quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entrevista: Guto Santaella

  Nosso entrevistado é José Augusto Santaella, o Guto. Nasceu em Taquaritinga em 1969, casado com a Cristiane Pilon, pai da Nicole, da Núbia e do Enrico. Aficionado pelo mundo da eletroeletrônica desde criança, dos pioneiros a se enveredar pelos incipientes caminhos da informática – nos anos 1980, já dominava a tecnologia da época. Mudou-se para Ribeirão Preto e, com 15 anos, começou a trabalhar no ramo, “consertando” todo tipo de equipamento: aparelho de som, vídeo-cassete, televisores etc. Apaixonado por música, toca violão, guitarra e bateria. Na adolescência, foi baterista de uma sofisticada banda de rock ribeirão-pretana, a “Orchidea”, que se apresentou, com sucesso, em vários festivais.
Formou-se, primeiro, Técnico em Eletrônica pelo colégio técnico da UNAERP e, depois, graduou-se em Engenharia Mecatrônica pela Unianhanguera de Matão, onde reside e mantém a empresa Brasil-Drones, especializada em alta tecnologia. É mais um exemplo aos jovens de Taquaritinga por sua força de vontade, lisura, competência e cordialidade. Nesse bate-papo, expôs seus projetos, relembrou suas histórias, falou sobre tecnologia, música, Ribeirão, Matão e Taquaritinga.


Tendência Municipal: Fale-nos do mais recente projeto desenvolvido por sua empresa, o VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado.

José Augusto Santaella: Sempre estive envolvido no meio tecnológico. Há um ano, já com alguma credibilidade no meio acadêmico e de máquinas, fui procurado pelo engenheiro agrônomo gaúcho – e doutorando – Ademir Wendling, que me fez uma consulta sobre uma aeronave que tinha visto em teste na Argentina. Sem conhecer a aeronave, descrevi todo seu funcionamento, daí ele me perguntou: “Você faz uma dessas pra mim?”. E eu, para não perder a “fama”, disse: “Sim, sem problemas...”. Aprofundei-me no estudo e aplicações dos Veículos Aéreos Não Tripulados e, no mesmo momento, vislumbrei meu futuro nessa tecnologia. Finalmente, com a ajuda de outros engenheiros que também “não dizem não” a um bom desafio, conseguimos uma plataforma básica para desenvolvimento de VANTs por entusiastas ou acadêmicos. A tecnologia que empregamos é fiel a todos os conceitos desses aparelhos. O que tento fazer é fomentar esse mercado, buscar novos talentos para somarmos os conhecimentos adquiridos. Essa tecnologia é de extrema importância ao Brasil, dada nossas vastas fronteiras. Nossa presidenta Dilma tem o tema na ponta da língua! O assunto é praticamente desconhecido do público em geral, que só se lembra dos VANTs norte-americanos “bombardeando o Iraque e o Afeganistão” e pode pensar que se trata só de uma arma. Pelo contrário! Sou um pacifista, em minha mente, os vejo sendo usados na agricultura (fotos aéreas e outros sensores), monitoramento de florestas e rodovias, combate ao tráfico de drogas (são praticamente invisíveis em vôo), TV, cinema, geração de energia (sim, VANTs podem ter essa finalidade!). Esses “robôs voadores” têm muito a oferecer à sociedade.

TM: Você mantém relação com a eletroeletrônica desde criança. Como descreve o desenvolvimento tecnológico brasileiro dos anos 1980 até os dias atuais?

Guto: Não posso deixa de citar: venho de uma geração que estava fadada a uma política equivocada, que foi muito maléfica ao desenvolvimento do Brasil e de brasileiros como eu, ávidos por conhecimento. Me refiro à “Reserva de Mercado da Informática”, instituída por volta de 1984, que se findou só em 1991, um verdadeiro flagelo tecnológico. Consegui driblar esse “limitante” com o trabalho, tive meu primeiro computador em 1985, um TRS-80; em 1987 já trabalhava com informática, me concentrava no hardware. Nessa época, aconteceu a única pirataria a que fui favorável: via importação ilegal, tive contato com o que havia de melhor no mercado, o IBM PC. Nos anos 90, com o fim da reserva, é que realmente podemos dizer que o Brasil apareceu para o mundo da informática. Empresas ligadas ao antigo modelo simplesmente sumiram e milhares de brasileiros talentosos apareceram – e brilham – a cada cidade, inclusive em Taquaritinga. Já nos dia atuais, volto a me frustrar um pouco, pois, agora, é o mercado mundial que parece sofrer algum tipo de “reserva”. Quem me conhece sabe que eu dizia que “usar mouse e teclado” estava com os “dias contatos” e que o usuário “falar” com o computador e ele executar, era o mínimo que teria que fazer. Mas isso ainda não ocorreu. Se você vasculhar suas caixas no porão e encontrar aquele “disquete” de 3,5 polegadas, inseri-lo no seu PC novinho em folha, vai entender o que digo ao ver que roda normalmente! É o poder econômico acima da ciência, não tenho outra explicação.

TM: Em sua opinião, de que forma uma administração municipal pode contribuir para o avanço da Ciência e Tecnologia?

Guto: Penso que nesse aspecto, se nossa Taquaritinga deseja ser bem vista, tem que ter como prioridade duas coisas: Educação de qualidade e professores valorizados – e não se tem uma sem a outra! Deve estabelecer uma política que incentive as feiras de ciências em todas as unidades escolares, públicas e privadas. Desde criança, a ciência está presente, de forma latente, no homem, o seu despertar pode vir de várias formas; nas crianças estão engenheiros, arquitetos, pesquisadores, doutores, em estado bruto... É dever do município revelar e SEGURAR esses talentos, pois disso depende a criação de sua “massa crítica tecnológica”. Aí sim, transformar e iluminar a sociedade e, claro, abrir novas empresas – não só desse setor, como também atrairá investimentos diversos. Tecnologia é uma excelente propaganda, um ciclo virtuoso.

TM: Matão tem tradição industrial, notadamente no ramo do agronegócio e siderurgia. Você acredita que a cidade possa evoluir para se tornar um tecnopolo, a exemplo de São Carlos?

Guto: Sim. Hoje, o número de novas empresas na cidade de Matão aumentou muito, todas utilizando máquinas de tecnologia de ponta, adquiridas com recursos do governo federal, através do BNDES. A exemplo de São Carlos, Matão já conta com uma universidade que oferece cursos de alta tecnologia, como Engenharia Mecatrônica, Mecânica e TI [Tecnologia da Informação], além de um forte ensino profissionalizante com a ETEC, que oferece cursos de Eletrônica, entre outros. Temos, também, uma unidade do SENAI, que consolida Matão como fonte de força de trabalho altamente qualificada e especificada no setor industrial.

TM: Na juventude, em Taquaritinga e Ribeirão, você empunhava seu violão e sua guitarra e se mostrou um virtuoso baterista. Conte-nos um pouco dessa experiência. Ainda se envolve com a música? E, por fim, não podia deixar de perguntar: gosta de “música eletrônica”?

Guto: Musica é uma paixão, na juventude não me conformava em ouvir, tinha que tocar! Acho que o Luisinho [Bassoli] se lembra que, em 1986, ficou uma guitarra minha no seu guarda-roupa por uma semana... (risos). Em Ribeirão, no fim do colégio, tive a sorte de conhecer três caras muito talentosos e bacanas: Ricardo, Vladimir e Moacir, que me convidaram para formar a banda “Orchidea”. Nos finais de semana, eu estava sempre em Taquaritinga, era muito requisitado para as serenatas, onde o Cecéu [Marcelo De Paula] geralmente era o vocal. Já em Ribeirão, eu era o baterista; nesse instrumento é que consegui “melhores resultados”, vamos assim dizer... E como a banda era autoral, não tocávamos músicas de “outras” bandas (não fazíamos “cover”), ali tive a mais incrível experiência musical que se pode ter, que é tocar a própria música, ver o público cantar e dançar ao seu som – isso foi muito bom, nunca me esquecerei! Se eu gosto de música eletrônica? Sim, mas a dos anos 1990, “Technotronic”, “Information Society”, “Pet Shop Boys”... (risos). Hoje, ando afastado da bateria, para sorte dos vizinhos e da Cris, minha esposa, mas o violão e as guitarras estão sempre à mão...

Brasil Drones: www.brasildrones.com.br

2 comentários:

  1. Adorei a entrevista, voltei ao passado e revivi muitos momentos da adolescência, pois o Guto sendo primo e a Cris amiga, sempre estávamos juntos. Desde aquela época, sabíamos que seu futuro seria traçado na música e na eletrônica, ambos com muto sucesso, e o tempo comprovou isso!

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  2. Fico feliz que mais um taquaritinguense tenha optado pela pesquisa e alcançado seus objetivos! Pena que tenha que ter ido embora para alcançá-los.

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