trabalhei no CITYBANK e no Unibanco. Após o trabalho, ia para a PUC, onde cursava História. Nas “horas vagas”, ministrava aulas em colégios da periferia de São Paulo e, enquanto bolsista da PUC, desempenhava minhas funções de monitor da disciplina de Antropologia. Dormir? Só depois de passar pelo Paulistano da Glória... Para mim, São Paulo era como para Mário de Andrade: a “comoção da minha vida”. Cinemas, teatros, escola de samba Camisa Verde e Branco. Assim, fui tocando a vida naquele momento.

TM: Como foi estar na invasão da PUC em 1977?

Óxito: Sobre a invasão da PUC pelas forças de repressão, posso dizer que foi um episódio que caracterizava bem o grau de truculência que imperava no Brasil. Vivíamos numa ditadura militar, tendo como maior expoente a figura do coronel Erasmo Dias – quem nunca tinha visto um “nazista” de perto, aquela foi a grande oportunidade! Havia um braço-de-ferro entre o movimento estudantil e as forças de repressão. O resultado, todos conhecemos: gente ferida, inúmeras prisões, mortes, e a direita reacionária arrumando uma grande briga com a Igreja Católica. Na noite da invasão, depois de algumas borrachadas, fui liberado. Cheguei em casa e tratei de ligar para o Dimas [Ramalho]. Eu precisava informar alguns nomes de amigos da [faculdade de Direito] São Francisco que eu vi sendo presos. Para nossa surpresa, enquanto falávamos ao telefone, entra uma voz na linha e diz: “Que conversa é essa, seus comunistas?!”. Assim mesmo, continuamos, era importante saber quem havia sido preso. Hoje, sinto muito pelo que alguns fizeram com a UNE [União Nacional dos Estudantes], que quase perdeu sua função. Mas tenho fé que a UNE reencontrará seu papel de luta, não só em defesa dos estudantes como na construção de um Brasil melhor!

TM: Qual sua relação com o samba e, especificamente, com a Viradouro, no Rio, e com o Batata Doce, em Taquaritinga?

Óxito: Minha relação com o samba nasceu muito cedo. Meu pai era apaixonado por carnaval e, juntos, ouvíamos – no seu rádio “ABC” –, durante os três meses que antecediam a folia, o programa do Joel de Almeida, conhecido como “Magrinho Elétrico”. Quando o carnaval chegava, eu já conhecia todo um repertório de marchinhas: as novas e as dos antigos carnavais. Era uma delícia, era mais que isso: um verdadeiro encontro, pois lá estavam pai e filho a compartilhar as mesmas emoções! O rádio, veículo mágico naquela época, me fez conhecer vários sambistas, da nova e da velha geração: Wilson Batista, Noel Rosa, Lamartine Babo, Haroldo Lobo, João R. Kelly, João de Barro, Zé Kéti e muitos outros. Por falar em Zé Kéti – antes “Zé Quieto”, apelido dado por sua mãe –, temos aí um dos maiores compositores de todos os tempos: “A Voz do Morro”, “Acender as Velas”, “Máscara Negra”, “Diz que fui por aí”, etc. Tudo isso, sem dúvida, me envolveu nessa festa que outrora me parecia bem mais popular e que, de certa forma, me encaminhou para levar à minha terra uma forma de carnaval avesso ao estabelecido, do tipo “não põe corda no meu bloco” (como diz Aldir Blanc). Nascia, assim, o Batata Doce: péssima bateria, fantasia roxa, sem horário para desfilar – entrava no corso a hora que bem entendesse – e mais, qualquer pessoa que chegasse – vestindo roxo – tinha ingresso garantido! Já com a Viradouro do Rio, a coisa foi diferente. O Edu [Velocci] conhecia um compositor da escola que nos convidou para participar do concurso de sambas-enredos. Apesar de toda estrutura e sofisticação que mantêm o carnaval do Rio, tive a oportunidade de conhecer quem, na verdade, faz o carnaval das escolas de samba. Uma coisa é certa: sem a comunidade e seus verdadeiros compositores, bateria, passistas, e a alegria dentro da quadra, não existe carnaval! Aquilo que a televisão vende é um outro espetáculo. Faz mais de cinco anos que participo do carnaval carioca, anos de muita amizade, não só na Viradouro como também na Porto da Pedra, Cubango, Vila Isabel, pela cidade de Niterói, enfim. No Brasil, tem gente boa em todo lugar!

TM: A crise econômica mundial, iniciada em 2008, ainda aflige os EUA e ameaça a Europa. O que esperar para os próximos anos? O Brasil será prejudicado ou podemos estar diante de uma oportunidade de afirmação internacional?

Óxito: Não tenho dúvida de que a crise que atingiu os EUA, em 2008, ainda continua fazendo estragos não só naquele país, mas no mundo todo. Estamos conscientes de que a economia americana é das maiores do planeta, seria estupidez imaginarmos o contrário. Estamos, também, acompanhando uma recuperação, ainda que sutil, da economia norte-americana, porém não devemos esquecer que os Estados Unidos têm que resolver seus desequilíbrios fiscais, esta é uma questão essencial. Sabemos que o FED [Banco Central estadunidense] tentou de todas as formas evitar a quebra do banco Lehman Brothers, só que as questões políticas não se resolvem do dia pra noite e, além disso, outros interesses se impõem. Dessa forma, a falta de sintonia entre mercado e política acabou por dar uma dimensão catastrófica à crise financeira global. Sinto a mesma sensação quando começo a olhar para o problema europeu. Há equívocos evidentes na criação do euro. Quando o projeto começou, no pós-guerra, ninguém esperava que chegasse tão longe com a criação de uma moeda única. Houve falhas nesse processo, podemos citar o exemplo da Itália, onde o Banco Central não tem poderes para emitir euros para comprar títulos da dívida italiana. O único que pode fazer isso é o BCE [Banco Central Europeu] e isso é, sem dúvida, um absurdo, pois a França e a Alemanha querem que a Itália coloque em prática políticas fiscais rigorosas antes de aprovar as medidas que garantam a liquidez dos títulos italianos. Tudo se resume em criar liquidez inquestionável para as dívidas italiana e espanhola. Não há outra saída. É claro que devemos estabelecer critérios e fiscalizar, mas há um problema imediato, não está em jogo somente as instituições que estão expostas ao risco europeu, numa situação de catástrofe financeira, pois todos seremos afetados. Quanto ao Brasil, acho que não devemos perder a oportunidade de investir o máximo que pudermos em infra-estrutura. Precisamos avançar nesse ponto, não adianta termos um mercado interno surpreendente se não baratearmos os custos da produção. Toda empresa com ambição global está olhando para o Brasil. É preciso estimular o investimento em infra-estrutura e Educação.

TM: Como o mercado financeiro pode contribuir com o setor produtivo?

Óxito: Bem, não consigo olhar o setor produtivo sem a contribuição do mercado financeiro. É impossível o desenvolvimento produtivo sem o fomento de capital por parte do mercado. Isso pode se dar de diversas maneiras: via bolsa de valores, emissão de papéis, financiamento de longo prazo, etc. É óbvio que temos inúmeras distorções a serem corrigidas, temos uma das maiores taxa de juros do planeta e nos falta uma política de exigibilidade por parte do governo junto aos bancos privados.

TM: O que que a Suíça tem?

Óxito: A Suíça é um país com dimensões geográficas pequenas e está extremamente bem localizada, com seus 7,5 milhões de habitantes. Possui quatro idiomas: Alemão, Francês, Italiano e Romanche. A rede de ensino é gratuita e eficaz; há um sistema de transporte coletivo – preciso – em toda sua extensão; enfim, um país onde quase tudo funciona. A Suíça detém ainda a “chave do cofre” de grande parcela da riqueza do planeta, não participa da zona do euro e tem sua própria moeda, o franco-suíço [cujo valor é equivalente ao dólar, na cotação de dezembro/2011]. O sistema político está muito voltado à direita. Além disso, possui uma indústria farmacêutica forte e sua indústria turística é muito eficiente, conseguindo, assim, fazer com que entre mais dinheiro no país.
Só para finalizar: “O passado é lição para se meditar, não para reproduzir”. Mário de Andrade, Prefácio Interessantíssimo, p. 33...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Andréa Pastôre

  Iniciamos o ano conversando com Andréa Cristina Pastôre. Filha do saudoso Carlinhos Pastôre e da elegante Dirce, irmã do Gu (proprietário da Troy Informática), do Kóy (saudades!) e do Pio (Dr. Flávio, renomado médico radicado em Votuporanga), mãe da Melina e do Matheus, casada com Antonio Roberto Sábio. Formada em História, Estudos Sociais e Pedagogia, pós-graduada em Didática pela UNIARA, professora do Ensino Básico e Fundamental, ministra aulas no Fundo Social de Solidariedade e na Alfabetização de Adultos. Funcionária pública concursada (desde 1990), foi Coordenadora Pedagógica da escola Amando de Castro Lima, Vice-Diretora do Domingues da Silva e Diretora do Mineo Rossi.
Atuou como membro do Conselho Municipal de Assistência Social, do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência. Foi secretária municipal de Promoção Social de Taquaritinga até assumir, em 2011, a Diretoria da Divisão Regional de Assistência e Desenvolvimento Social (DRADS) de Araraquara. Seu trabalho é reconhecido pela comunidade taquaritinguense – e também por políticos dos mais variados partidos. Falamos de política, da relação entre órgãos estatais e sociedade civil, dos grupos de pessoas mais carentes de Taquaritinga e do desafio de vencer a miséria.


Tendência Municipal: Quais são e onde estão localizadas as pessoas mais vulneráveis de nossa cidade?

Andréa Pastôre: Taquaritinga possui dois locais, com aproximadamente 15 mil habitantes cada, onde estão os “bolsões de pobreza” (Jardim São Sebastião/bairros adjacentes; Jardim Paraíso/bairros vizinhos), obviamente, localidades em que encontramos boa parte da população em estado de vulnerabilidade social. A demanda maior, sem dúvida, vem das famílias vitimadas pelo álcool e pelas drogas, problemas que mais acarretam desemprego, violência e a total desestruturação familiar.

TM: Faça-nos uma análise sobre a Assistência Social em Taquaritinga. Existe interação entre órgãos públicos e entidades filantrópicas?

Andréa: A Norma Operacional Básica de Assistência Social (NOB) prevê os níveis de atuação em Gestão Inicial, Gestão Básica e Gestão Plena, e cabe aos municípios desenvolvê-las de acordo com suas realidades. Taquaritinga é um município de médio porte e está em Gestão Básica, avanço alcançado em 2009. O quadro analítico nos mostra que é formado, em grande parte, por trabalhadores rurais de baixa renda. Devido ao crescimento populacional na faixa dos 25 aos 39 anos, houve a necessidade de ajustamento nos programas sociais voltados para geração de emprego e renda, uma vez que se trata de população economicamente ativa. Segundo diagnósticos, Taquaritinga cresceu muito nos últimos seis anos com o surgimento de algumas indústrias e o crescimento do comércio; contudo ainda enfrenta problemas sociais – o emprego aparece, mas a falta de qualificação ainda é muito presente e fomenta o desemprego. Hoje, o grande desafio é conscientizar a população carente da importância de participar de programas oferecidos, qualificando-se e capacitando-se para atender às demandas. Para enfrentar esses problemas, procura-se trabalhar de forma integrada a outras secretarias, assessorando nas questões que envolvam a assistência social. Possui articulação com a maioria das entidades, como Conselho Tutelar, Conselhos de Direitos, de Saúde, de Assistência Social, Poder Judiciário, entre outros. Através de seus programas e serviços, objetiva-se a transformação, a inclusão e a garantia dos direitos dos munícipes em situação de vulnerabilidade social e econômica. Possuímos um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no Jardim São Sebastião, que trabalha com a acolhida e prevenção de famílias em situação de risco, e um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) no centro da cidade, que trabalha já com a situação de risco instalada, com jovens em cumprimento de Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade, pessoas que sofreram abuso, agressões, etc., ambos em pleno funcionamento. Estamos em fase de implantação de um novo CRAS no Jardim Micali. As entidades sociais têm papel importantíssimo na execução e desenvolvimento das ações. Por isso, o Conselho Municipal de Assistência Social deve manter suas inscrições em ordem para que possa receber indicações parlamentares e outros tipos de convênios. Hoje, tenho uma visão contextualizada de como caminha a Assistência Social na região e posso garantir que Taquaritinga tem servido de referência aos demais municípios, assim como São Carlos e Araraquara.

TM: O que é a Diretoria Regional de Assistência e Desenvolvimento Social de Araraquara (DRADS) e como se dá a relação com Taquaritinga?

Andréa: A DRADS de Araraquara atende a 26 municípios da região e é um braço da secretaria Estadual de Desenvolvimento Social. Tem diversas atribuições: orientar e assistir municípios e entidades na implementação e acompanhamento de políticas e programas de assistência e desenvolvimento social; executar as atividades previstas para a Coordenadoria de Ação Social no âmbito regional da Diretoria, observadas as diretrizes por ela estabelecidas; fomentar o estabelecimento e aperfeiçoamento das redes sociais locais, integrando a ação dos Conselhos, municípios e entidades empresariais e sociais; estimular e orientar a formação e funcionamento de Conselhos e Fundos Municipais de Assistência Social; produzir informações para as Coordenadorias Estaduais que sirvam de base à tomada de decisões, planejamento e controle de atividades de interesse da secretaria; receber pedidos e formalizar expedientes e processos para celebração de convênios e examinar sua viabilidade administrativa, orçamentária e financeira, emitindo parecer ao registro de entidades e organizações sociais; formalizar correspondências preliminares e documentação de convênio com entidades e municípios relativo aos recursos do Estado; acompanhar e controlar convênios e similares; avaliar e emitir pareceres técnicos acerca dos trabalhos conveniados, entidades e organizações; manifestar-se sobre os trabalhos dos municípios com vista à sua qualificação para a Gestão Municipal; colaborar com outros órgãos do Estado na execução de programas; participar de eventos e reuniões com prefeituras e entidades referentes à assistência social; divulgar as ações da pasta junto aos veículos de comunicação regionais; representar a secretaria em âmbito regional e sub-regional junto a órgãos públicos e privados, Conselhos e Fóruns Sociais. No dia a dia, procuramos visitar os 26 municípios e fortalecer toda essa articulação.

TM: Como fazer com que a Assistência Social pública (e genuína) não se confunda com o "assistencialismo" de fins político-eleitorais?

Andréa: As práticas de proteção social são antigas no Brasil, mas sempre foram realizadas sob o manto da caridade ou da filantropia, vistas como uma “responsabilidade” de fundo ético ou religioso. A Constituição de 1988 deu uma grande guinada em direção à concepção da proteção social como “direito”. No entanto, essa concepção só veio a ser regulamentada na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em 1993, que consolidou um novo modelo de proteção social. A LOAS traça novos caminhos para viabilizar a estruturação de um sistema de garantia de direitos e não de favores. Sabemos que o antigo sempre tenta resistir – e ainda me assusto com algumas práticas que encontramos por aí, ainda falta muito para que possamos consolidar a política de assistência social como “direito universal” e não “benesse pontual”. Acho que um município bem estruturado sabe a diferença do Fundo Social de Solidariedade, que normalmente é presidido pela primeira-dama e que tem uma função articuladora muito peculiar, da função de uma secretaria de Assistência Social, que é totalmente diferente. Para resumir: precisa ficar claro que uma cesta básica, um prato de sopa, um cobertor ou uma troca de roupas podem ser, sim, muito importantes num momento de fragilidade, de emergência, de vulnerabilidade de uma família, mas somente a política de proteção social bem aplicada, que acolha essa família, analisa suas reais precariedades, insere-a em programas sociais (Renda Cidadã, Agente Jovem, Pro Jovem Adolescente, Bolsa Família, BPC, etc.), capacita seus responsáveis em programas de qualificação profissional, desinstitucionalizando-a, é que pode realmente significar alguma mudança na vida das pessoas. Muitas vezes, as pessoas estão em estado de pobreza apenas por falta de informação, por falta de acesso às políticas públicas. O município dos sonhos é aquele que não precisa fornecer cestas básicas, leites especiais, fraldas, para nenhum cidadão e, sim, que cada pai e mãe de família tenha autonomia para sobreviver! Quando iniciei na Assistência, fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que iam buscar cestas básicas e outros benefícios e se diziam orgulhosas por terem criados seus filhos com a ajuda da prefeitura. Era deprimente... As pessoas precisam ter essa consciência – e essa é a luta dos agentes da área social!

TM: O Bolsa Família tem eficácia reconhecida pela ONU. Esse ano, o governo federal lançou o plano "Brasil sem miséria" e, recentemente, vemos uma "parceria" entre as administrações Dilma e Alckmin, que culminou na união dos dois principais programas sociais, o Bolsa Família (federal) e o Renda Cidadã (estadual). É possível erradicar a pobreza extrema no País?

Andréa: A ideia dos benefícios através de transferência de renda foi implantando no governo FHC, pela então primeira-dama Ruth Cardoso: “Bolsa Escola”, “Auxílio Gás” e “Cartão Alimentação”. Mais tarde, no governo Lula, o programa “Bolsa Família” unificou os demais para integrá-los ao “Fome Zero”. O Pacto pelo Fim da Miséria na Região Sudeste e o Termo de Cooperação do Cartão Único foram assinados no Palácio dos Bandeirantes [sede do governo de SP], em agosto de 2011, pelo governador Geraldo Alckmin e pela presidente Dilma Rousseff, unindo os programas Renda Cidadã e Bolsa Família. A iniciativa garante o benefício individual mensal de R$ 70,00 a 300 mil famílias paulistas que não atingem esse piso, tirando-as da linha da extrema pobreza até 2014 por meio da mobilidade social. Acompanhei, durante anos, o cadastramento dos beneficiários do Bolsa Família e sempre achei que faltava algo. Até então, por mais que as condicionalidades fossem acompanhadas e cumpridas, dificilmente víamos as famílias serem “emancipadas”, ao contrário, o que me incomodava era a “dependência” aos programas. Mais uma vez, ficava aquela ideia de ter “orgulho” de receber benefícios. Acredito que o pacto entre os governos federal e estadual possa preencher essa lacuna, pois, com a implantação do Programa Bandeirantes (estadual), as famílias terão oportunidade de ganhar qualidade de vida, de investir o que recebem em itens realmente importantes para a subsistência. O Programa Bandeirantes será estruturado em três eixos principais. A primeira etapa é a realização do “Retrato Social”, localizar as pessoas em extrema pobreza por meio da Busca Ativa. Com os dados, será elaborado, pela secretaria de Desenvolvimento Social, o “Mapa de Privação Social”, que norteará os municípios na construção da “Agenda da Família” nas dimensões da educação, saúde e padrão de vida. Para receber o benefício, as famílias deverão assinar a Agenda da Família, firmando compromisso com a prefeitura na busca de superar suas graves privações. O benefício será transferido por meio do Cartão Único, somando recursos do Renda Cidadã (estadual) e Bolsa Família (federal). Penso que a não unificação seria a negação da política social como “direito”, se não houvesse unificação, ficaria a ideia de benesse ligada ao governo que a concede. O sucesso dos programas de transferência de renda vem da liberdade concedida ao usuário de utilizar o recurso da maneira que achar conveniente, mas isso pode ser uma via de duas mãos. Acompanhando o cadastramento, vi pessoas realmente necessitadas recuperando o poder de comprar seu pão, seu medicamento... Em contrapartida, vi muitos comprando crédito para celular, tinta de cabelo, cigarro, bebida, enfim... É lógico que o cidadão, uma vez possuidor do direito, pode fazer o que bem entender com o benefício, mas não é apenas isso que queremos. Queremos que esses cidadãos sejam autônomos, que utilizem o benefício para suas necessidades reais. Acho que é possível erradicar a pobreza extrema do País, o desafio é chegar a determinados locais – e os municípios farão esse papel, através da Busca Ativa.

TM: Você tem planos para a política? Pretende, algum dia, se candidatar à vereadora?

Andréa: Não, não tenho planos para a política. Não penso em me candidatar a nada. Gosto de estar envolvida nos projetos, na execução direta dos trabalhos que envolvem a área social e a educação. O que me encanta é a ideia de poder, de alguma forma, melhorar a vida das pessoas – e meu trabalho me proporciona isso. Posso dizer que estou feliz e realizada. Com muitos desafios pela frente, mas realizada!