sexta-feira, 4 de maio de 2012

Kau Andrighetto

Entrevistamos Marco Antônio Salles Andrighetto, o Kau. Nasceu em Taquaritinga em 1970, filho do Marco Andrighetto e da Betí; irmão da Daniela e do Thiago; tio do Marcelinho e da Lívia; casado com a Marlene. Técnico em Contabilidade, formado pelo Colégio Dr. Aimone Salerno, exerce a profissão à frente da Organização Cônsul, um dos mais tradicionais escritórios de Contabilidade da cidade. Nos anos 1990, morou em São Paulo, Marília e São Carlos, onde cursou Computação na Universidade Federal – UFSCar. A música sempre fez parte de sua vida; a mãe, exímia pianista, foi grande incentivadora. Aprendeu tocar violão ainda menino e se apaixonou pela guitarra. Nos anos 1980, empunhou o instrumento em shows, bailes e festivais com o grupo de rock Decreto Lei, que se apresentou em várias cidades, inclusive São Paulo, e participou do CD “Rock Paulista”, produzido por Duda Neves. Deixou o conjunto e seguiu estudando, teve aulas com os mestres guitarristas Índio e Fernando Izé e, com a experiência adquirida, passou a compor (letra e música), sempre empenhado em apurar sua técnica. Mantém um pequeno estúdio em casa e, com recursos próprios, lançou seu CD, “Corectasia”, no qual se revela um artista talentoso. Uma conversa amigável sobre Contabilidade, música, matemática, rock’n roll, Decreto Lei – e sua obra “Corectasia”.

Tendência Municipal: O crescimento econômico faz com que a situação fiscal das empresas – desde a pequena firma individual até a grande indústria – seja cada vez mais importante, o que aumenta a responsabilidade do setor contábil. É isso mesmo?

Kau Andrighetto: É isso mesmo. O contador tem enorme responsabilidade no desenvolvimento econômico. Através da ética, seriedade, conhecimento e baseado na NBC (Normas Brasileira de Contabilidade) o profissional é capaz de identificar os problemas e oportunidades que encontram as empresas. Para o governo, então, é de suma importância, já que participa diretamente da arrecadação de tributos para a Federação, para os Estados e para os Municípios. O desenvolvimento social depende muito da atuação da nossa categoria. Quanto mais a economia avança, mais se exige do contador, daí a necessidade de estar sempre atento as mudanças fiscais, as leis, as necessidades dos empresários e sempre continuar o aprendizado através de cursos de atualização. Todos os setores produtivos: indústria, comércio, agricultura, prestação de serviços e até a administração pública são afetados pela atuação dos contabilistas. Pode-se se dizer que o desenvolvimento do país depende muito do nosso carimbo e assinatura.

TM: O que levou ao mundo da música?

Kau: O certo, analisando hoje, é o que “não” me levaria entrar no mundo da música, sendo tão estimulado como fui em casa. Eu e os meus irmãos sempre vivemos num ambiente musical. Minha mãe é pianista formada pelo conservatório Santa Cecília aqui de Taquaritinga, e pelos relatos de seus colegas e professores da época era prodígio, uma musicista nata. Crescemos dividindo seus cuidados maternais com as aulas ministradas por ela em nossa casa. Acho que nem é DNA, mas estímulo mesmo. Horas e horas de música clássica e escalas na fase mais cognitiva da infância. Acabou viciando essa pobre criança. (risos). A pena é que não aprendi o piano... Mas ela me ensinou a afinar o violão e me passou os primeiros acordes. Aos 8 anos tive aula com o meu querido Dedé Arlindo, que me ensinou várias músicas que lembro até hoje. Parei com as aulas porque era indisciplinado, aquela coisa do moleque que quer rua e bola, mas sempre tirava músicas e tocava nos encontros da família. Quando os amigos de escola começaram a tocar e formar um conjunto, me animei a aprofundar o conhecimento: era a Banda FraTNT, que depois virou o Decreto Lei.

TM: Na UFSCar, você cursou a área das ciências exatas – e os números estão presentes em seu trabalho cotidiano. Em relação à música, qual a importância da matemática?

Kau: Tem relação profunda. Música é basicamente matemática, física e sentimento. Quando estive em São Carlos, tive aula com um grande professor, o Fernando Izé, que me ensinou a matemática da música. Seu pai era professor e me deu aula de Geometria Analítica na Federal. As aulas do Fernando eram interpretações de equações e fórmulas matemáticas. Certo dia, as escalas, os campos harmônicos, as modulações , o material maravilhoso que ele me passou, fizeram sentido revelador, como uma “cartase”. Daí, construí minha visão matemática da música.

TM: Qual sua análise sobre a evolução do rock nacional, dos anos 1980 até os dias atuais?

Kau: Comecei ouvindo Raul Seixas, é claro. Depois os mais velhos nos apresentaram Mutantes, Casa das Máquinas, Made in Brazil... Os anos 1980 chegaram avassalador. Passei a transição criança-adolescente-adulto nos anos 80. O Rock tupiniquim mudou a minha vida , a minha geração e o Brasil. Depois disso, nós rockeiros radicais achávamos todo o resto uma porcaria (risos). Realmente, apareceu muita porcaria, mas tem muita gente boa nos anos 90, que também bebeu da água “oitentista”, como Chico Science, Rappa, Lenine, Zeca Baleiro entre outros. A nova geração do rock vem com um hardcore com letras românticas e tem feito muito sucesso com a molecada. Tem gente que “mete o pau”, mas eu prefiro que as porcarias que tocam irritantemente nas rádios.

TM: Como foi sua passagem pelo Decreto Lei?

Kau: O Decreto Lei foi um sonho de amigos de infância que estudaram junto desde o primário e durante a faculdade se desdobravam para ensaiar todo fim de semana, religiosamente. Fui co-fundador da base da banda. Saí, voltei, si de novo.. Foi uma mistura de sentimentos, alegrias e decepções. Sinto saudades enormes. Foram tempos de aprendizagem e minha perda da inocência., a diferença entre sonho e realidade. Ainda hoje, depois de 15 anos do fim da banda, sou lembrado como membro da banda, reconhecido num saudosismo impressionante. Foi a primeira banda de rock da cidade, numa época de pouco acesso a material de pesquisa. É incontável as vezes que ouço que o DL influenciou a vontade aprender um instrumento, montar uma banda e ouvir Rock and Roll. Sempre serei um integrante do Decreto. Ainda hoje me pedem para nos unirmos e fazermos um som. Tocamos em todo estado, gravamos o CD Rock Paulista com produção do Duda Neves, gravamos um CD independente em Campinas-SP, abrimos vários shows, ganhamos vários festivais de música. Quando acabou a banda, eu, o meu irmão Thiago, o Liminha e o Fernando Ponzio (Manaia) montamos o “Trevo da Eva”, que tinha o objetivo de fazer músicas próprias e versões novas de clássicos do rock/reagge/blues, sem o arquétipo de “cover”. Acreditava nisso no DL, no Trevo e ainda acredito. O Trevo da Eva não foi duradouro, mas é uma banda muito lembrada e influenciou muita gente. Foi de 1999 até 2003. Abrimos muitos shows de bandas ditas grandes e gravamos um CD com duas canções minhas, uma (Tempo Bom), com novo arranjo, está no CD Corectasia e outra (Partido), provavelmente estará no próximo CD.

TM: Fale-nos do seu CD Corectasia.

Kau: O CD Corectasia é um filho. Daqueles que tem defeitos, erros, coisas engraçadas, surpresas inusitadas, acertos. Surgiu de todo aprendizado que tive na música, desse caminho percorrido. É um resumo das composições de todo esse tempo, das minhas experiências. Como ninguém aposta em músicas próprias (melhor é tocar músicas consagradas) e não encontrei ninguém que topasse fazer música, me fechei no home Studio que montei na minha casa e a duras penas terminei o CD. Compus todas as canções. Letra e música. Fiz os arranjos, executei todos os instrumentos, cantei. Gravei, mixei, fiz o layout final. Meu irmão tocou contra-baixo em duas faixas e a Lavínia Louzada Bassoli, filha de meu grande amigo Luisinho Bassoli, cantou uma música infantil. Fui atrás de patrocínio, enchi o saco de amigos pacientes e talentosos para me ajudarem na arte do disco. A regra foi que não existem regras. Das quase 50 músicas que tenho compostas, selecionei 16. Me afastei do meu trabalho para concluir a obra. Saiu e fiquei contente com o resultado. Tenho ainda a esperança de encontrar músicos que topem e encarem o desafio de criar, de dar outra visão a essas músicas que estão no CD Corectasia. Ali está minha visão, minha leitura. Sem dúvida, uma banda daria uma roupagem mais democrática aos arranjos, opiniões novas e bem vindas. Tenho quase um Cd novo pronto, faltam poucos detalhes. Quero parceiros, novas idéias, conhece outros compositores, sempre estou a disposição, mas me sinto sozinho. Compartilhar o tal sentimento matemático da música. Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade. Nunca se vence uma guerra lutando sozinho, já dizia o mestre Raulzito.

6 comentários:

  1. Essa é a alma do verdadeiro compositor e músico. Transparência e talento absoluto.

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  2. Kau, grande profissional, grande amigo, grande pessoa

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  3. Meus amigos, conheço essa fera desde criança e seguramente o definiria como "um virtuso guitarrista" e com aguçada musicalidade, agora lendo a entrevista entendo o por quê. Hoje temos aqueles caras atrás dos pickups que dizem "toquei na festa tal...", com todo respeito, tocar não é reproduzir e sim produzir musica. E um viva aos músicos!

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  4. Kau, parabéns peça entrevista. E por ser esse cara especial que você é!!
    Abração
    Matinho
    (ps - "disgraçadu"....rs....)

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  5. Meu filho querido... que entrevista MARAVILHOSA!!! Você respondeu com inteligência e sabedoria....Fiquei feliz por ter influenciado em sua musicalidade!!! Mas acho tb que foi pura VOCAÇÃO...pq vc nasceu com a música ,sua sensibilidade mostra isso.Peço a DEUS que seus sonhos se concretizem .Tudo tem a hora certa e qd chegar a SUA HORA ,que seja muito e muito feliz!!!Que bom que o Thiago teve participaçãoem seu CD. Que NOSSA SENHORA te abençoe e leve á seu FILHO JESUS seus desejos!!! PARABÉNS !!!!Estou orgulhosa de vc.Te amo muito.

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  6. Acompanhei a criação do CD "Corectasia", sei o quanto você se dedicou neste projeto, muitas noites em claro... e o resultado foi esa obra maravilhosa.
    Difícil dizer qual música é melhor, cada uma tem sua particularidade.."Cabo de gente", "Less a less", "Tempo bom", mas a minha preferida é "Querida escola", lemra bem a infancia.rsrsrs
    Espero um dia ganhar uma música...rsrsrsrs
    Parabéns...
    Que Deus te ilumine.
    Te Amo muuuito!!!

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