segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Entrevista: Marcão Professor

  Falamos com Marco Antônio dos Santos, o Professor Marcão. Casado com a Denila Basso, pai da Luíza, nasceu em Jaboticabal, cresceu em Guariba e é taquaritinguense por opção e por direito (ostenta, com orgulho, o Título de Cidadão que lhe foi conferido pelo então vereador Alexandre Nunes). Especialista em América Latina pela UNESP, é um HISTORIADOR apaixonado: usa sua prodigiosa memória para gravar datas, nomes, fatos, e analisá-los seguindo a linha do tempo. Seus alunos agradecem! Lecionou História em Taquaritinga, Ribeirão, Orlândia, Jaboticabal, Matão; convidado pelo principal Cursinho de São Paulo, esteve entre os grandes professores do País. Decidiu voltar, descontente com o estressante cotidiano da Metrópole.
Sua história de sucesso não difere muito da História que tão bem ensina. Marcão, muito cedo, decidiu ser protagonista de sua vida, escreveu, de próprio punho, a própria biografia! Foi à luta, estudou, venceu pessoal e profissionalmente. Filiado ao PT, era o “apresentador” dos comícios do partido na região nos anos 1980, quando conheceu o então candidato Lula. Diretor-Proprietário do Colégio Anglo de Matão, Jaboticabal e Taquaritinga, não se afastou da sala de aula, para sorte de seus aprendizes: está no auge da sabedoria e da didática. Do garoto hippie ao empresário bem sucedido, uma história de vida construída no convívio com a História!


Tendência Municipal: Desde que “decretaram” o “fim da História”, a China passou a ameaçar os EUA como maior potência mundial; surgiram os BRICS; a Europa entrou em crise; o Oriente Médio se vê em plena revolução... Como você imagina o mundo daqui a 10 anos? A História não tem fim?

Professor Marco Antônio dos Santos: Acredito que a unipolaridade surgida com o fim da Guerra Fria chegou ao fim, pois outras potências emergentes, como China e Brasil, dividirão, entre si, a liderança e as responsabilidades econômicas e sociais de um mundo completamente diferente do existente hoje. Quanto à História... O homem é quem a faz, portanto, enquanto estivermos aqui...

TM: A política externa brasileira sempre se pautou por certa independência. Nos anos Lula houve uma aproximação com países periféricos, o que gerou críticas dos conservadores e elogios dos progressistas. Como você analisa a diplomacia do governo Lula? Há uma inflexão na política externa no governo Dilma a reaproximar o Brasil dos países centrais?

Marcão Professor: Com a chegada do Lula à presidência em 2002, a turma dos “barbudinhos” (capitaneada pelo Celso Amorim) assumiu o Itamaraty, exigindo do mundo maior respeito pelo Brasil. Acredito ser essa política irreversível; entretanto, com ela aumentam também nossas responsabilidades e, ainda, temos que aprender a aceitá-las e enfrentá-las.

TM: A eleição de Humala Olanta à presidência do Peru derrubou um dos pilares da “direita” no continente. Já no Chile, ocorreu o inverso: a “esquerdista” Michelle Bachellet foi sucedida pelo “conservador” Sebastian Piñeda. Afinal, para onde caminha a América Latina?

Marcão Professor: O passado populista e, mais tarde, esquerdista, da América Latina, sempre esteve vivo; talvez nos “porões” durante os anos 1970/80/90, devido às ditaduras. O caso do Chile é emblemático (mas, acredito, passageiro) por ter sido um dos pilares do socialismo latino-americano. Acredito que a postura de Lula tenha influenciado positivamente a esquerda no subcontinente, e é aqui que vejo para breve o surgimento de um modelo de governo que una economia de mercado ao atendimento das necessidades sociais pregadas pelo socialismo.

TM: O Brasil é o país do futuro?

Marcão Professor: O futuro é agora! Temos o privilégio de vivermos no momento em que o Brasil assume seu verdadeiro papel no mundo!

TM: Para finalizar: Marcão, qual a moral da História?

Marcão Professor: Povo que não conhece nem cultua sua História, não é um povo de verdade!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Entrevista: Manoel J. Pires

  Nosso entrevistado desta edição é Manoel José Pires Neto. Nasceu em Jurupema, é Advogado e escritor, autor de 22 livros. Residiu em São Paulo e no Rio de Janeiro, trabalhou como jornalista free lancer para diversos veículos de comunicação. Publica, nos jornais de nossa cidade, suas sofisticadas crônicas, a transitar sobre as nuances do cotidiano de Taquaritinga, São Paulo e Rio, entremeando relações amorosas com observações políticas e sociais. Manoel participou da Feira do Livro de Ribeirão Preto – e está sempre a criar. É, também, um leitor voraz, aficionado por Literatura, que, para ele, é a mais nobre das capacidades humanas. A seguir, os pensamentos deste profícuo escritor taquaritinguense.


Tendência Municipal: O escritor tem que ser, antes de tudo, um leitor?

Manoel J. Pires: Costumo dizer que ler e escrever são uma arte só. Quando uma pessoa se habitua à leitura ela se torna íntima da palavra, descobre a multiplicidade da palavra, os seus mistérios. Essa viagem do homem pelos caminhos da palavra é a experiência mais fascinante da vida. Só quem leu bastante tem consciência da força da palavra.

TM: Quais seus autores preferidos e como eles o influenciam?

Manoel: Dos autores brasileiros, gosto do romance regionalista. A formação cultural da minha geração foi “em cima” da literatura latino-americana. Para mim, o melhor escritor brasileiro é o Graciliano Ramos. Das “meninas”, é a Clarice Lispector. O melhor do mundo é o Gabriel Garcia Marquez. Gosto muito, também, de poesia: Drummond, Bandeira, entre outras figuras monumentais.

TM: Tendo em vista os grandes escritores “nativos”, como José Paulo Paes, Ivete Tannus, Dado Mendonça, Horácio Ramalho etc., é possível dizer que existe uma “literatura taquaritinguense”?

Manoel: Existe – e da melhor qualidade! Deveríamos organizar uma antologia desses escritores aqui da “casa”. E ainda: uma antologia para cada geração, pois temos literatura em quantidade e qualidade. Nenhuma cidade da região tem essa produção cultural.

TM: Como é seu processo criativo e quais suas fontes de inspiração?

Manoel: Não costumo falar em “processo criativo”. Escritores escrevem da mesma maneira que respiram. A palavra nasce, a frase nasce, como dizia Clarice Lispector. Fonte de inspiração é o elemento humano em relação com a vida, sempre. Eu escolho meus temas a partir daquilo que passa despercebido das pessoas. Gestos, palavras, gritos presos nos “recônditos da alma”. Uma mulher bonita, quando me entra pelos poros, merece sempre uma crônica...

TM: Fale-nos de sua mais recente obra, “Adeus Amor”. E está elaborando algum novo livro?

Manoel: No livro “Adeus, Amor”, chamei a atenção para a falta de sentimentos. Não foi uma despedida. Incrível como este livro repercutiu, não esperava tanto! Quanto à próxima publicação, “Sedução”, é um depoimento, não é ficção. Inicio nos anos 1970 e faço um traçado até hoje. Quem leu os originais disse que é um livro “forte”, que pode gerar polêmica. Acho ótimo! A cidade está precisando levar um choque de cidadania.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entrevista: Malu Monteiro

  Conversamos com a RADIALISTA Maria Lúcia da Silva, a Malu Monteiro. Alagoana de Arapiraca, taquaritinguense de fato e de direito (recebeu o Título de Cidadã em 2007), formada em Comunicação Social com habitação em Jornalismo. Corintiana roxa, é dona da mais marcante voz feminina da radiodifusão de Taquaritinga, repórter e apresentadora da CANAL UM FM. Sua aparência física – baixinha, esbelta, pele branquinha, ruiva – não “combina” com o vozeirão poderoso, que remete, por exemplo, às típicas cantoras de soul do sul dos Estados Unidos, geralmente negras e corpulentas!
De uma beleza singular, fica ainda mais bela pela simpatia, elegância e, principalmente, por transbordar uma alegria contagiante. Acostumada a perguntar, excelente entrevistadora que é, se mostrou à vontade ao se ver “obrigada” a responder, como entrevistada do TENDÊNCIA MUNICIPAL. Foi num clima de cordialidade que transcorreu esse descontraído bate-papo.


Tendência Municipal: Como começou sua história no rádio?

Malu Monteiro: : A minha história no rádio começou com o Cacá Monteiro, meu esposo, falecido há oito anos. Eu conheci o Cacá quando já era formada em Comunicação Social, na minha cidade, Arapiraca. Ele, a exemplo de outras pessoas da faculdade, elogiou minha voz, a achou muito bonita, e perguntou por que eu não trabalhava em rádio. Acontece que eu sempre “detonava” o rádio, achava o meio de comunicação mais “inferior”: numa escala de 0 a 10, eu dava zero pro rádio! E a todas as pessoas que elogiavam minha voz e me sugeriam trabalhar com radiodifusão, eu dizia que valorizava mais jornal, assessoria, televisão... Eu menosprezava o rádio! O Cacá insistiu bastante e eu levei em consideração a experiência que ele tinha no ramo. Bom, eu sou virginiana... E virginiana é muita desconfiada, “pé-atrás”, para confiar demora um pouco... Depois disso, acabei admitindo que tinha muito a ver com o rádio!

TM: Qual o maior desafio que a mulher enfrenta no mercado de trabalho em geral e na área da telecomunicação em particular?

Malu: Em minha opinião, é a tripla jornada de trabalho. É cansativo demais, ainda mais se você não tem um companheiro que ajuda nas tarefas de casa. Já avançamos muito nesse processo, mas, ainda, a maior parte dos trabalhos de casa fica para nós, mulheres. E não é diferente na minha área, a comunicação: como em todas as profissões, a tripla jornada é o maior problema, sobretudo para as mulheres que têm filhos, o que não é o meu caso, pois sou muito “medrosa” para ser mãe... (risos)

TM: Seu trabalho na Canal Um FM é reconhecido como o mais importante já alcançado por uma mulher na história de Taquaritinga. Como descreve sua relação com os tele-ouvintes?

Malu: Eu gosto muito do “ser humano”, sou apaixonada pelo ser humano, somos muitos “ricos”, mesmo aquele assassino em série, o estuprador, aquela pessoa que está nas cadeias e penitenciárias da vida, um Ahmadinejad da vida (risos), é um “serzinho” único, cada um de nós é uma “riqueza”. Então, tenho uma relação muito boa não só com meus ouvintes como também com os entrevistados... Prezo muito meus ouvintes, os amo como seres humanos, assim como amo os que não são meus ouvintes!

TM: A imprensa é considerada o “quarto poder”, tamanha a capacidade de influenciar nos destinos da sociedade. Qual deve ser o papel dos meios de comunicação no desenvolvimento social?

Malu: A imprensa tem um papel fundamental! Quanto mais o ser humano tiver acesso à escola, aos meios de comunicação, às maneiras diferenciadas de aprender, de “enriquecer”, melhor! Eu, pelo menos, que sou jornalista, profissional da comunicação e membro do “quarto poder”, levo isso muito a sério. Quanto mais informação, quanto mais conhecimento se levar à sociedade e ao público de um modo geral, mais válido é o meu trabalho e mais abençoado pelo Deus que eu tanto acredito!

TM: O profissional da imprensa, por estar em contato com a população, pode adquirir considerável potencial político – e muitos tiveram sucesso na vida pública. Você tem planos de, algum dia, se candidatar a algum cargo eletivo?

Malu: Olha, desde que eu e o Cacá, meu esposo, viemos trabalhar em Taquaritinga, primeiro na Rádio Mensagem FM, tínhamos uma audiência de quase 100% no Jornal da Mensagem, com Jair Motuca, Clóvis Hipólito. E continuamos com muito sucesso na Canal Um. É verdade que nosso trabalho é um trabalho público, que dá projeção ao profissional. Meu marido, desde aquela época, me dizia que eu teria grande chance de me eleger em Taquaritinga, o que muitos concordavam, falavam que eu tinha um grande potencial, que tinha (e tenho) muita aproximação com as mulheres, enfim. Eu reconheço que posso ter esse potencial, pelo que vejo e escuto. Bom, respondendo, objetivamente, à pergunta se tenho planos de me candidatar a um cargo público: Não! Mas agradeço imensamente a confiança que o público deposita no meu trabalho, na minha forma de ser, só que nunca pensei em ser vereadora, prefeita ou vice-prefeita de nenhuma cidade. São cargos de muita responsabilidade, que admiro muito, mas nunca pensei não! Obrigada pela entrevista!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Entrevista: Alexandre Nunes

  A entrevista do TENDÊNCIA MUNICIPAL é com o advogado Alexandre Marin Nunes da Silva. Casado com a Maiara Prandi, filho do Dr. Flávio e da Dona Diva, pai do Samuel, neto dos saudosos Adail Nunes da Silva, o Negão, considerado o maior político da história de Taquaritinga, e do Maestro Marin. Foi VEREADOR por dois mandatos e mantém ativa participação no PMDB – é amigo pessoal do deputado estadual Baleia Rossi e sobrinho do ex-prefeito Tato Nunes, presidente do diretório local. Crítico do prefeito Paulo Delgado, com quem travou uma tensa relação ao liderar a oposição na Câmara Municipal, Alexandre terá importante papel nas eleições de 2012.


Tendência Municipal: Faça-nos uma análise de seus dois mandatos de vereador. Quais as conquistas e as decepções?

Alexandre Nunes: Analiso meus dois mandatos como entrega absoluta ao meu cargo. Passei quase uma década na Câmara Municipal e, sem falsa modéstia, fui um parlamentar bastante ativo. Fiz parte da situação e também da oposição. Orgulho-me de afirmar que nunca ocupei nenhum dos dois lados de maneira sistemática. Milton Nadir pode confirmar o quanto de trabalho dei a ele! Quanto a Paulo Delgado, nunca menti, nunca me omiti, e sempre fiz minhas denúncias e manifestações municiado de provas e fatos. Minha consciência é absolutamente tranquila. Em relação às conquistas, caso dependesse, na maioria dos casos, apenas do Legislativo, teria alcançado um número voluptuosamente maior de sucessos. O grande problema é a dependência brutal em relação ao Poder Executivo. Para os leitores terem uma idéia, a Câmara não pode versar (fazer projetos de qualquer natureza) sobre verbas públicas. Agora, para não ficar apenas nos lamentos, tenho muito orgulho de realizações que foram pontuais na minha passagem. Posso citar, em primeiro lugar, minha eleição com apenas 29 anos, um “juvenil” em termos de Taquaritinga. Acredito que, depois do meu ingresso, vários outros jovens se motivaram a tentar a vida pública. Entre centenas de requerimentos, indicações e projetos, destaco a Câmara Itinerante, que vem revolucionando as sessões parlamentares no município desde sua aprovação (e que deveria se espalhar pelo País, em minha opinião), levando os vereadores diretamente ao meio do povão. Outra “menina dos meus olhos” é a creche Emília Menon Nunes da Silva, no Lopes Moreno. Foram dois anos de luta ferrenha com a CDHU para poder transformar um centro comunitário, utilizado como banheiro e ponto de drogados, em um espaço para 70 crianças. Quando se consumam realizações desse nível, não dá para descrever a sensação. Quanto às decepções, não dá para enumerar. Traições, conchavos, compra e venda de votos, companheiros pulando de palanque como ratos pulam de navio afundando, as respostas negativas constantes e sem fundamentos dos outros dois poderes perante o Legislativo, etc. A maior de todas, porém, é se entregar de corpo e alma a uma cidade e pagar caro por isso. Taquaritinga, ao menos nas últimas eleições, penalizou quem falou a verdade. Mas tenho certeza de que o tempo será minha principal testemunha. Aliás, já está sendo!

TM: Desde 2008, a oposição ficou restrita a apenas um dos dez vereadores. Essa composição ajudou ou prejudicou o município?

Alexandre: Prejudica sempre, em todos os sentidos e em todos os níveis de governo! Sem voz de contestação que chegue aos ouvidos dos que estão com a caneta, como é que o povo pode se manifestar? No meu modo de pensar, uma cidade, um Estado ou um país que têm governos absolutos, sem opiniões contrárias, vive na obscuridade. Beira à ditadura. O caso da atual Câmara de Taquaritinga é emblemático. O prefeito não fez do Legislativo apenas o quintal da prefeitura, tomou-o por inteiro! Tanto que pegou o prédio do Parlamento para abrigar seu gabinete e o resto da prefeitura. Não existe governo sem oposição. É maléfico até para quem governa.

TM: Como vereador, você se mostrou crítico do prefeito Delgado e do então presidente Lula. Diante do novo contexto, com seu partido sendo o maior aliado da presidenta Dilma, qual sua opinião sobre a aliança nacional PMDB/PT?

Alexandre: Minhas opiniões sobre Lula e Delgado continuam as mesmas. São governos muitíssimo parecidos, baseados em invencionices e falácias. Divulgam o que não fizeram, tomam para si o que outros executaram e batem diariamente nos governos passados e nas tais “heranças malditas”, que são absolutamente mentirosas. Lula “herdou” de FHC o Plano Real. Deixou para Dilma um ministério de cafajestes e 98% das obras do PAC que não realizou (mas que registrou em cartório como concluídas). Delgado “herdou” de Nadir o distrito industrial. Não sabemos o que vai deixar. “Marquetismo” político na sua essência. Em relação às alianças, sigla já não vale grande coisa. Todos os partidos estão empesteados de patifes. O que tem de acontecer, até para o crescimento moral dos próprios partidos, é a população começar a extirpar, pelo voto, as doenças (políticos) que estão fustigando o Brasil. Somente assim acabaremos com o lamaçal que nos assola. As alianças partidárias podem e devem ser feitas, porém, com gente que presta.

TM: Seu nome é sempre citado dentre os possíveis candidatos a prefeito. Pretende disputar a indicação do PMDB ao cargo ou tentará retornar à Câmara?

Alexandre: Ainda não discuti o assunto com o partido e com minha família (principalmente com meu pai e meus tios, que são meus mentores). Contudo, posso adiantar que voltar à Câmara não é dos meus principais objetivos.

TM: Para encerrar: a política taquaritinguense, desde os tempos do Negão e do Waldemar, é um “emaranhado” de correlações de forças: PMDB, PT, PSDB, PV, PPS, PDT, PTB, PP já foram, conforme o momento, aliados e adversários entre si. O que esperar para 2012?

Alexandre: Até o momento, não tenho a mínima idéia!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Entrevista: Rogério Baptistini

  Rogério Baptistini Mendes não é taquaritinguense. Não recebeu título de cidadão, nunca morou nem trabalhou aqui, não tem parentes na cidade. Nasceu em Araraquara, logo, sempre soube como é Taquaritinga. Sociólogo, mestre pela UNICAMP e doutor pela UNESP, professor e coordenador do curso de Pós-Graduação em Globalização e Cultura da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP/SP). Sãopaulino. Casado, sem filhos. Escreve em jornais, faz mediação de debates, mantém o blog http://rogerbam.wordpress.com. Na sala de aula, é onde revela seu brilhantismo. Culto, didático, expõe sua opinião de forma direta, incisiva.
Um pensador. Na intimidade, democrático, humanista, se envolve com os alunos e suas vidas. Um amigo. Autêntico, como se deve ser – e há tão poucos hoje em dia! Sincero, bem humorado, inteligente, meio amalucado... Um sujeito que poderia, sem dúvida, ter nascido em Taquaritinga!


Tendência Municipal: Existe uma “cultura caipira” a unir taquaritinguenses, araraquarenses, matonenses, jaboticabalenses, ribeirão-pretanos etc.?

Rogério Baptistini: Eu creio que existe, mas não sei bem se é uma cultura que possa ser definida como caipira, apesar de gostar da qualificação. Caipira, como sabemos, é o habitante da roça, geralmente possuidor de pouca instrução formal e modos que, aos olhos dos citadinos, são considerados rudes. E não creio que os moradores do interior do nosso Estado sejam assim. Numa origem remota, que remete às correntes de povoamento do território, isso, talvez, tenha sido válido. Hoje, não mais. A região compreendida pelas cidades de Taquaritinga, Araraquara, Matão, Jaboticabal, entre outras, é pólo dinâmico de desenvolvimento econômico, social e cultural. Possui centros universitários e de ensino técnico de ponta em relação ao restante do País, além de empresas modernas. É óbvio que o ritmo da vida é diferente do da capital, imprimindo nos comportamentos certos traços que lembram os tempos idos, do contato pessoal afetivo e prolongado, da vizinhança e do jeito de viver de antigamente, mas isso está mudando. Não creio, entretanto, que a tendência aponte para a individuação e o isolamento típico das metrópoles. É preciso aguardar. De qualquer forma, o jeito de viver e de falar do povo da região é atraente e nos faz pensar nas possibilidades de uma vida mais plena e feliz em relação aos nossos companheiros humanos, ainda que o sotaque possa causar alguma estranheza, sobretudo em função da herança do dialeto do caipira, formada no contexto da imigração do início do século XX.

TM: Como somos, os brasileiros?

Baptistini: Ao contrário de certo pensamento conservador, cuja origem remonta ao século XIX, somos um povo vitorioso. Fizemos, num curto espaço de tempo, em cerca de 40 anos, um país novo, moderno, urbano e industrial. As diferenças regionais e sociais, contudo, saltam aos olhos, mas não podem ser creditadas ao caráter do povo, a uma possível indolência devida à composição étnica, ou o que quer que seja. Concordo com as análises de Raymundo Faoro, autor do clássico “Os donos do poder”. O nosso problema é o “andar de cima”, o estamento político, desprovido de compromisso com o destino dos seus concidadãos. Infelizmente, ainda hoje, creio que os brasileiros, homens formados numa longa trajetória de trabalho intenso para dominar um território estranho e hostil e fazer dele uma sociedade civilizada, padecem os maus governos. Não fosse isso, estaríamos em melhor situação.

TM: A Cultura será globalizada?

Baptistini: A cultura está globalizada, mas isso não significa que ela seja a mesma em toda a parte, alcançando todos os homens da mesma forma. Os avanços nas técnicas, sobretudo no nível das comunicações, com os satélites, a internet, a TV a cabo, os celulares, aproximou as pessoas e gerou novas formas de interação, padronizando certos comportamentos e costumes. A globalização dos mercados em termos de produção e consumo também concorre para isso. Acontece, porém, que as bases sobre as quais esses processos se assentam é diversa, vária, e implica em formas particulares de assimilação do que é global, gerando padrões híbridos. Um jeito próprio de viver o contemporâneo em cada parte. Em certo sentido, a riqueza das culturas produzidas pelo homem permanece. Transformada, é óbvio, mas gerando frutos típicos e mostrando que não somos autômatos, mas homens, com experiências e costumes particulares, capazes de inovação, mas sem deixar morrer as raízes tradicionais. Um exemplo disso, talvez seja a moda de viola, que sobrevive animando o bate-papo entre amigos já não mais caipiras, mas empresários modernos, conectados ao mundo.

TM: Que papel a História guarda para o Brasil?

Baptistini: O Brasil é uma jovem nação, formada graças à contribuição de povos diversos. Estes foram capazes de se constituir como uma única gente, como brasileiros. O seu trabalho constante e os seus sonhos nos animam e mostram ao mundo que é possível construir um destino comum, em que pese as diferenças de cor da pele, lugar, religião. Se conseguirmos mudar o cenário político e fazer do Brasil uma verdadeira República, acredito que a utopia de Darcy Ribeiro se concretize e nos tornemos, de fato, uma grande nação de um povo rico e feliz.

TM: Aconselharia um jovem estudante a cursar Sociologia?

Baptistini: Esta é uma pergunta difícil. Eu sou sociólogo e hoje, aos 45 anos, estou feliz com a minha escolha de juventude. Para o jovem eu diria, sem medo de cair no lugar comum, que escolha o seu caminho. Ele não é definitivo quando se tem 17, 18 anos, mas pode vir a ser. Aos 40, ele ainda não é definitivo. É sempre possível mudar, fazer outros planos. Basta viver.

sábado, 19 de novembro de 2011

Entrevista: Ico Pagliuso

  Entrevistamos Pascoal José Giglio Pagliuso, o Ico Pagliuso. Filho do engenheiro Alfredo Pagliuso e da bióloga e professora Dona Zezé, casado com a analista de sistema Priscila Basso e pai da Luah, é um dos mais importantes físicos do Brasil. Graduado em Física pela Unicamp, é mestre, doutor e professor livre docente da instituição. Concluiu pós-doutorado no Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA, centro de excelência que passou para a história por ter desenvolvido o Projeto Manhantan, codinome para a construção das primeiras bombas atômicas, lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki para por fim à Segunda Guerra.
Desde criança, se destaca nos estudos, mostrando uma inteligência incomum. Destacou-se, também, na música, como virtuoso baixista da banda de rock Decreto-Lei, que fez sucesso nos anos 1990. Intelectual da mais alta estirpe, profere palestras e conferências nas melhores universidades do mundo, sempre a viajar por EUA, Canadá, Europa. Encontra-se no momento nos Estados Unidos, dando sequência às suas pesquisas na Universidade da Califórnia (campus de Irvine). O mais importante, contudo, é que mantém uma humildade exemplar. Encontramos um espaço em sua atribulada agenda para apresentar aos nossos leitores-internautas este agradável bate-papo.


Tendência Municipal: Você construiu uma carreira acadêmica sem precedente na história de Taquaritinga. Aos 37 anos, se tornou um dos mais jovens Livre Docentes da Unicamp, uma das melhores universidades do País. Nos fale dessa trajetória.

Ico Pagliuso: Na verdade, é uma trajetória comum a muitos dos meus colegas da Unicamp, da USP e de outras universidades de renome internacional. Foi baseada em muita dedicação, noites em claro no laboratório e amparada pela excelência do corpo docente e da infraestrutura de pesquisa da Unicamp.

TM: Como foi sua estada nos EUA, no "mítico" Laboratório Nacional de Los Alamos?

Ico: Foi extremamente gratificante tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Os conhecimentos adquiridos naquele período no desenvolvimento de novos materiais permitiram que o meu grupo na Unicamp se tornasse complemetamente independente, adquirindo liderança autônoma de prestígio internacional nessa área. Pessoalmente, é suficiente dizer que minha única filha nasceu lá.

TM: A pergunta inevitável: qual sua opinião sobre as bombas atômicas lançadas na Segunda Guerra e sobre as armas nucleares em geral?

Ico: Não creio que alguém possa ser deliberadamente favorável ao uso de armas nucleares. Como cientistas, é nosso dever analisar criticamente as possíveis consequências de nossas pesquisas. O próprio Oppenheimer, líder do Projeto Manhantan, viveu amargurado após testemunhar as consequências hediondas de sua pesquisa. Historicamente, é preciso lembrar, sem intenção de justificar, que os cientistas do Projeto Manhantan trabalhavam sob a impressão de que os nazistas estavam perto de controlar a energia nuclear e de produzir bomba atômica a qualquer momento.

TM: O Brasil alcançou papel de destaque na geopolítica internacional, mas, paradoxalmente, nenhuma de nossas universidades consta entre as melhores do mundo. Por quê?

Ico: Na minha opinião, pela própria dimensão territorial e populacional do Brasil, a sua maior inserção geopolítica internacional é uma consequência natural, na medida em que o País vai alcançando um desenvolvimento sustentável. Já o destaque científico-acadêmico é consequência direta do mérito. Assim, para se melhorar nessa direção é preciso muito investimento na excelência da formação acadêmica e na produção de ciência e tecnologia. Isso começa com a melhoria da educação fundamental e se concretiza na excelência acadêmica das universisades com pesquisa de ponta. Isoladamente, o Brasil conseguiu atingir esse patamar em algumas áreas. O próprio reconhecimento internacional do nosso grupo de pesquisa na Unicamp é um singelo exemplo disso.

TM: Quais seus projetos atuais, agora que retornou aos EUA?

Ico: Estou como pesquisador convidado na Universidade da Califórnia, na cidade de Irvine, em colaboração com o grupo do Professor Zachary Fisk, buscando a amplicação da nossa colaboração na produção de novos materias supercondutores.

TM: Física e música combinam? Que tipo de música escuta no dia-a-dia, continua roqueiro?

Ico: A Música é uma consequência direta das leis da Física. A Harmonia acontece quando comprimentos de ondas específicos são combinados adequadamente. Sempre uso exemplos sobre música nas minhas aulas. Também mostro fotos do Decreto-Lei em aulas e palestras. As pessoas acham graça quando associam o "baixista cabeludo" com o "palestrante quase careca"... Honestamente, continuo ouvindo as mesmas bandas de sempre: Iron Maiden, Led Zeppelin, Metallica, Deep Purple, Ozzy Osborne... Em relação ao último, dias atrás eu fui à livraria Barnes&Noble, em Huntington Beach, Califórnia, para pegar o autógrafo dele no meu exemplar do seu último livro "Trust me: I am Dr. Ozzy". Leitura que eu recomendo. É hilário!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Entrevista: Neide Salvagni

  A entrevistada desta edição é a DIRIGENTE REGIONAL DE ENSINO Neide Ramos Salvagni. Viúva de Estevam Salvagni, mãe da Ana Maria, do Savério e da Cacá, avó da Laura, do Augusto, da Ariadne e da Luíza. A política sempre a acompanhou: foi vereadora, cargo antes ocupado por seu marido Estevam; o sogro, Ernesto Salvagni, foi prefeito e deputado; o cunhado Sérgio, vereador e prefeito. Vice-presidente do PSDB local, destaca-se como importante liderança feminina, pré-candidata a prefeita em 2012. Ao lado da Educação e da política, tem paixão pela arte, em especial a música.
Cantora amadora, afinadíssima, já se apresentou, com a filha Ana Salvagni, no renomado programa Sr. Brasil, da TV Cultura, quando recebeu elogios do apresentador Rolando Boldrin. Organiza concorridos “saraus” em sua casa, com a presença de talentosos artistas-amigos e de seletos amigos-ouvintes. Com a cordialidade de sempre, concedeu-nos essa agradável entrevista.


Tendência Municipal: Qual a função e a abrangência da Diretoria Regional de Ensino sob seu comando?

Neide Salvagni: Há dezesseis anos ocupo o cargo de Dirigente Regional de Ensino, o que muito me honra por merecer a confiança do governo do Estado. Nossa Diretoria tem se destacado por conseguir excelentes resultados, o que atribuo ao trabalho competente e ao comprometimento de minha equipe. Nossa jurisdição abrange 11 municípios e a principal função da Diretoria é a de implementar a política educacional da Secretaria de Estado da Educação, garantindo o acesso e permanência dos nossos alunos e uma educação de qualidade a todos.

TM: Que avaliação faz das Administrações federal, estadual e municipal especificamente sobre Educação e Cultura?

Neide: Não votei na Dilma, mas hoje reconheço sua determinação e firmeza nas decisões, mesmo em face às pressões advindas de compromissos assumidos em campanha. Considere-se o último episódio envolvendo o ministro Orlando Silva. Quanto à administração estadual, sou suspeita para opinar sobre o governador, visto que participo de seu governo pela segunda vez e o admiro pela seriedade e honestidade com que trata os assuntos públicos. A administração municipal vem se pautando pela política de priorização na solução dos problemas mais emergenciais, uma vez que o orçamento não possibilita o atendimento a todas as demandas, e o prefeito, que é meu amigo de longa data, tem honrado os compromissos da administração.

TM: Qual sua relação com a música? E como foi cantar num importante programa de TV, mesmo não sendo uma “profissional” no assunto?

Neide: Tenho a impressão de que nasci cantando. Ao invés de choro, meu primeiro som emitido deve ter sido um lindo sol maior! Na verdade, sempre vivi em meio musical. Meu pai, Eutimo Ramos, foi seresteiro, tocava violão e interpretava as canções de uma forma muito própria. Estevam, meu marido, tocava de ouvido piano e acordeon, e minha sogra Dona Zilda foi exímia pianista. Hoje, minha filha Ana Salvagni eterniza essa herança musical fazendo um trabalho delicado e muito bem cuidado, uma importante contribuição para a música brasileira. Cantar no “Sr. Brasil” foi uma bela experiência. Primeiro pela alegria de cantar com a minha filha uma música que aprendi com meu pai, de geração a geração, e depois porque fomos acompanhadas pelo melhor violeiro brasileiro, meu genro Paulo Freire. Já conhecia o [Rolando] Boldrin e só fiz constatar o talento e a performance deste artista incrível.

TM: De modo geral, isto é, independente do partido, a eleição da presidenta Dilma Rousseff incentivou a participação da mulher na política municipal?

Neide: Sim, sem dúvida alguma. A ascensão de uma mulher à presidência da República foi estimulante e é a nossa grande chance de provarmos que podemos ser excelentes gestoras e, em alguns aspectos, até mais perspicazes que os homens. Torço pelo sucesso da Dilma.

TM: Caso se confirme sua candidatura à prefeita, quais seus principais projetos para a cidade? Pretende firmar coligações e com quais partidos?

Neide: Impossível aqui, em poucas linhas, expressar todos os meus anseios e expectativas para Taquaritinga. Estou convicta de que a elaboração de um plano de ações para a minha cidade deve visar, antes de tudo, ao bem estar das pessoas. Quanto mais e melhor proporcionar qualidade de vida, mais assertivo será meu planejamento. Partindo dessa premissa, minha prioridade será sempre a Educação. Garantir que nossas crianças tenham direito a boas creches e escolas, boa merenda e, sobretudo, à boa formação em seu sentido mais amplo será o maior legado que deixarei aos meus conterrâneos. Paralelamente a isso – e não menos importante – será o bom atendimento à saúde. Todos os cidadãos merecem receber atendimento, mas principalmente aos mais carentes será assegurado medicamento e pronto atendimento. E que esse atendimento seja eficaz e humano. Humanizar as relações em todo e qualquer atendimento público, será a minha lei. Ampliar a oferta de trabalho, através de incentivo ao nosso comércio e nossas empresas, e buscar novos empreendimentos; assegurar que nossa população esteja tranquila quanto à segurança pública; investir recursos para oferecer opções culturais à nossa juventude; prover a população de um mínimo de entretenimento, tendo um centro cultual com teatro e cinema, são algumas das minhas principais metas. Caso se confirme minha candidatura, espero, é claro, contar com apoios. Todos os apoios serão importantes e bem-vindos se o intuito for o mesmo: levar Taquaritinga a uma culminância nunca antes alcançada.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entrevista: Guto Santaella

  Nosso entrevistado é José Augusto Santaella, o Guto. Nasceu em Taquaritinga em 1969, casado com a Cristiane Pilon, pai da Nicole, da Núbia e do Enrico. Aficionado pelo mundo da eletroeletrônica desde criança, dos pioneiros a se enveredar pelos incipientes caminhos da informática – nos anos 1980, já dominava a tecnologia da época. Mudou-se para Ribeirão Preto e, com 15 anos, começou a trabalhar no ramo, “consertando” todo tipo de equipamento: aparelho de som, vídeo-cassete, televisores etc. Apaixonado por música, toca violão, guitarra e bateria. Na adolescência, foi baterista de uma sofisticada banda de rock ribeirão-pretana, a “Orchidea”, que se apresentou, com sucesso, em vários festivais.
Formou-se, primeiro, Técnico em Eletrônica pelo colégio técnico da UNAERP e, depois, graduou-se em Engenharia Mecatrônica pela Unianhanguera de Matão, onde reside e mantém a empresa Brasil-Drones, especializada em alta tecnologia. É mais um exemplo aos jovens de Taquaritinga por sua força de vontade, lisura, competência e cordialidade. Nesse bate-papo, expôs seus projetos, relembrou suas histórias, falou sobre tecnologia, música, Ribeirão, Matão e Taquaritinga.


Tendência Municipal: Fale-nos do mais recente projeto desenvolvido por sua empresa, o VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado.

José Augusto Santaella: Sempre estive envolvido no meio tecnológico. Há um ano, já com alguma credibilidade no meio acadêmico e de máquinas, fui procurado pelo engenheiro agrônomo gaúcho – e doutorando – Ademir Wendling, que me fez uma consulta sobre uma aeronave que tinha visto em teste na Argentina. Sem conhecer a aeronave, descrevi todo seu funcionamento, daí ele me perguntou: “Você faz uma dessas pra mim?”. E eu, para não perder a “fama”, disse: “Sim, sem problemas...”. Aprofundei-me no estudo e aplicações dos Veículos Aéreos Não Tripulados e, no mesmo momento, vislumbrei meu futuro nessa tecnologia. Finalmente, com a ajuda de outros engenheiros que também “não dizem não” a um bom desafio, conseguimos uma plataforma básica para desenvolvimento de VANTs por entusiastas ou acadêmicos. A tecnologia que empregamos é fiel a todos os conceitos desses aparelhos. O que tento fazer é fomentar esse mercado, buscar novos talentos para somarmos os conhecimentos adquiridos. Essa tecnologia é de extrema importância ao Brasil, dada nossas vastas fronteiras. Nossa presidenta Dilma tem o tema na ponta da língua! O assunto é praticamente desconhecido do público em geral, que só se lembra dos VANTs norte-americanos “bombardeando o Iraque e o Afeganistão” e pode pensar que se trata só de uma arma. Pelo contrário! Sou um pacifista, em minha mente, os vejo sendo usados na agricultura (fotos aéreas e outros sensores), monitoramento de florestas e rodovias, combate ao tráfico de drogas (são praticamente invisíveis em vôo), TV, cinema, geração de energia (sim, VANTs podem ter essa finalidade!). Esses “robôs voadores” têm muito a oferecer à sociedade.

TM: Você mantém relação com a eletroeletrônica desde criança. Como descreve o desenvolvimento tecnológico brasileiro dos anos 1980 até os dias atuais?

Guto: Não posso deixa de citar: venho de uma geração que estava fadada a uma política equivocada, que foi muito maléfica ao desenvolvimento do Brasil e de brasileiros como eu, ávidos por conhecimento. Me refiro à “Reserva de Mercado da Informática”, instituída por volta de 1984, que se findou só em 1991, um verdadeiro flagelo tecnológico. Consegui driblar esse “limitante” com o trabalho, tive meu primeiro computador em 1985, um TRS-80; em 1987 já trabalhava com informática, me concentrava no hardware. Nessa época, aconteceu a única pirataria a que fui favorável: via importação ilegal, tive contato com o que havia de melhor no mercado, o IBM PC. Nos anos 90, com o fim da reserva, é que realmente podemos dizer que o Brasil apareceu para o mundo da informática. Empresas ligadas ao antigo modelo simplesmente sumiram e milhares de brasileiros talentosos apareceram – e brilham – a cada cidade, inclusive em Taquaritinga. Já nos dia atuais, volto a me frustrar um pouco, pois, agora, é o mercado mundial que parece sofrer algum tipo de “reserva”. Quem me conhece sabe que eu dizia que “usar mouse e teclado” estava com os “dias contatos” e que o usuário “falar” com o computador e ele executar, era o mínimo que teria que fazer. Mas isso ainda não ocorreu. Se você vasculhar suas caixas no porão e encontrar aquele “disquete” de 3,5 polegadas, inseri-lo no seu PC novinho em folha, vai entender o que digo ao ver que roda normalmente! É o poder econômico acima da ciência, não tenho outra explicação.

TM: Em sua opinião, de que forma uma administração municipal pode contribuir para o avanço da Ciência e Tecnologia?

Guto: Penso que nesse aspecto, se nossa Taquaritinga deseja ser bem vista, tem que ter como prioridade duas coisas: Educação de qualidade e professores valorizados – e não se tem uma sem a outra! Deve estabelecer uma política que incentive as feiras de ciências em todas as unidades escolares, públicas e privadas. Desde criança, a ciência está presente, de forma latente, no homem, o seu despertar pode vir de várias formas; nas crianças estão engenheiros, arquitetos, pesquisadores, doutores, em estado bruto... É dever do município revelar e SEGURAR esses talentos, pois disso depende a criação de sua “massa crítica tecnológica”. Aí sim, transformar e iluminar a sociedade e, claro, abrir novas empresas – não só desse setor, como também atrairá investimentos diversos. Tecnologia é uma excelente propaganda, um ciclo virtuoso.

TM: Matão tem tradição industrial, notadamente no ramo do agronegócio e siderurgia. Você acredita que a cidade possa evoluir para se tornar um tecnopolo, a exemplo de São Carlos?

Guto: Sim. Hoje, o número de novas empresas na cidade de Matão aumentou muito, todas utilizando máquinas de tecnologia de ponta, adquiridas com recursos do governo federal, através do BNDES. A exemplo de São Carlos, Matão já conta com uma universidade que oferece cursos de alta tecnologia, como Engenharia Mecatrônica, Mecânica e TI [Tecnologia da Informação], além de um forte ensino profissionalizante com a ETEC, que oferece cursos de Eletrônica, entre outros. Temos, também, uma unidade do SENAI, que consolida Matão como fonte de força de trabalho altamente qualificada e especificada no setor industrial.

TM: Na juventude, em Taquaritinga e Ribeirão, você empunhava seu violão e sua guitarra e se mostrou um virtuoso baterista. Conte-nos um pouco dessa experiência. Ainda se envolve com a música? E, por fim, não podia deixar de perguntar: gosta de “música eletrônica”?

Guto: Musica é uma paixão, na juventude não me conformava em ouvir, tinha que tocar! Acho que o Luisinho [Bassoli] se lembra que, em 1986, ficou uma guitarra minha no seu guarda-roupa por uma semana... (risos). Em Ribeirão, no fim do colégio, tive a sorte de conhecer três caras muito talentosos e bacanas: Ricardo, Vladimir e Moacir, que me convidaram para formar a banda “Orchidea”. Nos finais de semana, eu estava sempre em Taquaritinga, era muito requisitado para as serenatas, onde o Cecéu [Marcelo De Paula] geralmente era o vocal. Já em Ribeirão, eu era o baterista; nesse instrumento é que consegui “melhores resultados”, vamos assim dizer... E como a banda era autoral, não tocávamos músicas de “outras” bandas (não fazíamos “cover”), ali tive a mais incrível experiência musical que se pode ter, que é tocar a própria música, ver o público cantar e dançar ao seu som – isso foi muito bom, nunca me esquecerei! Se eu gosto de música eletrônica? Sim, mas a dos anos 1990, “Technotronic”, “Information Society”, “Pet Shop Boys”... (risos). Hoje, ando afastado da bateria, para sorte dos vizinhos e da Cris, minha esposa, mas o violão e as guitarras estão sempre à mão...

Brasil Drones: www.brasildrones.com.br

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Entrevista: João Perroni




 


Nesta edição, conversamos com João Luiz Perroni, proprietário da CHOPPERIFERIA BAR, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1984. Taquaritinguense, ou melhor, jurupemense, morou por décadas em São Paulo, onde geriu, com sucesso, os emblemáticos BEBERICANTO e SERENÔ, bares/espaços culturais frequentados por políticos, jornalistas, artistas e estudantes, trabalhadores, casais... João é um artista multifacetado, poeta, escritor, compositor, desenhista, músico. Em 1982, juntou-se aos amigos Mineiro, Mário Carvalho e Nico Rezende para gravar o LP “Conviver”, considerado pela crítica um trabalho de altíssima qualidade.



De personalidade forte, é militante político de “esquerda” e ecologista convicto. Fundador do diretório municipal do PT, abandonou o radicalismo e age com independência. Apaixonado pela arte, sua Chopperiferia está sempre aberta para artistas da cidade e região expor livros, músicas, fotografias, pinturas, vídeos etc. A seguir, um pouco de João Perroni, de seu estilo único, suas opiniões incisivas, sua capacidade de transcender à linguagem comum – e seus neologismos...


Tendência Municipal: Você é poeta, músico, compositor, desenhista. De onde vem essa versatilidade? Quais são suas fontes de inspiração?

João Perroni: “Poeta, compositor” é uma conjugada expressão na falta de parceiros disponíveis... “Músico”: No comparativo, tô longe! Sou um mero tocador de violão para precisar minhas composições e tocar algumas pérolas da MPB. “Desenhista”, não! Sou um traçante de idéias que precisam ser avivadas. “Fontes”: ver e ouvir. Sou um “voyeur” atento ao belo gratuitamente cedido pelo nosso planeta e ao triste visceral da humanidade. “Inspiração”: redundando – é como o ar que respiramos. Se faltar, acabou...

TM: Conte-nos um pouco sobre o Serenô.

João: “Serenô”: batizei e foi crismado e criado por atores, artistas plásticos, jornalistas, intelectuais, músicos e toda espécie restante da “fauna” atuante no mercado. Dali, o meu primeiro texto musical-teatral: “O catador de papéis”, apresentado em curta temporada no Tuquinha [teatro da PUC/SP]. E a minha prazerosa amizade e parceria com músicos, compositores, teatrólogos.

TM: E o Bebericanto?

João: “Bebericanto”: apenas mudou de endereço, de espaço físico. Quase toda a “prole” veio do Serenô com o novo mobiliário; outros fantásticos somaram convivência. Até que, em 1982, atrevemos o LP “Conviver”, gravado graciosamente no estúdio do Rogério Duprat – “maestroso” [Duprat foi dos principais maestros e arranjadores do Tropicalismo]. O LP, bem absorvido pela crítica, teve músicas tocadas em rádios como a USP FM, Eldorado, Cultura etc. Neste clima, escrevi o texto-musical-teatral “Independente ou morte”, apresentado no auditório “Cidade de São Paulo”, anterior “Márcia de Windsor”, por duas semanas de casa lotada. De lá pra cá, nestes 28 anos da “Chopp”, tô eu – sob a mesma direção – rodeado de personagens vivos e saudosos. Mas aí já são outras histórias...

TM: Taquaritinga possui tradição artística, gerou talentos das mais variadas vertentes. O que fazer para que essa característica seja aproveitada para fomentar a economia local?

João: Agrupar! A criação solitária precisa desabrochar, ser vista, ouvida, criticada. Nenhuma gaveta merece o peso do esquecimento. Com um agrupamento relevante e sério, apoiado por uma gestão municipal séria, as cabeças pensantes terão prazer em fluir idéias que poderão gestar economia cultural ao município.

TM: Diante da omissão do poder público na elaboração de um projeto cultural institucional para Taquaritinga, você, pessoalmente, há algumas décadas, criou um espaço próprio na “Chopperiferia”, onde foram desenvolvidas experiências extremamente valiosas, como mostras musicais, exposições etc. Fale-nos um pouco sobre isso.

João: Falar sobre o essencial artístico, literário, vívido na “Chopp”, requereria um “textão” e o meu “tesão”, no momento, declina... Receio deixar de citar personalidades sensíveis neste presente. A “Chopp” está viva, levemente ativa, mas viva! Dessa forma, não passei a limpo ainda... E como já disse aí atrás, à “Chopp” já seriam muitas outras histórias. Ah, quanto ao poder (é) público e (é) notório o meu pensar – e pesar – por ele. Portanto... Beijos e obrigado pela entrevista.

Chico Rodrigues

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Entrevista: Chico Rodrigues


EDIÇÃO COMEMORATIVA – n.o 25 – “Jubileu de Prata”.

Encerra-se, assim, um ciclo. Depois de um curto recesso, o TENDÊNCIA voltará às telas com mais entrevistas e nova diagramação – com a característica de sempre: isento, plural, gratuito, apartidário, sem vínculo com nenhum órgão público e sem interesse comercial.


Chico Rodrigues

 


Batemos um papo com o taquaritinguense Francisco Rodrigues Santos, o Chico. Formado em Publicidade e Propaganda pela UNAERP, está há 10 anos em São Paulo. Sócio do conterrâneo José Luís Mirabelli, desenvolve aplicações na internet em projetos de consultoria para os mais variados segmentos do mercado. Talentoso desenhista, com traços simples e marcantes, suas CHARGES, publicadas em jornais da cidade e na internet, transitam com sutileza e ironia por entre o cotidiano e o mundo da política; suas caricaturas e desenhos estampam muitas das camisetas do tradicional bloco carnavalesco BATATA DOCE – que, ao lado do Corinthians e do CAT, é uma de suas grandes paixões.

Foi “braço direito” do inclassificável Luiz Mirabelli nos últimos anos do jornal-sátira INCITATUS. Mais que empresário bem sucedido, animado folião e artista nato, Chico é uma ótima companhia. Faz parte do raro tipo de pessoa que espalha alegria por onde passa.


Tendência Municipal: Qual é o seu ramo de atuação?

Francisco Rodrigues: Após terminar a graduação em Publicidade e Propaganda, atuei dois anos como "web designer" autônomo e em agências de Ribeirão Preto. Tive contato com programadores, conheci os conceitos básicos de linguagens de programação e, aos poucos, fui assimilando essa técnica no desenvolvimento do design digital. Em 2001, mudei-me para São Paulo, convidado pelo Zé Luis Mirabelli, meu amigo e conterrâneo, para desenvolvermos, juntos, alguns projetos. Desde então, criamos sistemas on-line para grandes consultorias e empresas de diferentes segmentos. Hoje, trabalhamos em projetos colaborativos para controle de previsão, venda e estoque, intermediando a cadeia de produção e distribuição entre fabricantes e varejistas. A internet é fundamental para a comunicação e eficiência dessas operações.

TM: Quando descobriu seu talento para o desenho? Quais artistas o influenciaram?

Chico: Quando criança, dos três aos oito anos, morei no sítio do meu avô, em Taquaritinga, a um quilômetro e meio da cidade. Passava muitas tardes sozinho, entre as árvores e os animais do lugar, criando personagens e histórias. Isso contribuiu para o desenvolvimento de minha imaginação – e ainda influencia meu processo criativo. Fui adquirindo habilidade para o desenho nas aulas de Educação Artística e Geografia, desenhando mapas para os colegas que não tinham aptidão com o lápis de cor. Com o tempo, passei a desenhar em todas as aulas e não prestava mais a atenção necessária nas outras disciplinas. Minha rotina mudou quando descobri as tiras e charges de Angeli, Laerte e Glauco, na Folha de S.Paulo. Ao voltar da escola, lia, diariamente, o jornal, e tratava esse momento como uma necessidade vital. Inspirado, comecei a esboçar algumas charges e pesquisar diferentes desenhistas e estilos. Assim, conheci o trabalho do Henfil, que me influenciou muito com a simplicidade das formas e expressões do seu traço. Hoje, considero meu desenho uma mescla dessa experiência.

TM: Você é entusiasta e um dos organizadores do Batata Doce. Que análise faz do bloco taquaritinguense na atualidade?

Chico: Entusiasmo, eu tenho bastante, mas ser chamado de “organizador” dessa bagunça é um desacato! (risos) Não organizo nada, apenas ilustro a Batata Doce e tento usar uma linguagem bem humorada – às vezes sarcástica – para divulgá-la. Assim a Batata foi criada e assim espero que continue, sempre. Nos últimos anos, o bloco cresceu e mudou bastante, mas ainda conserva sua essência irônica e despojada. Tenho, no Batata Doce, amigos que carregarei durante toda vida. Reunir essas pessoas e trazer alegria para Taquaritinga é tudo que espero dessa manifestação lúdica que é o carnaval.

TM: Como você define uma “boa charge”?

Chico: Simples, com pouco ou nenhum texto... Aquela que lhe faz rir sozinho no banheiro.

TM: Você trabalhou com o polêmico Luiz Mirabelli, sobretudo nos últimos anos da vida dele, como diagramador e chargista do Incitatus. Fale-nos um pouco dessa convivência.

Chico: Segundo a Wikipedia, “Incitatus era o nome do cavalo do Imperador Romano Calígula. De acordo com o escritor Suetónio, Incitatus tinha cerca de 18 criados pessoais, era enfeitado com um colar de pedras preciosas e dormia no meio de mantas de cor púrpura”. Consta que Calígula incluiu o Inictatus no rol dos senadores e ponderou nomeá-lo cônsul! Não havia nome mais apropriado para o jornal! Com o Incitatus, Luiz satirizou a “mediocridade” da política local, incomodou uns, divertiu outros, e seguiu firme até o final da sua jornada. Em 1998, eu já havia publicado minhas charges em jornais da cidade, quando decidi bater em sua porta. Ele me recebeu muito bem, disse que meus desenhos eram uma “bosta”, mas para Taquaritinga eram suficientes. Falou que tinha algumas ideias para eu colocar no papel, me ofereceu uma lata de cerveja e assim começou minha empreitada. Como ele precisava de um diagramador, e eu estudava em Ribeirão, passei os dois anos seguintes trabalhando nos finais de semana em sua casa, escutando histórias sobre a cidade, conhecendo pessoas interessantes que frequentavam a “redação” e aprendendo muito sobre a política taquaritinguense. Tive o imenso prazer de participar dos últimos anos do Incitatus e da vida do Luiz Mirabelli.

TM: É possível conceituar o "estilo" do Luiz Mirabelli

Chico: Apesar de parecer um velho rabugento, Luiz era uma pessoa engraçadíssima, generosa, que oferecia uma geladeira cheia de cerveja aos visitantes que apareciam diariamente para contar as novidades. Eu, particularmente, adorava aquela geladeira... Por isso, era chamado de “bêbado” a cada erro de digitação nas inúmeras correções que fazíamos antes de finalizar a edição. Nesse tempo todo em que estive por perto, sua vida boêmia já cobrava seu preço. Os amigos estavam sempre ao lado para ajudá-lo, enquanto a enfisema pulmonar lhe castigava e tirava seu sono. Contudo, mesmo nas piores crises da doença, tratava a morte com humor e desdém. Hoje, relembro, com frequência, todas as histórias que testemunhei como seu diagramador e amigo; fico imaginando o que ele escreveria sobre alguns fatos ridículos que continuam rodeando nossa cidade. É comum escutar alguém dizer: que falta faz o Mirabelli!

TM: A política taquaritinguense é peculiar. Quase todos os partidos, vez ou outra, já foram aliados e adversários entre si. Essa situação é um “prato cheio” para o chargista? Você prefere criar charge política ou sobre outros temas?

Chico: Gosto da charge política. Sem dúvida, Taquaritinga tem matéria-prima abundante para tal. Porém, o chargista deve estar bem provido de informações e em sintonia com a situação representada. No meu caso, como estou fora da cidade há muito tempo, não tenho informação suficiente para criar uma boa charge sobre a política municipal. O que leio pela internet não reflete o dia-a-dia, o cotidiano, as entrelinhas dos acontecimentos. Para fazer uma boa charge em Taquaritinga é preciso estar sempre presente nos balcões dos bares... Ali sim pipocam as ideias!

Chico Rodrigues

Da esquerda pra direita: Tadao, Cido Guarda-Chuva e Luiz Mirabelli.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entrevista: Lígia Morena




 


Nossa entrevista é com a cantora e compositora Ligia Constantini, a Ligia Morena. Taquaritinguense, filha do Benito Constantini e da Eva, sobrinha da professora de música Dona Catarina (a Titina), de quem herdou o talento musical. Lígia começou sua carreira como um ideal de vida nos anos 70. Obstinada, lançou-se no universo da música com paixão, ganhou vários festivais como cantora e compositora. Mudou-se para São Paulo, onde realizou grandes trabalhos, sempre com a personalidade artística que é sua característica.



É uma daquelas vozes que a gente ouve e não esquece mais, vibrante e definida. Em “O Canto Moreno de Clara Nunes”, uma revisitação ao trabalho de Clara Nunes, percorreu São Paulo, interior e outros Estados durante um ano e meio, acumulando maturidade profissional. A cantora e compositora Luli assim a define: “Lígia é um passeio atemporal pelas raízes do cancioneiro popular”. Com vocês, Lígia Morena!
(para saber mais: clique aqui)


Tendência Municipal: Como a música entrou na sua vida?

Lígia Morena: A música entrou na minha vida aos 6 anos quando ouvi Nara Leão cantando A Banda, de Chico Buarque. Me apaixonei pela música e ela se fez parte de mim. A partir daí, nunca mais parei. Participei de vários festivais música na minha cidade Taquaritinga, trabalhei como cantora em conjuntos de baile e achei que era pouco, precisava crescer, fui atrás de novas oportunidades. Deixei minha cidade natal e fui para a Capital, onde me profissionalizei. Hoje, estou em meu segundo trabalho solo.

TM: Qual o seu estilo musical. Que tipo de música você compõe e gosta de interpretar?

Lígia: Meu estilo de música é a música popular brasileira, em seus vários estilos, mas sou pop, sou samba, sou raiz, sou MPB!

TM: Você acha viável para Taquaritinga um projeto de inclusão social, que tenha a música como principal agente?

Lígia: Com certeza! Como estou “dentro” da música, como educadora, percebi a importância de se criar oportunidades para talentos que, às vezes, estão ofuscados por uma realidade cruel, mas com muita necessidade de expressão e sede de conhecimento para poder se entregar, o que abrira os olhos para um futuro diferente. A música tem o poder de nos transportar, transformar, harmonizar. Acredito que Taquaritinga tenha muitos talentos escondidos à espera de ser descobertos!

TM: O que significa Taquaritinga para você?

Lígia: Taquaritinga é minha casa, minha família, onde tudo começou na minha vida. Fico feliz de ser recebida de braços abertos por minha cidade, que é maravilhosa, cidade que cresce em todos os aspectos, inclusive na arte e em sua musicalidade.

TM: Fale sobre o seu último trabalho e como podemos ouvi-lo?

Lígia: Me novo trabalho chama-se “A Cara do Brasil”, e nasceu da vontade de cantar as raízes da nossa cultura, em uma época onde a globalização em seu aspecto negativo nos leva a mergulhar no esquecimento da identidade cultural do nosso País. Então, esse trabalho resgata, através da música, parte desta cultura tão rica, de uma forma moderna e atual. É dividido em duas partes: a primeira é a valorização dos grupos indígenas como guardiões da nossa riqueza natural, raízes de nossa cultura nativa, a música cabocla e poética; a segunda parte do CD nos leva ao mundo das raízes africanas, tão presentes no nosso cotidiano. A mistura e fusão dessas duas etnias, africana e indígena, nos mostra realmente qual é a verdadeira Cara do Brasil. O maior objetivo deste trabalho é o resgate do orgulho da nossa identidade cultural, não poderia haver melhor meio para a realização desse objetivo do que usarmos a linguagem universal da Música.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Entrevista: Getúlio Enéas De Paula




 


O nosso entrevistado, Getúlio Enéas De Paula, nasceu em Tremembé/SP, passou a infância em Taubaté, mas é taquaritinguense de coração. Casado com a Iraídes há 50 anos, pai do Marco (Depa), da Patrícia e do Marcelo (Cecéu), avô da Bruna, Thiago, Gabriela, Larissa, Marcelinho e da Lívia. Atua no ramo de seguros há meio século, proprietário da mais tradicional corretora da cidade, Getúlio Seguros. Autodidata, tem uma história de vida única, construída com muito esforço e dedicação, sempre atento à ética e à solidariedade. Nos anos 1980, vivenciou uma experiência insólita ao viajar ao Líbano, em plena guerra civil.



Apaixonado pela vida, um exemplo de que é possível aliar sucesso profissional com dignidade pessoal. Bem humorado, amigo, leal, ótima companhia. Um homem de fé! Vale a pena ouvir (ler) o que ele tem a dizer.


Tendência Municipal: Conte-nos um pouco de sua história, sua infância em Taubaté e como – e por que – veio à Taquaritinga.

Getúlio De Paula: Nasci em Tremembé e não conheci meu pai, era época da Revolução de 1932. Ele sumiu, simplesmente desapareceu sem deixar rastro. Depois de completar o primeiro ciclo escolar, ingressei no curso de admissão, foi quando perdi minha mãe – tinha 12 anos e uma irmã de 18. Tive que trabalhar para continuar, fiz de tudo nessa vida: fui engraxate, carregador de mala na estação de trem, vendedor de coxinha na Central do Brasil, de Taubaté a Cruzeiro (na divisa com o Estado do Rio de Janeiro), cortador de lenha, ensacador de carvão. Com 15 anos, trabalhei em uma empresa têxtil e como ajudante de farmácia. Com 17, fui contratado pelo DER [Departamento de Estradas e Rodagem] – o salário atrasava até nove meses e todo pagamento tinha que passar procuração, sofrendo 20% de desconto. Daí, parti para uma empresa de transporte, rápido de frutas e verduras, fazia a rota SP-Rio – 400km de pista única. Voltei ao DER, o governo Jânio Quadros moralizou o funcionalismo público estadual, pondo o pagamento em dia. No departamento, prestei concurso para a cobrança de pedágio e escolhi Taquaritinga. Foi amor à primeira vista!

TM: Como se desenvolveu o mercado de seguros no Brasil nesses 50 anos?

Getúlio: Comecei no ramo de seguros como uma opção pelo tempo que eu tinha disponível. De 1960 até a presente data, o seguro mudou demais, para melhor. O pouco que eu tenho na vida devo ao seguro: “pouco com Deus muito é; muito sem Deus é nada”. O começo de minha vida profissional era muito diferente, fazia de tudo, segurava, vistoriava, liberava, enfim. A categoria de corretor de seguros não existia, a classe passou a ser regulamentada em 1964 com o regime militar.

TM: Com sua experiência, que análise faz da atual situação socioeconômica brasileira?

Getúlio: Em relação à situação socioeconômica, senti a diferença no Plano Real, graças ao presidente Itamar Franco e seu ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que vem dando certo até os dias de hoje.

TM: O senhor esteve no Líbano, no auge da guerra civil, considerada uma das mais sangrentas do século 20. O que o levou para lá e o que se recorda dessa situação?

Getúlio: Em 1980, fui convidado pelo meu amigo e compadre Nahin Nagib para participar de uma Feira de Embalagens na Alemanha. Lá, meu amigo recebeu um telefonema informando que sua genitora, que morava no Líbano, estava muito mal de saúde, talvez não passasse daquele dia. Entre voltar ao Brasil e acompanhar meu compadre ao Líbano, mesmo estando em guerra, fui para o Líbano com ele. Aterrissamos em Beirute, reduto muçulmano, e fomos para a cidade de Juni, nas montanhas, dominada por cristãos. Apesar do medo, foi uma experiência fora de série, o povo libanês é muito hospitaleiro e amigo. Recordo de um fato extraordinário, uma mina de água doce, potável, que brota do Mar Mediterrâneo, perto do porto da cidade libanesa de Trípoli, que não se mistura com a água salgada, onde os navios se abastecem para uso próprio. Foi uma viagem inesquecível!

TM: O que Taquaritinga tem de especial?

Getúlio: Se existe um paraíso, Taquaritinga, para mim, é o paraíso! Não acredito em reencarnação, mas se ela existir, é para Taquaritinga que espero voltar! Novamente! A população de Taquaritinga é entre 50 e 60 mil habitantes. Na realidade, é muito mais de um milhão!!! Pessoas pelo mundo todo! Quando você está fora do País e encontra um conterrâneo, mesmo que não seja de sua intimidade, seu coração parece que vai explodir de felicidade! Meu vocabulário é muito pobre para falar da grandeza deste pedaço de chão abençoado por Deus!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Entrevista: Neco Pagliuso




 


Conversamos com Alfredo Luís Giglio Pagliuso, o Neco. CINEASTA, poeta, fotógrafo, videomaker. Taquaritinguense, 44 anos, filho de uma bióloga com um engenheiro. Palmeirense – para quem não sabe, foi um habilidoso jogador de futebol de salão: fez parte de um time notável da Escola 9 de Julho nos anos 1980, ao lado do empresário Paulo (Zú) Barbosa no gol, Paulinho Andreghetto (funcionário do Colégio Objetivo), Beto Micheloni (médico e vereador) e do irmão Miguel (Manzo) Pagliuso. Cursou Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo do Campo (FEI) – até o amor ao cinema falar mais alto.



Na década de 1990, matriculou-se no curso de Cinema da Oficina Oswald de Andrade de São Paulo, fundou a produtora Formas do Olhar e trabalhou com diretores renomados, como Luiz Rosemberg, Andrea Tonacci, Rogério Sganzela. Produziu e dirigiu vários curtas, exibidos no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Centro Cultural Itaú e na TV Cultura. É autor do livro Poesias para Celular. Em 2007, foi o homenageado especial da 2.a Mostra de Arte Moderna e Contemporânea, organizada pela artista Marjorie Salvagni, com apoio da secretaria municipal da Cultura, no Colégio Objetivo de Taquaritinga. As visões do Neco sobre cinema contemporâneo, TV, futebol, religião e o futuro da arte.


Tendência Municipal: Há um novo Cinema Novo?

Neco Pagliuso: Como disse o diretor Fernando Meirelles [autor de Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira, entre outros], o que é chamada de “a retomada do cinema brasileiro” é caracterizada mais pelo modo de produzir os filmes do que por uma busca estética, como era o Cinema Novo. Mas, se considerarmos que, assim como no Cinema Novo, há uma valorização da identidade brasileira com a diversidade de filmes atuais, e que também essas diferenças trazem um novo olhar sobre o País, talvez seja uma nova estética.

TM: Você assiste a filmes de Hollywood?

Neco: Poucos, já assisti mais. Praticamente foi assistindo Spielberg que comecei a gostar de cinema.

TM: Existe vida inteligente na TV?

Neco: “A televisão me deixou burro muito burro demais. Agora todas as coisas que eu vejo me parecem iguais”. Essa frase de uma música dos Titãs tem seu valor, só que não posso dizer que tudo na TV é ruim, mesmo porque fui formado em parte por ela. Teóricos dizem que o futuro da televisão é “uma pessoa falando, com uma câmera na frente”. Porém, atualmente, acho que existem programas bons, como o Café Filosófico, da TV Cultura, ou mesmo o Canal Brasil, transmitido pela TV por assinatura, que deveria ser um canal aberto devido a sua importância cultural para o País.

TM: Na adolescência, você se destacava no futebol de salão. Acompanha o futsal moderno?

Neco: Perdi meu interesse para o esporte em geral, mas ainda gosto de ver jogadores habilidosos, tanto no campo quanto no salão.

TM: Um poema seu diz: “No centro de Deus eu”. Como vê a religião?

Neco: A intenção dessa poesia foi mais brincar com a ideia de que no centro da palavra “Deus” existe a palavra “eu”. Já fui católico praticante, “quase coroinha”, frequentava a igreja. Hoje, prefiro acreditar mais na Ciência. Tenho até uma definição para o mistério da existência: “O que contêm, também está contido” e gosto também de uma frase que diz: “Tudo é do homem, tudo vem para o homem”.

TM: Existirá a 8.a Arte?

Neco: Dizem que vivemos em uma época incomum nas artes, na qual tudo já foi feito. Todavia, acredito que, talvez, com as misturas que vêm sendo realizadas entre as diferentes manifestações artísticas – ou até mesmo desse “tal mercado” – ou da tecnologia, possa sair algo que transcende, sendo, assim, considerado uma nova arte.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Entrevista: Denise Locilento




 


Conversamos com a cabeleireira, dançarina e coreógrafa Denise Locilento. Filha do advogado Kiko Locilento e da prof.ª Regina, é irmã da Viviani (arquiteta) e do Ricardo (médico) e mãe da Isadora. Proprietária do sofisticado salão Oficina da Beleza, trabalha também no salão Thomaz Pileggi, em Ribeirão Preto. Formada em Dança pela Universidade de Santos, é coreógrafa e diretora da Cia. de Dança Francisco Duarte, professora de dança da Escola Técnica de Arte Municipal Santa Cecília e responsável técnica do Ponto de Cultura PORTIDANÇANDO APM-ETAM.



Apaixonada pela arte, especialista em balé moderno e dança contemporânea, apresentou-se, com sucesso, em festivais e eventos em Taquaritinga, Ribeirão, São Carlos e Joinville. Um bate-papo sobre a “Arte da Dança”, política cultural, Cine São Pedro, Conservatório Municipal e de suas participações no “Dança Ribeirão”, um dos principais festivais do País.


Tendência Municipal: Quando começou sua paixão pela dança?

Denise Locilento: Dança é uma linguagem, com a qual expressamos sentimentos, emoções, tendo como instrumento o corpo, através do movimento, num universo de energia, tempo e espaço, com fluência e dinâmica. É uma concepção de olhar o “Mundo que Dança”. Penso, então, que a minha paixão se iniciou quando meu pai e minha mãe me proporcionaram a vida, me incentivaram à curiosidade, o aprender constante, com muita humildade. Renata Tannus foi minha mestra taquaritinguense, me orientou que na Arte da Dança a formação não se limita só à prática e sim em estudos teóricos. Batalhei muito até meu ingresso na Faculdade de Dança, onde colclui meu ensino superior. Considero que o aprendizado é constante, estou sempre me reciclando, meu lema é: aprender, observar e pesquisar.

TM: Como você descreve o desenvolvimento da dança em Taquaritinga?

Denise: Há muitas décadas o Conservatório Santa Cecília vem sendo considerado uma escola de alto nível, foi nesta instituição que iniciei meus estudos. Devido ao trabalho dos excelentes diretores, professores e coreógrafos que se destacaram e ainda fazem parte de renomadas escolas e companhias de Dança, que o Conservatório se tornou uma referência na região. Porém, mesmo tendo um bom nível de ensino, se restringia à categoria de “escola de dança”. No ano de 1992, as visionárias educadoras, Darci Ferrari de Camargo Lima e Angélica Malachias, me convidaram para participar da comissão que transformaria a escola de dança em “curso Técnico”: a ETAM Santa Cecília foi então aprovada e reconhecida pelo MEC, uma grande conquista para a cidade e toda a população, já que é a única escola técnica pública de Dança do País! Desde então, vem sendo desenvolvido trabalho de formação de bailarinos e professores, os quais fomentam diversas instituições de ensino público e privado, inclusive em universidades Estaduais e Federais.

TM: Em comparação com outras cidades da região, o incentivo à cultura em Taquaritinga é satisfatório?

Denise: A meu ver, o incentivo à cultura não é apenas responsabilidade da Administração pública (municipal, estadual e federal), também pertence à iniciativa privada e toda comunidade. Procuro dizer que uma cidade como Taquaritinga, que possui artistas e artesões, em diversas áreas, realizando obras maravilhosas, é uma cidade que possui cultura. O que falta para os artistas, não só de Taquaritinga, mas de uma maneira geral, é união, humildade, organização e centralização. Para isso, precisamos de conscientização da sociedade artística e dos gestores da política cultural. Outro aspecto importante é ter um “espaço cultural”, o que não possuímos. Há cinco anos, com o fechamento do Cine Teatro São Pedro, nossa cidade perdeu a única referência de espaço. Tenho fé que quando o projeto de transformá-lo em um centro cultural estiver concretizado, teremos um ‘up grade’ no que se refere à cultura. Alguns municípios vizinhos já estão um passo à frente por terem tanto espaços culturais como conselhos municipais de Cultura. Recentemente, foi lançada em Taquaritinga, no “Centro Etílico Cultural Gastronômico Burro Voador”, a semente para a formação do nosso Conselho, organização que dará um grande impulso introdutório da nossa cidade, na política cultural do nosso País.

TM: Quantas vezes você participou do “Dança Ribeirão”? Sentiu alguma evolução nos grupos taquaritinguenses?

Denise: Participo do “Dança Ribeirão” desde 1997. Na época, o Cine Teatro São Pedro era também nosso espaço de aulas, ensaios e gravações. Mover todas essas ações em um palco como o que tínhamos lá, amadureceu nossos bailarinos na Arte da Dança, os resultados foram extremamente positivos: várias premiações e boas críticas de jurados renomados da dança, tanto de minhas coreografias, como também dos meus parceiros Francisco Carlos Tibério e Helle Nice Raile Riccardi, o que não ocorre atualmente. Hoje, nosso espaço de trabalho se limita a uma sala de aula de dança e uma sala de estudo, com apenas 50 minutos hora/aula-ensaio.

TM: Seria viável organizar um "Dança Taquaritinga", guardadas as devidas proporções em relação ao evento ribeirão-pretano?

Denise: Não. Extremamente inviável, pois não temos sala para espetáculos.

TM: O seu trabalho na Oficina da Beleza (corte de cabelo, maquiagem, estética etc.) também pode ser considerado uma forma de manifestação artística?

Denise: Totalmente! Minha tesoura é como se fosse o “instrumento corpo”, sou coreógrafa dela no “espaço cabeça”, criando variados movimentos e estilos. Gosto de citar uma frase de Nietzsche: “Já que de arte nesta terra não se vive, que a arte ajude a fazer viver”.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Entrevista: Carlos Eduardo Sobral




 


Entrevistamos Carlos Eduardo Miguel Sobral, para os amigos, o Cacá. Nascido em Taquaritinga, filho do saudoso Dr. José Carlos Sobral e da professora Vera Marta, mudou-se ainda jovem para Ribeirão Preto, quando seu pai, juiz de Direito, assumiu a Vara da Infância e Juventude. Formado em Direito pela UNAERP, trabalhou como advogado até se tornar DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL em 2003, aos 26 anos. Iniciou sua carreira em Porto Velho, Rondônia, e está estabelecido em Brasília. Coordenou o combate à pedofilia e, hoje, tem a missão de coordenar o combate aos crimes eletrônicos, temas de grande importância na atualidade. Sempre que pode, vem à Taquaritinga para visitar familiares e amigos. Uma entrevista imperdível, recheada de aventura, informação e opinião.


Tendência Municipal: É notório que a Polícia Federal vem reconquistando a credibilidade junto à sociedade brasileira. Como descreve a PF de hoje?

Carlos Eduardo Sobral: A Polícia Federal é uma das instituições brasileiras de maior credibilidade junto à sociedade. Esse reconhecimento é fruto de muito trabalho e esforço de milhares de pessoas em todo País. Há alguns anos, a PF entendeu que possui importante – e fundamental – papel na construção da democracia e da cidadania. Ficou claro que somente viveremos em uma sociedade justa, fraterna e igualitária se conseguirmos enfrentar a criminalidade que corrompe o Estado, encarece obras e serviços públicos e ofende direitos e garantias individuais e coletivas. Assim, vejo a PF como uma instituição moderna, de vanguarda, que se reinventou para cumprir a difícil missão atribuída pela Constituição, com trabalho, honestidade, técnica e inteligência. Resumindo: a PF é composta por pessoas que se dedicam para fazer um mundo melhor. E que sabem o quanto foi difícil conquistar a credibilidade e o quanto é fácil perdê-la. Portanto, a PF não permite nenhum deslize ético ou moral de seus membros, por menor que seja.

TM: Como está o combate à pedofilia e aos crimes eletrônicos?

Cacá: Avançamos muito nos últimos anos. Em 2007 e 2008, quando fizemos as operações CARROSSEL I e II, demonstramos que a legislação brasileira não era boa para combater a pornografia infantil: enquanto prendemos mais de 500 pessoas no mundo todo, no Brasil somente cinco pessoas foram presas! Isso porque nossa lei estava atrasada. Após a CPI da Pedofilia do Senado, que tive a oportunidade de assessorar por dois anos, conseguimos aprovar a Lei 10.829/2009, que mudou radicalmente nossa realidade. Hoje, temos instrumentos legais para combater essa violência contra nossas crianças. Quanto aos crimes cibernéticos, temos excelentes resultados no combate às fraudes eletrônicas – furto de dinheiro por clonagem de cartões e serviços de internet banking. Após o “Projeto Tentáculos”, reduzimos as fraudes em mais de 65%, em apenas 10 meses! Evitamos que mais de R$ 170 milhões fossem desviados do Governo Federal. Agora, o que vem nos preocupando são os chamados “crimes de alta tecnologia”, os ataques contra sistemas de informação governamentais promovidos por hackers, com a intenção de destruir os sistemas ou divulgar dados sigilosos. Em junho, sofremos alguns ataques, sem grandes consequências. Estamos trabalhando para que não voltem a acontecer, com a atualização da legislação e, principalmente, com a criação de Delegacias especializadas em crimes cibernéticos em todos os Estados. Vamos criar a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética e Combate ao Crime para articular ações de prevenção e repressão entre centenas de órgãos da União, Estados e Municípios, que contará com a participação da sociedade civil. Trabalhamos, ainda, na construção da Convenção Internacional da ONU para combate aos crimes cibernéticos. O grupo de especialistas acabou de ser constituído, teremos dois anos para apresentar o texto e, graças aos excelentes resultados que a PF vem obtendo, fomos indicados para representar a América Latina. Será uma experiência ímpar para mim e para a PF poder contribuir no combate ao crime não só no Brasil, mas também em âmbito internacional.

TM: Uma de suas primeiras ações como delegado federal envolveu o caso dos assassinatos de garimpeiros por índios, no Estado do Mato Grosso. Conte-nos um pouco dessa experiência.

Cacá: Foi incrível. Havia acabado de tomar posse como Delegado, estava em meu gabinete de trabalho em Porto Velho quando, no final da tarde de uma quinta-feira, recebo ordem de meus superiores para embarcar, imediatamente, em um aviação rumo a Espigão do Oeste, pequeno município do interior de Mato Grosso, a 700 km dali. Fui ao aeroporto portando somente meu armamento pessoal. A informação dava conta de que algo grave acontecera na “Terra Indígena Roosevelt”. Minha missão era identificar o ocorrido e relatar a extensão dos danos. Na ida, os sinais de que a missão seria inesquecível... Como saímos no final da tarde, chegamos sem muita luz natural, o piloto não conseguiu encontrar a pista de pouso, na verdade, um descampado numa fazenda próxima, e ficamos voando em círculos por mais de 20 minutos. Lembro-me, com perfeição, da sensação de sobrevoar várias vezes e ouvir o piloto declarar: “não consigo achar a pista. Acho que teremos que voltar”. Como assim “não encontro” a pista?! Como assim “acho” que teremos que voltar?! Para mim, não havia muita dúvida: ou encontra a pista e desce ou volta, ficar sobrevoando até acabar o combustível não me parecia uma boa solução. O piloto desistiu e voltou a Ji-Paraná. Retornamos no dia seguinte, fui à Delegacia da Polícia Civil, encontrei dezenas de mulheres, desesperadas, anunciando que seus maridos, garimpeiros, haviam sido mortos pelos índios “cinta-larga”. Feito o relatório, a segunda surpresa: recebo ordem para permanecer e coordenar a busca pelos garimpeiros, no meio da floresta. Assim foi feito. Aguardei dois dias a chegada do helicóptero, pois o local era inacessível por terra. Fiquei quase quinze dias na missão, que era para ser um levantamento de algumas horas. Encontramos 30 corpos em estado de decomposição. Os garimpeiros mortos estavam retirando, ilegalmente, diamantes da reserva. Até hoje, passados oito anos, mantemos policiais federais para impedir a entrada de outros garimpeiros e o confronto com os índios. Trata-se de uma das maiores jazidas mundiais de diamantes.

TM: Qual sua avaliação sobre o sistema judiciário brasileiro?

Cacá: Melhoramos bastante, sobretudo com a criação do CNJ [Conselho Nacional de Justiça] e a fixação de metas de qualidade, mas há muito a evoluir. No Governo Federal, temos diversos mecanismos de controle, promovidos pelo Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União, além da nossa Corregedoria. A Justiça é indispensável para o Estado Democrático de Direito e, como qualquer serviço público, deve primar pelo princípio da eficiência. A Justiça deve se aprimorar, se reinventar para prestar um serviço de qualidade, rápido e efetivo, que garanta uma boa resposta aos problemas postos em disputa; buscar o equilíbrio para que o sagrado direito de defesa não se transforme no abominável abuso de direito. O juiz deve conduzir os processos de modo a apresentar uma rápida solução, visar a paz social. O magistrado não pode – não deve – pensar: “faço minha parte, se o processo não anda, o problema não é meu, mas do sistema”. Ele deve ficar atento ao princípio da oficialidade, aplicar penalidades aos litigantes de má-fé que abusam dos recursos para fazer chicanas. A Justiça deve ser mais enérgica neste sentido, sob pena de cair em descrédito. Concordo com a iniciativa do atual presidente do Supremo Tribunal Federal em restringir em somente duas as instâncias judiciais. Aliás, isso está implícito na Constituição. E as leis penais devem ser mais rígidas para crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. É falsa a ideia de que cadeia não é lugar para criminoso do “colarinho branco”; a cadeia é o melhor local para que esse tipo de criminoso encontre “coragem” para devolver os milhões de reais que desviou da sociedade. Parafraseando marquês de Beccaria, uma justa punição deve estar aliada à certeza de sua rápida aplicação, o que ocasiona a chamada “prevenção geral do crime”, ou seja, a possibilidade da contenção do ilícito pelo exemplo dado.

TM: Muitos de seus familiares têm ligações com a política. Seu pai foi vereador (em Taquaritinga e Ribeirão) e candidato a deputado estadual por duas vezes; seu tio, Dr. Bassoli, foi presidente da Câmara de Taquaritinga por três mandatos; seu irmão, Ricardo, assessorou o ex-presidente da Câmara Federal, Arlindo Chinaglia. Já pensou em se candidatar a algum cargo eletivo no futuro?

Cacá: Hoje, exerço o cargo público que escolhi para contribuir com a sociedade da melhor forma possível, com meu conhecimento, energia, trabalho e dedicação. Sem querer desprestigiar ou menosprezar os demais poderes, vejo o Poder Executivo como principal agente do desenvolvimento. É no Executivo que planos e ações governamentais são cumpridos; e os agentes do Estado são peças essenciais para que isso ocorra. O cargo que ora exerço me permite contribuir com a comunidade; deixo a arte da política, do exercício do mandado eletivo, do debate das idéias e da busca do consenso, para os que possuem a sensibilidade de compreender os anseios do povo e transformá-los em leis – para que nós, agentes públicos, possamos cumpri-las da melhor forma. No mais, o legado político deixado por meu pai já possui herdeiro: meu irmão Ricardo, vice-presidente do PT de Ribeirão Preto, além do meu primo Luisinho, dirigente do PT de Taquaritinga e filho do tio Bassoli. A família está muito bem representada por esses dois excelentes quadros políticos

TM: Que conselho daria aos taquaritinguenses que pretendem ingressar na Polícia Federal? O que esperar da profissão?

Cacá: Ingressar na Polícia Federal exige muito estudo, muito conhecimento, muita vontade de trabalhar e, principalmente, desprendimento e esforço para suportar dias, semanas, meses longe da família e dos amigos. Tem que estar disposto a exercer funções nos locais mais distantes do Brasil e no exterior. Ser policial é passar frio e fome no interior das florestas mais longínquas e também representar o País em fóruns e eventos internacionais, é estar, em certo momento, num local inóspito e perigoso e, em outro, nas mais bonitas e deslumbrantes cidades do mundo. Integrar a “família” da PF requer dedicação, lisura, honestidade, não compactuamos nem aceitamos deslizes ou arbitrariedades. Garanto que somos extremamente rígidos com nossos policiais para permitir que nos cobrem a mesma lisura. Ser policial federal é ter prazer em proteger as pessoas, a sociedade e o Estado, em detrimento da própria vida, se necessário. É sentir orgulho do que faz, ter vontade de fazer mais e melhor. Obrigado pela entrevista.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Entrevista: Eduardo Moutinho

Queremos parabenizar o nosso entrevistado da semana passada, DU ZUPPANI, por ter recebido o título de Honra ao Mérito, concedido pela Câmara Municipal de Taquaritinga, por ocasião das festividades do aniversário da cidade. Uma justa homenagem.



 


A entrevista desta edição é com Eduardo Henrique Moutinho. Notório advogado, PRESIDENTE DA SUBSEÇÃO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) de Taquaritinga, presidente do diretório municipal do PSDB e graduado membro da tradicionalíssima Loja Maçônica Líbero Badaró (“Grau 32”), foi nomeado pelo prefeito Paulo Delgado chefe do Comitê Organizador dos Jogos Regionais. Mantém boas relações com o governador Geraldo Alckmin e com deputados tucanos. Corintiano e, mais ainda, cateano roxo, se saiu bem como comentarista esportivo em transmissões dos jogos do Leão pelas três emissoras de Rádio da Cidade (Imperial, Canal 1 e Mensagem) e também pela Rede Vida de Televisão.



Aos 36 anos, nunca foi candidato a nenhum cargo público; apesar – ou por causa – disso, desponta como promissora opção para as eleições do ano que vem. Falamos de OAB, Fundação Edmilson, Jogos Regionais, futebol e política.


Tendência Municipal: Você está em seu segundo mandato à frente da Subseção da OAB de Taquaritinga. Que análise faz dessas gestões?

Eduardo Moutinho: Nos 30 anos de nossa Subseção, tivemos valorosos colegas à frente da classe. Nos últimos 10 anos, o número de Advogados aumentou muito, somos mais de 250 em Taquaritinga. Nossa preocupação tem sido o atendimento e auxílio a esses profissionais. Administrar a OAB é como gerir uma pequena empresa, contamos com mais de uma dezena de funcionários, em quatro locais: Casas da rua Duque de Caxias e do bairro Talavasso, Salas do Fórum central e do Trabalhista. Damos ênfase à questão cultural com a conquista da ESA (Escola Superior da Advocacia), brilhantemente coordenada por nosso Secretário-Geral, Dr. Gustavo Schneider Nunes, que oferece cursos de atualização e aperfeiçoamento a Advogados da cidade e região. A ESA propiciou a climatização do auditório da Casa do Talavasso, antiga reivindicação, e foi fundamental para revitalizar aquele espaço, onde colegas se confraternizam semanalmente com o Futebol Society – em breve, colocaremos em funcionamento a sauna. A disponibilização de internet em todos esses espaços também foi uma grande conquista, imprescindível para o exercício da Advocacia. Reconheço que existem deficiências, mas quase que na totalidade atribuíveis ao Judiciário, em especial a lentidão da prestação jurisdicional. Recentemente, tivemos avanços para minimizar a situação com a criação do Anexo Fiscal, que retirou dos cartórios cíveis aproximadamente 10 mil processos. A solução virá com a 3.a Vara, uma luta incessante da nossa Diretoria.

TM: Uma das preocupações dos advogados é evitar a “politização” da OAB. Como manter a Ordem inume às influências político-partidárias?

Eduardo: Acredito que afastar a “política” da OAB é impossível, por estarem umbilicalmente ligadas, afinal foi a OAB que, depois de longos e negros anos de ditadura, empunhou e sustentou bravamente a bandeira da redemocratização. Todavia, é possível evitar a “partidarização” da Ordem e isso fica bem claro na atual Diretoria: eu sou presidente do diretório municipal do PSDB; o vice-presidente, Dr. Luisinho Bassoli, era, quando da nossa primeira eleição, presidente do diretório do PT; nosso Diretor-Tesoureiro, Dr. Roberto Ogasawara, é atuante no PPS; e o Secretário-Adjunto, Dr. Gustavo Gabriel, é de família tradicional nas lides do PMDB. Além do pluripartidarismo, temos evitado a utilização da mídia; como presidente da OAB, poderia buscar espaço na imprensa para ganhar visibilidade, contudo, temos um compromisso maior com os que nos confiaram a importante missão de conduzir a classe – fomos reeleitos com 79% dos votos.

TM: Você se empenhou em fazer da Fundação Edmilson “entidade de interesse público federal”. Como foi essa “batalha” e o que essa conquista significa?

Eduardo: Muitas pessoas contribuíram para que a Fundação fosse reconhecida de Utilidade Pública Federal. Como Conselheiro da Fundação, acompanho diariamente o trabalho realizado e seu alcance social. Infelizmente, alguns conterrâneos ainda imaginam que a Fundação Edmilson ensina a criançada a jogar futebol. Desse modo, sentia a necessidade de fazer algo mais pela entidade, algo que fosse tangível e duradouro. Trazer o ex-ministro da Justiça, Dr. Márcio Thomaz Bastos, para uma palestra na comemoração dos 30 anos da OAB, no auditório da Fundação, e colher dele, publicamente, o compromisso de apadrinhar nosso projeto, foi providencial para a conquista, que propicia isenção de tributos federais e o abatimento de doações no Imposto de Renda. Isso gera economia e estimula a prospecção de novas receitas. Convido as pessoas para visitar a Fundação, e que o façam de surpresa. Ficarão encantadas com o que irão encontrar.

TM: Fale-nos sobre a organização dos Jogos Regionais.

Eduardo: Há aproximadamente um ano recebi do prefeito Paulo Delgado e do secretário de Esportes Marcelo Volpi o convite para ser presidente do Comitê Organizador dos Jogos Regionais. Em princípio, hesitei em aceitar, em razão das inúmeras atribuições profissionais, familiares e sociais. Mas, como sempre, veio aquele pensamento: “bom, daqui a pouco a vida passou e eu, o que fiz?”. Por isso, topei a empreitada e sei que fui a peça menos importante para que tudo saísse tão bem como saiu. O comprometimento das pessoas envolvidas foi fundamental, a cada período tínhamos preocupações distintas: alojar 8.000 pessoas, reformar as praças esportivas, a cerimônia de abertura... Fiquei angustiado com a cobrança desleal que recebíamos, não conseguia entender os excessos, a necessidade de alguns de querer ditar o ritmo das coisas. Queriam que “comprássemos o bolo” hoje e ainda faltavam 100, 90 dias para a festa! Com o sucesso absoluto dos Jogos, os elogios (até constrangedores) dos visitantes, e principalmente a sensação de missão cumprida, comprovamos o velho – e atual – ditado de que “a união faz a força”. Tenho o dever de externar meus agradecimentos, na pessoa do atual secretário de Esportes José Mário Frezza, a todos os funcionários municipais, e, na pessoa do Major Almeida, a todos os amigos do Comitê Organizador, que trabalharam incansável e voluntariamente.

TM: Em sua opinião, qual deve ser a relação da Administração municipal com o Estado e a União?

Eduardo: A relação deve ser como tem sido, de simbiose, de auxílio recíproco. É preciso que os interesses coletivos se sobreponham às vaidades e às questões políticas menores. Infelizmente, há quem não se dá conta de que as eleições duram apenas 90 dias. A atual Administração tem dado mostra de que é possível, e eficaz, buscar melhorias para a cidade, independentemente do partido do gestor público. O maior exemplo é a conquista da UPA. Não é porque a presidente da República é do PT e o prefeito é do DEM que o Governo Federal vai fechar as portas para Taquaritinga. Aliás, os próprios dirigentes do PT local foram fundamentais para essa e outras conquistas, como a construção de uma creche, SAMU, etc. No âmbito estadual, o relacionamento com os governadores do PDSB, antes Serra e agora Alckmin, tem rendido frutos, como os apartamentos da CDHU que vão ser construídos na Vila São Sebastião e o AME, que será referencia regional na área da Saúde.

TM: Você pretende disputar a indicação para ser o candidato da base política do prefeito para sucedê-lo?

Eduardo: Essa é uma pergunta que muitos me tem feito desde que assumi a presidência do diretório municipal do PSDB. Antes, devo esclarecer que sou filiado ao partido há quase 10 anos e que assumi a presidência para evitar que houvesse disputa pela direção nas convenções de março. Como o meu nome representava o consenso e a unidade, aceitei a missão. O PSDB tem o vice-prefeito Dr. José Maria e os vereadores Marcelo Volpi e Pastor Daniel; a relação PSDB/DEM, a exemplo dos níveis federal e estadual, é a mais amistosa possível e, em não havendo sobressaltos, deve prevalecer. Quanto a ser candidato, confesso que fico feliz que meu nome tem transitado, com aceitação, mas não é uma decisão fácil. Tenho convicção de que posso ser útil à minha cidade, só que não tenho obsessão pelo cargo. Falando em “obsessão”, estamos na fase de mudanças de partidos e filiações, devemos observar o que alguns são capazes de fazer para “chegar lá”, pois é um prenúncio do que farão se chegarem lá. Tudo tem seu tempo – o futuro a Deus pertence.

TM: Caso se confirme sua candidatura, quais seus principais projetos?

Eduardo: Não é preciso ser candidato para ter projetos, basta uma análise das nossas necessidades e virtudes para identificar algumas frentes a serem atacadas. A Saúde, sempre falada, à partir da UPA e do AME, terá um salto de qualidade. Na Educação, a valorização dos professores deve ser constante, devemos investir na qualificação dos educadores. Quanto ao Desenvolvimento, é inegável que temos duas vocações: agroindústria e serviços. Nos serviços da Educação, difícil encontrar uma cidade do nosso porte, de cerca de 60 mil habitantes, que possua, como nós, mais de 20 cursos de nível superior. A primeira semente lançada foi a ETE, há vinte anos. Hoje, temos FATEC, ITES, Uniesp, ETAM; devemos lutar por unidades do SESC, SESI, SENAI, a qualificação da mão-de-obra é imprescindível para atrair empresas. Recebemos centenas de alunos de fora todos os dias, além dos que moram aqui, que geram receitas no comércio. Na agroindústria, temos vivido um bom momento: a aquisição da Via Néctare pelo grupo mexicano Proeza e seu fortalecimento garante a absorção da safra de manga e goiaba, devendo surgir, em breve, incentivo ao plantio de maracujá e abacaxi, culturas ainda tímidas na região. A retomada das atividades da antiga Royal Citrus, hoje Branco Perez e arrendada à Cutrale, “fecha o ciclo” da citricultura (laranja e limão). Lamento não termos nenhuma usina de açúcar e álcool, mas acredito que a união de nossos produtores seja capaz de superar isso, daí a importância do Sindicato Rural. Ainda na agroindústria, considero importantes nossas indústrias de carne, que criam empregos e receitas, como São Luiz, Ema, Marba, e Boi Bom, que está construindo uma fábrica no Parque Industrial. Nesse setor, todavia, não estamos “fechando o ciclo”, pois perdemos o Frigorífico e a Lemaq. Alguém dirá que nossas terras são caras para a pecuária, mas sempre foram. O importante é que as indústrias estão aqui e por isso ganhamos em logística. É preciso batalhar para a retomada dessas atividades (frigorífico/abatedouro/laticínio) e fazer a roda girar.

Uma última pergunta: o CAT tem jeito?

Eduardo: Pra encerrar, o CAT tem que ser visto sob a ótica do Esporte e Lazer. Nosso Taquarão precisa ser remodelado; com criatividade e poucos recursos, que podem vir dos governos federal e estadual, é possível transformá-lo numa bela Arena. É necessário aumentar a capacidade do Ginásio de Esportes Manoel dos Santos; durante os Regionais, muito não conseguiram entrar, estava sempre lotado, principalmente nas partidas de vôlei e futsal. Assim, teríamos o Complexo Dr. Adail Nunes da Silva, com novo e grande ginásio multiuso e uma moderna Arena para futebol. Queremos ver e vibrar com nosso CAT, de perto, como fazíamos no Antonio Storti.