sábado, 19 de novembro de 2011

Entrevista: Ico Pagliuso

  Entrevistamos Pascoal José Giglio Pagliuso, o Ico Pagliuso. Filho do engenheiro Alfredo Pagliuso e da bióloga e professora Dona Zezé, casado com a analista de sistema Priscila Basso e pai da Luah, é um dos mais importantes físicos do Brasil. Graduado em Física pela Unicamp, é mestre, doutor e professor livre docente da instituição. Concluiu pós-doutorado no Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA, centro de excelência que passou para a história por ter desenvolvido o Projeto Manhantan, codinome para a construção das primeiras bombas atômicas, lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki para por fim à Segunda Guerra.
Desde criança, se destaca nos estudos, mostrando uma inteligência incomum. Destacou-se, também, na música, como virtuoso baixista da banda de rock Decreto-Lei, que fez sucesso nos anos 1990. Intelectual da mais alta estirpe, profere palestras e conferências nas melhores universidades do mundo, sempre a viajar por EUA, Canadá, Europa. Encontra-se no momento nos Estados Unidos, dando sequência às suas pesquisas na Universidade da Califórnia (campus de Irvine). O mais importante, contudo, é que mantém uma humildade exemplar. Encontramos um espaço em sua atribulada agenda para apresentar aos nossos leitores-internautas este agradável bate-papo.


Tendência Municipal: Você construiu uma carreira acadêmica sem precedente na história de Taquaritinga. Aos 37 anos, se tornou um dos mais jovens Livre Docentes da Unicamp, uma das melhores universidades do País. Nos fale dessa trajetória.

Ico Pagliuso: Na verdade, é uma trajetória comum a muitos dos meus colegas da Unicamp, da USP e de outras universidades de renome internacional. Foi baseada em muita dedicação, noites em claro no laboratório e amparada pela excelência do corpo docente e da infraestrutura de pesquisa da Unicamp.

TM: Como foi sua estada nos EUA, no "mítico" Laboratório Nacional de Los Alamos?

Ico: Foi extremamente gratificante tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Os conhecimentos adquiridos naquele período no desenvolvimento de novos materiais permitiram que o meu grupo na Unicamp se tornasse complemetamente independente, adquirindo liderança autônoma de prestígio internacional nessa área. Pessoalmente, é suficiente dizer que minha única filha nasceu lá.

TM: A pergunta inevitável: qual sua opinião sobre as bombas atômicas lançadas na Segunda Guerra e sobre as armas nucleares em geral?

Ico: Não creio que alguém possa ser deliberadamente favorável ao uso de armas nucleares. Como cientistas, é nosso dever analisar criticamente as possíveis consequências de nossas pesquisas. O próprio Oppenheimer, líder do Projeto Manhantan, viveu amargurado após testemunhar as consequências hediondas de sua pesquisa. Historicamente, é preciso lembrar, sem intenção de justificar, que os cientistas do Projeto Manhantan trabalhavam sob a impressão de que os nazistas estavam perto de controlar a energia nuclear e de produzir bomba atômica a qualquer momento.

TM: O Brasil alcançou papel de destaque na geopolítica internacional, mas, paradoxalmente, nenhuma de nossas universidades consta entre as melhores do mundo. Por quê?

Ico: Na minha opinião, pela própria dimensão territorial e populacional do Brasil, a sua maior inserção geopolítica internacional é uma consequência natural, na medida em que o País vai alcançando um desenvolvimento sustentável. Já o destaque científico-acadêmico é consequência direta do mérito. Assim, para se melhorar nessa direção é preciso muito investimento na excelência da formação acadêmica e na produção de ciência e tecnologia. Isso começa com a melhoria da educação fundamental e se concretiza na excelência acadêmica das universisades com pesquisa de ponta. Isoladamente, o Brasil conseguiu atingir esse patamar em algumas áreas. O próprio reconhecimento internacional do nosso grupo de pesquisa na Unicamp é um singelo exemplo disso.

TM: Quais seus projetos atuais, agora que retornou aos EUA?

Ico: Estou como pesquisador convidado na Universidade da Califórnia, na cidade de Irvine, em colaboração com o grupo do Professor Zachary Fisk, buscando a amplicação da nossa colaboração na produção de novos materias supercondutores.

TM: Física e música combinam? Que tipo de música escuta no dia-a-dia, continua roqueiro?

Ico: A Música é uma consequência direta das leis da Física. A Harmonia acontece quando comprimentos de ondas específicos são combinados adequadamente. Sempre uso exemplos sobre música nas minhas aulas. Também mostro fotos do Decreto-Lei em aulas e palestras. As pessoas acham graça quando associam o "baixista cabeludo" com o "palestrante quase careca"... Honestamente, continuo ouvindo as mesmas bandas de sempre: Iron Maiden, Led Zeppelin, Metallica, Deep Purple, Ozzy Osborne... Em relação ao último, dias atrás eu fui à livraria Barnes&Noble, em Huntington Beach, Califórnia, para pegar o autógrafo dele no meu exemplar do seu último livro "Trust me: I am Dr. Ozzy". Leitura que eu recomendo. É hilário!

5 comentários:

  1. Ser conterrâneo do Ico é motivo de orgulho para todo taquaritinguense. Taí um cara que nossos netos aprenderão nos livros de física e nossos bisnetos nos livros de história. É gênio, indiscutível...

    ResponderExcluir
  2. Muitas saudades dos tempos do Decreto-Lei e do "9 de Julho"....mais uma vez, ao ler o "Tendência Municipal" meu coração se enche de orgulho por encontrar mais um colega da infância brilhando; no caso do Ico, desde a primeira série, já sabíamos que teria um caminho iluminado! Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Parabéns tendência municipal.
    Sou suspeito para opinar sobre o entrevistado, mas mesmo assim vou arriscar.

    "Será que pintou o primeiro nobel brasileiro?"

    Esse é o cara !!!

    ResponderExcluir
  4. Pascoal é um cientista diferenciado e sobretudo um ser humano fantástico como se pode esperar de um físico com a sensibilidade de um músico como ele. Tive o imenso prazer de conviver com ele quando morei em Los Alamos e até hoje comento com minhas filhas sobre o equilíbrio entre o conhecimento e o caráter de um pesquisador dando sempre ele como um dos maiores exemplos que conheci neste sentido. Ainda muito jovem sempre foi divertido e muito cordial. A Luah tem um exemplo de pai dedicado e preocupado com ela desde a gravidez da Priscila. Um forte abraço e me orgulho muito de ter conhecido pessoas como você. Vi você conquistar seu lugar de forma natural e quase que predestinada dada sua dedicação e genialidade. Um beijão de nós três, Dapaz, Victoria e Nicole. Parabéns pelo merecido e quase óbvio sucesso que você sempre alcança.

    ResponderExcluir