sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Fúlvio Zuppani

  Entrevistamos o médico Fúlvio Zuppani. Taquaritinguense, 60 anos, estreou nas disputas político-eleitorais em 2010 como candidato a deputado estadual pelo pequeno PSL (Partido Social Liberal), quando recebeu, em Taquaritinga, a expressiva votação de mais de 5 mil votos. Em 2011, transferiu-se ao Partido dos Trabalhadores, a convite do diretório municipal, para se tornar pré- candidato a prefeito. Reconhecido como excelente profissional e dono de grande carisma pessoal, está demonstrando uma notável capacidade de articulação política. Dr. Fúlvio falou de medicina, política, saúde pública e de seus projetos futuros. Com a sinceridade de sempre!


Tendência Municipal: Você é sobrinho de uma dos maiores médicos da história de Taquaritinga, o Dr. Paulo Zuppani. Quando decidiu seguir a carreira médica?

Dr. Fúlvio Zuppani: Minha família trabalha na área médica desde década de 1920. Meu avô era médico, minha avó biomédica – e foi gestora da Santa Casa. Naquela época, cursar medicina ou um curso de nível superior era muito importante. Quando tínhamos a oportunidade de fazer um curso superior, era nossa obrigação aproveitar ao máximo. Estudei no Domingues da Silva e no 9 de Julho – e a educação era de qualidade.

TM: O que motivou a ingressar na política e que lições tirou de sua candidatura a deputado estadual em 2010?

Dr. Fúlvio: Minha candidatura a deputado estadual foi para mostrar que o candidato daqui, de Taquaritinga, tem que ter compromisso com cada voto que recebeu. Ao assumir a cadeira de deputado, vereador, prefeito, deve ter o compromisso do voto que recebeu do “Seu João” que mora na esquina! Taquaritinga é uma cidade que a gente pode considerar uma família. Eu queria provar para o povo que ele, o povo, tem força, que pode ter um retorno do voto que depositou na urna.

TM: Por que se transferiu ao PT e qual sua opinião sobre o governo Dilma?

Dr. Fúlvio: Os projetos do Partido dos Trabalhadores foram ao encontro de meus anseios. Eu já admirava o Governo Lula pela atuação na área social e pela sua política externa. A presidenta Dilma tem continuado – e valorizou muito os princípios nacionalistas. Dilma tem feito uma gestão eficiente, estou admirado com sua capacidade. Aceitei o convite do partido por achar que, através do PT, poderíamos colocar em prática nosso projeto. Com o PT é mais fácil, pois não tem vínculo com nenhum grupo que governou ou governa a cidade. O PT tem os mesmos princípios que eu... Estou otimista!

TM: Como analisa a situação da saúde pública em Taquaritinga?

Dr. Fúlvio: Fui Diretor da Saúde na gestão do Dr. Adail [Nunes da Silva]. Com o Milton Nadir, atuei bastante nessa área. Mas, hoje, infelizmente, mesmo com bons profissionais, a saúde deixa a desejar. Por outro lado, existem programas, como o PSF (Programa da Saúde da Família, do Governo Federal), que são Postos de Saúde bem equipados, que não estão sendo utilizados. Taquaritinga é uma das poucas cidades que não implantou este projeto. Não quero julgar as pessoas que estão à frente da saúde, mas acho que se pode fazer muito mais.

TM: Caso se confirme sua candidatura a prefeito, quais seus principais projetos para a cidade? Pretende firmar coligações?

Dr. Fúlvio: Coligação é fundamental porque, sozinho, você não consegue administrar, tomar conta de tudo, é impossível abranger todos os aspectos de uma administração. É fundamental para buscarmos pontos em comum para o bem da cidade. Caso confirme a possibilidade de disputar as eleições, terei como objetivo organizar a sociedade, dar oportunidades aos que necessitam, estimular a educação e o esporte, integrando os dois. Capacitar e valorizar o funcionalismo público. Acho que precisamos focar no ensino profissionalizante, para atender às indústrias que virão. O poder público também tem que dar apoio às famílias, ajudar a estruturar... A família é a base, é o começo de tudo. Temos que ter esse compromisso de ajudar as famílias desta cidade. A prevenção do uso de drogas e o tratamento dos dependes químicos é de suma importância, principalmente para mim, que fui presidente do Horto de Deus, ao lado do eterno companheiro Léo Oliveira. Teremos que rever todos os aspectos dessa sociedade, devemos estimular os cidadãos a andar de cabeça erguida. Chega de ficarmos nesse “sim, senhor”, “não, senhor”! Acreditando numa grande mudança, agradeço a oportunidade desta entrevista. Abraços.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Gilberto Paulino – “Chicletão”

  Conversamos com Gilberto Paulino, o Chicletão. Funcionário Público municipal, um dos mais importantes militantes do MOVIMENTO NEGRO DE TAQUARITINGA, à frente da tradicional Associação João Malaia Maria, pioneira na valorização da cultura Afro-brasileira e no combate à discriminação racial no município. Inteligente, bem informado, obstinado. Sua principal característica, contudo, é a alegria – está sempre com um sorriso no rosto. Organizador da Semana da Consciência Negra, defende ser possível construir uma sociedade justa, na qual a cor da pele não seja motivo de desigualdade social. Falou de forma clara, direta – incisivo como se deve ser!


Tendência Municipal: O negro sofre discriminação na comunidade taquaritinguense?

Gilberto Paulino (Chicletão): A historiografia brasileira deixa bem claro que não existe exceção: a ideologia da “raça superior e inferior” perdurou por três séculos e meio – em Taquaritinga não é diferente. Hoje, o preconceito, a discriminação, o racismo, é peculiar!

TM: Como está a Associação João Malaia Maria?

Gilberto: A Associação Recreativa Cultural “João Malaia Maria” continua firme, atuante, prestando relevantes serviços em nossa cidade no combate à exclusão social e à discriminação racial há mais de dez anos!

TM: Qual sua opinião sobre o sistema de cotas raciais para as universidades públicas?

Gilberto: O sistema de cotas raciais para as universidades públicas é um projeto de combate à deformação da estrutura social da atualidade, com o objetivo de possibilitar maior inclusão de afro-descendentes ao ensino superior. Não se trata de uma reparação aos “requintes de crueldade” perpetrados contra os negros há séculos.

TM: Uma frase atribuída a Albert Einstein diz que “é mais fácil quebrar o átomo do que o preconceito”. Concorda com isso?

Gilberto: Infelizmente, o preconceito parece ser inerente aos seres humanos...

TM: O tema preconceito entrou, definitivamente, em pauta: no Brasil, há as cotas, o Dia da Consciência Negra, o ministério da Igualdade Racial,; no cenário internacional, a ascensão de Barack Obama. É possível dizer que estamos avançando?

Gilberto: Uma sociedade não muda pela ciência nem pela política. Cotas, Dia da Consciência Negra, o simbolismo do Obama, são importantes. Mas uma sociedade só muda pela cultura do povo que converge dos mesmos princípios e valores sociais.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Rogério Marin

EDIÇÃO COMEMORATIVA – n.º 40
Nossos agradecimentos aos entrevistados e nossas homenagens aos leitores-internautas! São 40 motivos para comemorar!

  Nesta EDIÇÃO ESPECIAL, conversamos com Rogério Marin. Taquaritinguense, filho do casal Carmem Raposo Marin e Antonio Alberto Marin, irmão da Vanessa Marin Casari, tio do Heitor. Veterinário formado pela Universidade de Marília, é um ativo defensor dos direitos dos animais – a cumplicidade com esses seres é um dom herdado da avó paterna, a saudoda Dona Nilce, falecida esposa do Alberto Marin. Rogério destaca-se também em outra área: é um cinéfilo de primeira, um estudioso da Sétima Arte. Leitor incansável de livros sobre o tema e também de biografias – princialmente de astros e estrelas do cinema –, se mantém atualizado indo, toda semana, a alguma cidade da região para assisitr aos mais diversos filmes.
Foi poprietário de uma locadora, com um acervo dos clássicos, filmes de arte, além dos blockbusters. Mantém uma coluna de sucesso no semanário Nosso Jornal, na qual se revela um crítico de alta qualidade. Com um texto limpo e bem escrito, traz informações das obras, descreve, com clareza, diretores e atores, e resume a parte técnica de modo que todos (e não só os aficionados) possam entender. Falamos, claro, de cinema! E também de animais, literatura – e do futuro da arte de Taquaritinga.


Tendência Municipal: Como você analisa a situação dos animais em Taquaritinga? Há problemas com zoonoses, animais de rua, ou está sob controle?

Rogério Marin: Penso que, como toda cidade, Taquaritinga sofre com problemas de cães abandonados, falta de espaço e pessoas dispostas para abrigá-los, falta de dinheiro... Mas vejo também um grupo especial de pessoas, sem vínculos políticos, que vem realizando um trabalho espetacular. Esse grupo é formado pela boa vontade e compaixão de gente como Juliana Pagliuso, Parê Acorsi, Márcia Pagliuso, Ana Benatti – que estão aí recolhendo esses animais, juntando dinheiro para castrá-los, fazendo campanhas para arrecadar fundos, indo atrás com seus recursos próprios. Vou dizer mais: esse trabalho, no longo prazo, será exemplo para outras cidades!

TM: Diz o poeta que “quanto mais conheço o ser humano, mais eu gosto do meu cachorro”...

Rogério: (Hummm...). Não sei responder a essa questão, concordo em termos! Vejo o ser humano sendo capaz de muita maldade, crueldade contra animais e, principalmente, contra o outro ser humano. Mas vou usar aqui uma frase do “Diário de Anne Frank”: “Ainda creio que, no fundo, os seres humanos têm bom coração.” Precisamos acreditar nisso, que o ser humano é capaz de se reposicionar, de rever suas posturas. Outro dia, uma amiga, muito esotérica e sensível, fez um comentário, bem interessante, sobre essa onda de torturas e maldades contra animais que acompanhamos nos noticiários. Ela falou assim: “Rogério, neste ano de 2012 vamos ver muitas tragédias, crueldade contra animais. Mas será assim que o ser humano vai reencontrar o amor ao próximo, despertar a compaixão, a generosidade...”. Achei demais. Basta ver a repercussão que esses casos de violência contra animais geram no País.

TM: Suas críticas de cinema conseguem um feito notável, que é tratar os mais diferentes filmes respeitando suas características, sem “comparar” as produções brasileiras e européias com as de Hollywood. É isso mesmo?

Rogério: Na verdade, não tenho formação nenhuma em cinema ou jornalismo – apenas gosto da leitura e do cinema. Por isso, não posso fazer comentários técnicos. Escrevo como esses filmes me tocaram, a emoção que despertaram em mim, a beleza da história. Acho que só palpito (risos). Pra mim é interessante a linguagem do cinema europeu, latino, nacional, e do americano, tento me envolver com a produção, com o enredo, sem comparação. Todos têm seu mérito e merecem aplauso. Ultimamente tenho contado mais histórias de vidas e biografias, feito menos comentários de filmes.

TM: Existe um cinema genuinamente nacional?

Rogério: No meu ponto de vista, penso que sim, existe um cinema genuinamente nacional – que começou com Mazzaropi, que afirmava que o segredo do seu sucesso era falar a língua do povo. Depois, tivemos Glauber Rocha e o Cinema Novo e suas representações sobre o cangaço, o coronelismo, o populismo, em que uma nova identidade brasileira era trazida ao povo pelas mãos de uma elite cultural e intelectualizada. Modernamente, tivemos Fernando Meirelles, com “Cidade de Deus”; Andrucha Waddington, com “Eu, Tu, Eles”, estrelado por Regina Casé; enfim, um cinema genuinamente brasileiro está sendo feito...

TM: Como você vê a relação da Literatura com a 7.a Arte?

Rogério: Como o cinema mundial é uma indústria fortíssima, são feitos roteiros de tudo e sobre tudo; se não servem para cinema, são transformados em filme para TV, séries. Enfim, os roteiristas – principalmente norte-americanos – e os estúdios estão atrás de tudo o que possa render uma boa história. Os direitos autorais de grandes obras são disputadíssimos por diretores e produtores. Acho ótimo ver a transformação das letras de um livro em imagens na telona. É uma parceria necessária e que muitas vezes garante o retorno de público, se a obra for um sucesso. Em alguns casos, a obra é tão criticada como a adaptação, como “Comer, Rezar e Amar”, ou não se sai tão bem, como “O Menino do Pijama Listrado”, mas é importante essa parceria. A notícia mais nova é que a ex-senadora [e ex-candidata a presidente da Colômbia] Ingrid Betancourt – refém por seis anos nas selvas colombianas pelas Farc e autora do livro “Não Há Silêncio que Não Termine” – será vivida no cinema pela “bond girl” italiana Catarina Murino. Olha aí um livro de uma latino-americana em Hollywood!

TM: Taquaritinga produziu grandes nomes, na pintura (Maguetas, Alexandre Fausto), escultura (Ricardo De Lucca), letras (José Paulo Paes, Ivete Tannus), artes cênicas (Genésio de Barros, Gabriel Miziara), música (Ana Salvagni, Ed Gagliardi) etc. – e também no cinema, como Jeremias Moreira (diretor de O Menino da Porteira) e Jair Peres (montador de O Cheiro do Ralo). Qual o futuro da arte taquaritinguense?

Rogério: São todos muito talentosos e queridos. Acho que se o governo municipal investisse mais em oficinas culturais, trouxesse eventos, despertasse o interesse pela cultura em geral – literatura, cinema, teatro, dança, música, pinturas –, teríamos mais nomes se destacando. Sabe que você deu uma grande sugestão para uma coluna do Nosso Jornal? Fazer um trabalho sobre a obra desses taquaritinguenses, no estilo do que foi feito com o cineasta Clery Cunha – que foi um sucesso, elogiado pela produção do filme “Tiradentes City”. Há uns dois anos recebi no meu consultório o Genésio de Barros – pouco antes de começar a gravar a novela “A Favorita” – de uma simplicidade e simpatia extremas. Daria uma matéria imperdível. Vou conversar isso com a Lívia Nunes: escrever sobre cada um desses talentos por semana!