terça-feira, 13 de março de 2012

Luiz Eduardo Curti

  O entrevistado de hoje é Luiz Eduardo Almeida Curti. Advogado, formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco da USP, considerado um ícone da esquerda taquaritinguense. Foi PRESIDENTE DO CENTRO ACADÊMICO 11 DE AGOSTO em 1970 (no auge da repressão da ditadura militar), membro-fundador da Comissão de Direitos Humanos da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB/SP) e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Amigo pessoal de personalidades como o ex-presidente Lula e os ex-ministros Márcio Thomaz Bastos e José Dirceu, voltou à Taquaritinga nos anos 1990, se engajou no diretório municipal do PT, tendo ocupado a secretaria de Formação Política e concorrido a vereador em 2008.
Ao lado do irmão Ico Curti, é uma das principais lideranças do partido na cidade. Uma entrevista simplesmente imperdível!


Tendência Municipal: Como foi sua militância no movimento estudantil na época da ditadura militar?

Luiz Eduardo Curti: Minha militância começou na Associação dos Acadêmicos de Taquaritinga (AAT), por volta de 1965, antes de ir estudar na Capital. Para os engajados no Movimento Estudantil, a militância era um “sacerdócio”. Tínhamos a convicção de que a justiça social só viria com a derrubada da ditadura. Com esse objetivo, militávamos em regime de dedicação exclusiva: editávamos revistas e jornais; distribuíamos panfletos; organizávamos passeatas e congressos; treinávamos defesa pessoal; respaldávamos organizações sociais e sindicatos; denunciávamos, aqui e no exterior, a violência e os crimes da ditadura; fazíamos “finanças” para sustentar a resistência. Enfim, uma atividade estafante, que implicava em riscos e renúncias, mas que nos ensinou que sem disciplina e organização não atingiríamos nosso “modestíssimo” sonho de mudar o mundo.

TM: Nos fale de sua atuação na Seccional da OAB/SP.

Curti: Meu primeiro contato com a OAB foi ao me formar. Aprovado no Exame de Ordem, fui fazer minha inscrição e soube que, entre os documentos exigidos, constava “certidão negativa da Justiça Militar”, que eu não conseguia obter por ter ali dois processos: editar jornal “descendo o cacete” no regime militar (considerado publicação subversiva) e por participar do Congresso da UNE [União Nacional dos Estudantes], em Ibiúna, cuja realização, por estar “proibida”, resultou na prisão de cerca de mil estudantes. Fiquei revoltado com a exigência e fui falar com o Presidente da OAB. Argumentei que a Ordem não podia fazer tal exigência, pois significava “reconhecer” o regime de exceção, “legitimar” o arbítrio, aceitar que quem se opunha ao golpe militar era “subversivo” (um subversor da ordem instituída pela força das armas!). E, como tal, poderia ser processado, preso ou banido – ou mesmo morto! O Presidente me ouviu e disse-me, paternalmente: “Meu filho, nada posso fazer, vivemos uma ditadura, é preciso ter cautela”. Saí dali – de meu órgão de classe, que deveria assegurar minhas prerrogativas – decepcionado, e decidi ajudar a criar uma oposição àqueles dirigentes. Queria ter um presidente que não se curvasse à ditadura e sim que a combatesse! Felizmente, logo depois, a OAB mudou e teve participação ativa na redemocratização do País, encerrando memoráveis campanhas institucionais, como as “Diretas Já”. Na OAB/SP, fui “serviços gerais”: instrutor de processos disciplinares, membro das bancas do Exame de Ordem, da Comissão de Seleção e de Ética e também Conselheiro Estadual. Representei a OAB no Movimento em Defesa do Menor, no Conselho da Escola de Sociologia e Política, no Sindicato da USP. Fui, ainda, membro-fundador da Comissão de Direitos Humanos, na gestão do Márcio Thomaz Bastos, juntamente com o Celso Petroni, Paulo Sérgio Pinheiro (hoje funcionário da ONU) e Antônio Carlos Malheiros (hoje desembargador do Tribunal de Justiça). A ditadura detestava a simples menção aos Direitos Humanos, reconhecidos mundialmente, porque os desrespeitava cotidianamente.

TM: Como foi conviver com personalidades como o ex-presidente Lula, às vésperas da fundação do PT?

Curti: A resistência à ditadura agrupou quase todos os setores da sociedade. O contato entre estudantes, operários, artistas, intelectuais, clero, etc. era permanente. Era comum que nós, estudantes, estivéssemos em reuniões, manifestações públicas, debates, ou mesmo na mesa de um bar, com Lula, Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque, Elis Regina, Geraldo Vandré, José Dirceu, Frei Betto e tantos outros que, mais tarde, teriam grande expressão nacional. Logo depois, na formação do PT – e em função dela – houve uma aproximação maior com aqueles que “oPTaram”! Foi gratificante o contato com lideranças que contribuíram, decisivamente, para o fim da ditadura e que, democraticamente, assumiram o governo e ousaram mudar o País.

TM: Que análise faz do governo Dilma?

Curti: Na campanha eleitoral, alguns setores da oposição, principalmente o PSDB, insinuaram (burramente, diga-se) que Dilma, se eleita, seria “subserviente” a Lula, afirmação que não levava em conta o alto nível de aprovação do então presidente nem a postura independente e a marcante personalidade da atual presidenta. Isso só ajudou o PT. Eleita, Dilma tomou as rédeas do processo político e tem colocado em prática as propostas do PT, implementando projetos de inclusão social (acesso à educação, saúde, água, energia elétrica, emprego, moradia etc.). Os brasileiros ficaram mais próximos da cidadania e a popularidade de Dilma chegou a superar a de Lula. Durma-se com um barulho desses! Mas ainda há muito por fazer.

TM: Como está o PT de Taquaritinga?

Curti: Em fase de oxigenação! Estamos formando novas lideranças, colocando-as em contato com expoentes nacionais e estaduais do partido, estreitando as relações com entidades e partidos aliados. Enfim, estamos resgatando a militância para que o diretório tenha participação ativa na política, não apenas nos períodos de eleições.

TM: Qual sua avaliação da atual administração municipal?

Curti: Uma decepção, principalmente para os que votaram no Paulinho [Delgado]. É o que se ouve por aí... E olha que havia uma grande expectativa, um otimismo em relação à sua gestão. Infelizmente, caiu na “vala comum” da política morna e eleitoreira, do apadrinhamento. Falta ousar, falta um projeto consistente, falta, sobretudo, vontade política para mudar as coisas!

TM: Que caminho o PT taquaritinguense deve tomar nas eleições 2012? Terá candidato a prefeito? Deve fazer coligações?

Curti: O PT de Taquaritinga deve tomar o caminho que está tomando: fortalecer-se. Formar novas lideranças, sobretudo jovens, elaborar um plano de governo calcado em nossas diretrizes, adequado às necessidades locais. A premissa para implantar nossas políticas é vencer as eleições, com candidato próprio, com chance de vencer, o que já temos com o Fúlvio Zuppani. As alianças com outros partidos são desejáveis – e podem ser necessárias. Mas não podem ter por escopo apenas aumentar as chances eleitorais, tampouco podem se restringir a “dividir o bolo” da administração. As eventuais coligações devem ser calcadas em princípios e propostas. Não basta vencer as eleições, é preciso reunir condições para por em prática um governo compatível com nossas necessidades e objetivos. E esse desafio, a cada dia, ganha rumo e corpo!

3 comentários:

  1. Mas como eu tenho orgulho deste homem. Pessoa de idéias sólidas e ideais firmes. Alguém que lutou pelo que temos hoje e alguém que continua lutando pra que possamos ter uma Brasil e um mundo ainda melhor. Como é bom pertencer à essa família, cheia de exemplos.

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  2. É um prazer imenso e uma honra conhecer e ser amiga desse homem. Obrigada, Dr. Curti por contribuir com a volta da democracia!

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