domingo, 17 de fevereiro de 2013

Melina Bassoli

  Melina Bassoli nasceu em Araraquara, em novembro de 1984; dois dias depois, já estava de volta à Taquaritinga; ao concluir o Ensino Médio, foi à Londrina para se formar em Ciências Sociais pela UEL e hoje reside em São Paulo. Voltava regularmente à terrinha para ministrar aulas de Sociologia e História da Arte no Colégio Objetivo; na Capital, foi professora de História no Colégio Diáspora e segue se preparando para o concurso do Instituto Rio Branco (o mais disputado do País), visando à carreira diplomática. Filha de sãopaulino e neta de palmeirenses e corintianos, é torcedora do Santos... De alma livre e mente aberta, pode ser considerada uma cidadã do mundo, viajou pela Europa e América do Sul.
E não perde um carnaval: todo ano, participa dos desfiles no Rio e em São Paulo – seu coração é verde-e-rosa, apaixonada pela Estação Primeira da Mangueira. Melina é um exemplo de intelectual da nova geração: inteligente, culta, poliglota, estudiosa (certificou-se em Astronomia pelo Planetário Municipal de São Paulo). As visões da contemporaneidade embasadas no estudo da História: o Brasil e o mundo, por Melina Bassoli.


Tendência Municipal: A Sociologia explica?

Melina Bassoli: A resposta mais simples seria [explica] a sociedade. A sociologia busca métodos para explicar como funcionam as interações sociais, por meio das repetições das relações sociais. A sociologia é uma ciência, assim, formulam-se hipóteses, que usam regras, métodos e experiências para verificá-las e saber se são aplicáveis. Ela pode ser usada tanto para explicar a ordem social, como para criticá-la, a fim de superar certas relações de poder.

TM: Qual o papel da Arte no desenvolvimento da “raça humana” e qual sua importância na sociedade contemporânea?

Melina: Muitos antropólogos atualmente concordam que é a capacidade de produzir cultura que diferencia os seres humanos dos outros animais. A arte é uma das principais manifestações culturais da humanidade, tão importante como a fala e a escrita. A produção artística é uma forma de legado para as próximas gerações; tanto que, na sociedade contemporânea, as artes são usadas como importante documento para a pesquisa histórica. As pessoas, ao produzirem arte, retratam o mundo de sua época, ou lançam vanguardas artísticas para questioná-lo, o que não deixa de ser um retrato de seu tempo; mesmo o questionamento da ordem é uma forma de nos contar o que acontecia. Hoje em dia, é comum ler grandes intelectuais decretando que já não existe mais arte; pessoalmente, acredito que arte continua tendo o papel que sempre teve e servirá como melhor retrato da nossa sociedade atual do que muitos tratados científicos ou textos jornalísticos.

TM: Diante da Globalização, como analisa as relações internacionais? A ONU deve ser reformada?

Melina: A globalização torna as relações internacionais mais intensas – e os países dedicam grande parte de suas agendas a elas. As organizações multilaterais adquirem um papel cada vez maior nas relações internacionais, sendo que a mais importante é a Organização das Nações Unidas, criada efetivamente após a Segunda Guerra para a promoção de paz e segurança e evitar uma nova guerra mundial – nesse sentindo mais amplo, a ONU é bem sucedida. No entanto, continuam existindo guerras, terrorismo, tráfico internacional de drogas, de pessoas, de armas... Os próprios Estados membros da Organização sofrem com denúncias de violação dos direitos humanos. Assim, a ONU precisa ser reformada para ter um papel mais firme; a sua fraqueza diante das nações mais poderosas ficou evidenciada depois da última invasão do Iraque pelos EUA. O Itamaraty [ministério das Relações Exteriores do Brasil] é a favor da reforma da ONU; o próprio ex-secretário geral, Kofi Annan, era a favor de sua reformulação, inclusive alguns pontos cruciais foram reformados na sua gestão, como a substituição da Comissão de Direitos Humanos pelo Conselho de Direitos Humanos, criado justamente para reparar a inação que a caracterizava. A reforma da ONU deve continuar para solucionar outros pontos importantes da agenda internacional.

TM: Desde a última década, o Brasil se esforça para incrementar sua influência na geopolítica global, inclusive se apresentando como mediador de conflitos e como parceiro socioeconômico de nações do “terceiro mundo”. A política externa brasileira está no caminho certo?

Melina: Durante quase todo o século 20, com exceção de alguns governos, a política externa brasileira era voltada para aumentar o poder de barganha com os EUA em busca de alguns benefícios, como empréstimos financeiros – isso quando não estava totalmente aliada aos interesses norte-americanos. O resultado dessa estratégia foi uma grande dependência econômica e até política. Recentemente, temos a diversificação de parcerias, que é estratégica para não deixar o País a mercê das marés econômicas de outros países, além de ajudar o Brasil a conseguir maior apoio para realizar projetos de seu interesse, como a referida reforma da ONU. A opção pelo aumento da cooperação “Sul-Sul” é uma forma de expandir novas fronteiras comerciais e culturais, além de nos reafirmarmos como país soberano, que não precisa da “tutela” das grandes potências. A participação em missões de paz e em resoluções de conflitos aumenta ainda mais o prestígio do Brasil, e o diálogo amistoso com praticamente todo mundo nos faz despontar como país de relevante importância no cenário internacional. Por tudo isso, a meu ver, a política externa brasileira está no caminho certo.

TM: A diplomacia conseguirá se impor ao belicismo ou a paz mundial é um sonho impossível?

Melina: Eu acredito na diplomacia, mas não como forma de imposição. Penso que será cada vez mais perceptível aos atores internacionais que os ganhos que obtêm agindo diplomaticamente são maiores dos que os obtidos pela ação bélica. Provavelmente sempre existirão conflitos entre diversos desses atores, porém, a busca pela resolução pacífica de controvérsias deve ser mais frequente. Esse é o caminho escolhido pelo meu País – e aquele em que acredito.